Escravidão e Liberdade
Em todas as épocas da Humanidade, o ser humano, mantendo em predomínio o seu
instinto de conservação da vida, procurou submeter o outro, com medo natural de
ser-lhe vítima.
Desde priscas eras, o bruto, o forte, o déspota, o astuto exerceram a dominação
física e, às vezes, mental, sobre o seu próximo.
No período em que vivia exclusivamente sob o controle dos instintos básicos:
comer, dormir e reproduzir-se, dominado por estranhos impulsos, sempre buscou
ser superior aos seus contemporâneos, lutando com ferocidade pelo próprio
bem-estar, mesmo que a prejuízo dos demais, que não lhe merecem consideração.
Esse comportamento foi o gerador das guerras calamitosas, que ainda hoje
constituem terrível câncer na sociedade.
A escravidão foi um dos recursos utilizados pelos povos beligerantes que, ao
venceram aqueles considerados adversários, pagavam alto preço para continuarem a
vida em situações indignas e cruéis.
Alguns povos tornaram-se vítimas de outros por séculos, como no caso dos judeus
que foram escravizados pelos egípcios e babilônios, os primeiros por
quatrocentos anos.
Na Idade Média, tivemos guerras intérminas, como a dos Trinta Anos, a dos Cem
Anos e ódios que ainda permanecem em muitas nações.
O denominado Colonialismo é herança espúria desse sentimento primário que tem
explorado os povos submetidos, mantendo-os na miséria, enquanto são levados à
exaustão, ao aniquilamento.
A escravidão negra é um desses fenômenos históricos mais lamentáveis.
Quando, após a Revolução Francesa de 1789, ensejou-se o sonho da liberdade,
igualmente inata no ser humano, as leis do progresso voltaram-se para essas
vítimas e concederam a libertação, sem facultar meios para a sobrevivência,
mantendo incontáveis infelizes livres sob as suas degradantes administrações.
Nesse sentido, o Brasil foi o último do Ocidente a conceder o direito de vida,
através da Lei Áurea, a quarta elaborada e firmada pela Princesa Isabel.
A verdade é que ainda hoje muitos dos descendentes afro-brasileiros não
encontraram oportunidade de viver com a dignidade que as leis lhes permitem.
Libertados os seus ancestrais, esses ficaram em aglomerados miseráveis sem
trabalho, nem possibilidade de estudar, estigmatizados e oprimidos.
A célebre Madame Roland, grande revolucionária de França, traída e condenada à
guilhotina, antes de ser assassinada, gritou: Oh! Liberdade, liberdade, quantos
crimes se cometem em teu nome!
Essa liberdade dominada pelos poderosos constitui uma vergonha para a cultura e
a civilização que estertoram.
Divaldo Franco