Filhos do Pai do Céu

As chuvas torrenciais castigaram a cidade. Deslizamentos, casas sendo levadas pela enxurrada.

O noticiário não demorou a mostrar as cenas tristes de pessoas que tinham perdido tudo que tinham: da casa ao seu conteúdo, incluindo roupas, calçados, alimentos.

Enquanto os bombeiros realizavam o serviço de busca e salvamento, nos abrigos começaram a chegar os voluntários.

O grupo de senhoras, que costumava se reunir, semanalmente, para a atividade assistencial, no templo religioso, logo se deslocou para um deles.

Corações apertados, a vontade que tinham era de fazer coro ao choro de tantos que chegavam.

Uns, desalentados por terem visto as águas barrentas levarem o pouco que, durante a vida, tinham conseguido adquirir.

Outros se mostravam aflitos por não saberem se parentes, amigos ou vizinhos haviam sido resgatados.

Habilidosas, no entanto, dividiram-se em equipes. Umas se puseram a preparar a refeição para alimentar tantas pessoas.

Outras, peregrinavam, entre os colchões estendidos no chão do grande colégio, consolando aqui, ouvindo as dores ali.

Quando a chuva cessou, enquanto as equipes de salvamento ainda buscavam resgatar desaparecidos, as senhoras permaneceram em sistema de revezamento, no auxílio àquelas almas.

Era preciso separar os donativos, relacionar necessidades, distribuir o que fosse mais urgente.

E o que se verificou, nos dias seguintes, foi a grande mobilização da população. Donativos vinham de todas as bandas.

Material de construção, móveis, roupas, alimentos, brinquedos, trazidos pelas mãos de comerciantes, industriais, ou simplesmente gente que apanhava o que tinha em casa e vinha oferecer.

Arrefecido um pouco o impacto da tragédia, que enlutou famílias, castigou corações amigos, levou de roldão muitas esperanças, o grupo de senhoras resolveu fazer algo diferente.

Decidiu preparar um almoço, especial, diverso do habitual cardápio.

E todas se esmeraram.

Como os dias natalinos estivessem próximos, resolveram providenciar pequenos mimos e brinquedos para a criançada.

E, no domingo, tudo aconteceu. Uma mesa festiva, cardápio diferenciado, incluindo sobremesa generosa.

Quando estavam reunidos, uma das voluntárias pediu licença e convocou todos a unirem seus pensamentos e seus corações em prece.

Ante o silêncio natural que se fez, ela ergueu a voz e suas frases falavam de gratidão.

Obrigada, Pai de todos nós. Agradecemos o alimento, a vida, o dia que nos permites viver.

Agradecemos a generosidade de tantos que nos brindam com suas doações e com suas presenças.

Obrigada, Senhor, Nosso Pai.

Um menino, com seu brinquedo nas mãos, aproximou-se dela e perguntou se todos os presentes eram mesmo filhos desse Deus para quem ela rezara e agradecera tão bonito.

Emocionada, abraçou o pequeno e respondeu: Sim, todos somos filhos de Deus.

Ele pareceu incrédulo, mas completou: Eu não sabia que tinha um Pai no céu. Pai de toda gente.

E nem sabia que a gente podia conversar com Ele desse jeito. Que coisa mais legal!

Em meio ao caos, uma lição a mais a um coração infantil: a existência de um Pai generoso e bom.


Momento Espírita