Sobras
A sobra em todas as situações é o agente aferidor do nosso ajustamento à Lei
Eterna que estatui sejam os recursos do Criador divididos justificadamente por
todas as criaturas, a começar pela bênção vivificante do Sol.
É assim que o leite a desperdiçar-se, na mesa, é a migalha de alimento que
sonegas à criancinha órfã de pão, tanto quanto a roupa a emalar-se,
desnecessária, no recanto doméstico, é o agasalho que deves à nudez que a noite
fria vergasta.
Por isso mesmo, é pelo supérfluo acumulado em vão que começam todos os nossos
desacertos perante a Bênção Divina.
Formações miasmáticas invadem-te o lar pelos frutos apodrecidos que recusas à
fome dos semelhantes; prolifera a traça na moradia, pelo vestuário que segregas
a distância de quem sofre a intempérie; multiplicam-se víboras e espinheiros na
gleba que guardas, inútil; arma-te a inveja ciladas soezes, ao pé de patrimônios
materiais que reténs, sem qualquer benefício para a necessidade dos outros, e,
sobretudo, os expoentes da criminalidade e do vício senhoreiam-te a vida, nas
horas vagas em que te refestelas nos braços da ilusão, exaltando a leviandade e
a preguiça.
Não olvides, assim, que toda sobra desaproveitada nos bens que desfrutas, por
efeito de empréstimo da Providência Maior, se converte em cadeia de retaguarda,
situando-te pensamentos e aspirações na cidadela da sombra. E, repartindo com o
próximo as vantagens que te enriquecem os dias, seguirás, desde a Terra, pelos
investimentos do amor puro e incessante, em direitura à Plenitude Celestial.
Emmanuel