No Prefácio de Wallace, a Conexão com Kardec
Wallace Leal V. Rodrigues, em maio de 1968, assinou o Prefácio do Tradutor,
na edição da Casa Editora O Clarim naquele mesmo ano, do livro Viagem Espírita
em 1862, que retrata as viagens de propagação doutrinária e visitação a grupos
espíritas, efetuadas por Allan Kardec. A obra é uma preciosidade pela riqueza de
exemplos e de orientação aos grupos espíritas de seu tempo, riquíssimas
igualmente para os tempos atuais. Basta imaginar como seria ouvir palestras do
próprio Codificador do Espiritismo.
Os 160 anos dessas viagens estimula nova leitura ou releitura da obra, bem como
sua ampla divulgação, considerando a lucidez nas reflexões, afirmações e
considerações do Codificador. Vale ressaltar que o tradutor na obra publicada
pela Editora o Clarim (a obra também está editada e disponível pela FEB, por
outro tradutor), o citado Wallace, foi redator chefe da citada instituição por
mais de 30 anos, publicando igualmente obras de reconhecido valor doutrinário de
sua autoria, além das inúmeras traduções e valiosos prefácios em diferentes
obras.
Nosso objetivo na presente abordagem, porém, se concentra no último parágrafo do
citado documento assinado pelo tradutor. Assim ele conclui o Prefácio de duas
dezenas de páginas:
“(...) A Viagem Espírita de 1862 é obra em que, de singular maneira, o homem
Allan Kardec se nos revela com sua consciência histórica e, em súbitos clarões,
permite que o vejamos bem próximo de nós, o ser que já realizou o que
intentamos, isto é, a substancial reforma interior que, só ele, possibilita a
mágica interação: a criatura vivendo no Espiritismo, o Espiritismo vivendo na
criatura.”
Notem a expressão: mágica interação, acrescida da importante reflexão: a
criatura vivendo no Espiritismo, o Espiritismo vivendo na criatura. Ora! Esse o
objetivo: perfeita conexão entre o conhecimento e o comportamento, na coerência
que todos buscamos face ao que já conhecemos. É o que se vai encontrar nas
experiências vividas pelo Codificador nas visitas efetuadas a vários grupos
espíritas de seu tempo. Os 160 anos dessas vivências precisam e devem ser
recordadas até como exemplo para os dias atuais.
Antes do relato da primeira visita, o próprio Kardec incluiu suas Impressões
Gerais, relatando o ambiente agradável em reuniões onde reina a fraternidade. E
acentua: “(...) Reuniões desta natureza se multiplicarão sem dúvida à medida em
que a verdadeira finalidade do Espiritismo for melhor compreendida. Essas são,
igualmente, as que fazem a mais frutuosa e mais sólida propaganda, pois que
reúnem pessoas bem-intencionadas e preparam a reforma moral da Humanidade
pregando pelo exemplo (...)”. Uma bela ligação com o comentado Prefácio de
Wallace.
Orson Carrara