Mamom e Jesus

Anelando pela felicidade dos fiéis católicos em Praga, capital da República Tcheca, então pertencente à Germânia, Jan Hus adotou a pregação do Evangelho de Jesus na simplicidade do idioma do povo necessitado e pobre do país, de modo a exaltar a vida e propiciar paz a todos.

A intolerância religiosa então vigente persegui-o com impiedade, por todos os meios possíveis, culminando em levá-lo ao Concílio de Constança, na Alemanha, engendrado pelos seus inimigos sob o comando do cardeal Antony, que o detestava, havendo sido queimado vivo no dia 6 de julho de 1415.

Estando enfermo com pneumonia, resultado dos maus-tratos sofridos na prisão, padeceu humilhações incomuns praticamente sem o direito a qualquer defesa.

Sob a fúria dos adversários da Verdade e usurpadores da fé cristã, um ano depois, no mesmo lugar, após sofrer as garras fortes do Concílio, um outro sacerdote que amava os seus coetâneos, Jerônimo de Praga, o principal discípulo do mártir Jan Hus, foi também julgado e queimado vivo em 30 de maio de 1416.

A inclemente perseguição era dirigida ao sacerdote inglês John Wycliffe, professor da Universidade de Oxford, grande teólogo e reformador religioso que abalou a Europa nos séculos XV e XVI, havendo tido a coragem de traduzir a Bíblia ao inglês que lhe guarda o nome como seu título.

Era muito difícil, então, seguirem os filhos de Deus os ensinamentos de Jesus.

A perseguição da ignorância estava em toda parte, resultante dos interesses escusos em que Mamom desempenhava o papel fundamental no poder e na glória terrenas.

Antes deles, incontáveis aprendizes do Evangelho foram imolados por optarem pelo caminho da simplicidade, da renúncia aos bens terrenos e pelo amor com abnegação.

Depois deles, igualmente muitos e afetuosos cristãos foram dilacerados e martirizados em razão da sua fidelidade ao Homem da Cruz, em desobediência do Senhor da mitra ou um dos seus áulicos em diversas partes do mundo.

As extravagâncias do poder temporal de Roma, com os seus sucessivos escândalos e ambições exageradas, tornou a mensagem de Jesus difícil de ser compreendida e amada, não obstante os mártires prosseguirem exercendo o ministério do amor e doando suas preciosas existências aos crucificadores e exterminadores.

A Lei do Progresso, que é inevitável e impossível de se deter, alterou o processo da evolução sociocultural na Terra e, lentamente, veio igualando todos os eres humanos que foram separados na adoção da mentira e poderes terrenais e das verdades eternas, chegando-se ao período do total afastamento entre a Ciência e a Religião.

A dominante fé cega foi constrangida a ceder passo aos fatos que se tornaram constatados pelos investigadores da Ciência, ampliando os horizontes do Universo e da vida em si mesma com extraordinários benefícios para o planeta e as criaturas que o habitam.

As teorias absurdas, descendentes da ignorância e do obscurantismo, foram sendo abandonadas pelas pesquisas intérminas no organismo da sociedade e nos laboratórios especializados.

Espíritos nobres reencarnaram, a fim de contribuírem em favor da elevação dos costumes, mediante a cultura nas mais variadas expressões do sentimento.

Vive-se a atualidade, apesar das indiscutíveis conquistas do pensamento e das ciências, mantendo-se a aparente obediência às Leis de Deus e, às ocultas, desprezando-as quando antes não se desvelavam.

Os conflitos permanecem na sociedade, cujos porões escondem as perseguições contínuas e inomináveis, mantendo a crueza dos sentimentos quais ocorreram no passado.

A pena de morte foi suspensa em muitas nações, que, no entanto, prosseguiram matando nas suas armadilhas bem disfarçadas.

Em consequência, os crimes hediondos continuam em estatísticas assustadoras, indefinidos, sem solução...

Nesse ínterim, Jesus retornou conforme prometera aos Seus discípulos como o Consolador, e o aparente silêncio das tumbas foi substituído pelas vozes proclamadoras da Imortalidade.

Médiuns e estudiosos sinceros do Espiritismo renasceram e saíram a demonstrar a grandeza de Deus ante as ofertas de Mamom, convidando vidas estioladas e laureadas à defesa da Vida.

Uma sinfonia incomum tomou conta da atmosfera e, em toda parte, essas vozes em triunfo prosseguem conclamando o novo tempo de Jesus para a Humanidade ansiosa por beleza, saúde e paz.

Periodicamente, as distrações do caminho, as artimanhas de Mamom convidam à falência e tombam alguns numa luta renhida de qualquer tipo, mesmo alcançando-se a vitória, o campo fique juncado de cadáveres...

Nesta longa batalha, cada lutador tombado é substituído por outros que prosseguem valorosos, sem temerem, incansáveis no seu devotamento ao Bem.

Eis porque estes são dias de difíceis comportamentos saudáveis.

A mentira assume autoridade pelo fascínio que exerce. Mas a verdade lentamente impõe-se e cria o reino de justiça e de alegria real, num prenúncio do futuro de bênçãos.

Enquanto isso não ocorre aumenta a loucura pessoal e coletiva.

Os ideais de solidariedade são substituídos pelo individualismo ególatra, e cada qual se propõe a usufruir do prazer imediato, como se a finalidade da existência fosse a exaustão, o sono para novo mergulho na fuga da realidade.

A verdade é imbatível e nada consegue vencê-la, embora a obnubilem em algumas ocasiões, mediante os artifícios e ilusões propiciados pela própria transitoriedade orgânica.

Qual Sol após noite, sempre se apresenta dominadora vencendo o ciclo.

Cuidado com as canções embriagadoras de Mamom e as suas empresas auxiliares, que marcham ao lado dos astutos ludibriadores do pensamento na sua constante busca do gozo físico.

Tudo passa, menos o Amor de Deus.

Não duvides do êxito que te está reservado pela Sabedoria Divina.

É irrefreável a sucessão das horas e invencível a lucidez da consciência, onde estão escritas as Leis de Deus...

Alegra-te, ante os desafios do existir e utiliza-te deles para cresceres em moral e sabedoria.

...E se algum dia sentires o teste da solidão, do sofrimento que te pareçam superiores às tuas forças, refugia-te em Jesus, que nunca nos deixa a sós.


Vianna de Carvalho