Prisão ou Absolvição

À porta do foro, o juiz Carmo Neto dizia ao advogado Luís Soeiro:

– Você poderá, sem dúvida, funcionar na defesa, mas, na condição de juiz e de espírita mais experiente, não posso compreender a maneira pela qual você observa o caso... O réu é homicida e ladrão, abateu o próprio tio para roubar... Não sou a favor da pena de morte, nem posso aprovar a prisão perpétua. Deus nos livre de semelhantes flagelos!

Mas entendo que esses delinqüentes são enfermos do espírito, requisitando segregação.

Alguns anos de escola e de tratamento reajustam os doentes dessa espécie... Não podemos libertar loucos furiosos...

A própria Lei Divina nos concede na reencarnação os meios precisos de reajuste.

Contudo, o advogado, espírita recentemente chegado à Doutrina, observava:

– Doutor, mesmo assim defendê-la-ei gratuitamente, com todas as minhas forças, acreditando servir à caridade... Não concordo absolutamente com prisão para ninguém...

– Aprecio a sua atitude – volveu o magistrado –, como espírita, igualmente não aprovo a cadeia, o castigo, a violência, mas os delinqüentes de grandes crimes são doentes perigosos que precisamos apartar da sociedade para a adequada assistência.

Chegada a hora do julgamento, o Dr. Luís Soeiro falou com tanta emotividade e eloqüência, com tanto carinho e amor fraterno que o réu foi absolvido por unanimidade.

O feito foi comemorado festivamente.

Decorridas algumas semanas, o advogado e a esposa desembarcaram, alta noite, em cidade próxima, de visita a familiares.

Caminhavam na rua deserta, quando um desconhecido avança sobre a senhora indefesa.

O marido reage, grita por socorro, ajuntam-se populares e o homem é preso.

Foi então que o Dr. Luís Soeiro verificou, espantado, que o assaltante era o cliente para o qual havia conseguido a liberdade.


Hilário Silva