Canção do Serviço
Ouve, alma irmã:
Se pretendes realizar
Uma empresa de amor,
Não te deites à sombra do pesar,
Nem te ponhas a ouvir
O peito fatigado e sofredor...
Para elevar e redimir,
Varar e edificar,
Em demanda ao porvir,
Sempre melhor sorrir que lastimar.
Sobre a terra, trabalha com teu sonho,
Como o escultor brunindo a pedra bruta,
E nos dias do círculo enfadonho
De amargura, tristeza, cinza e luta,
Lembra-te sempre disso:
Tudo o que a vida guarda
De belo, grande e bom
É força de bondade inflamada em serviço...
Se a calúnia te espia,
Serve mais, dia a dia.
Esmera-te a esquecer aquilo que te ofende,
Pois quem ama, em verdade,
Naquilo em que se agrade ou desagrade,
Tanto mais serve quanto mais compreende.
Se a injúria te atrapalha e a incompreensão te humilha,
Lê a doce cartilha
Que a Natureza escreve, maternal:
Da lama ao céu, por Lei de Clemência
O serviço domina
Onde o bem vence o mal.
O regato que alenta
Frondes, frutos, raízes,
Tanto quanto sustenta
As serpentes e os mormos inferes,
Serve cativo ao chão...
A planta que supre o martírio da fome
Nasce, cresce, trabalha e se consome,
Torturada e esquecida
Sem aguardar qualquer compensação,
Para suster-te a vida.
O Sol dissipa as trevas sem barulho,
Dá-se, esplendora e, sem que a noite o vença,
Serve, triunfante e bom, sem migalha de orgulho,
Da cúpula anilada, acolhedora e imensa,
Às furnas abismais!...
Se queres atingir a concretização
Dos teus mais belos ideais,
Alma irmã, serve mais!...
E, alcançando a vitória,
Do teu sonho na senda transitória,
Perceberás, então,
Por mais servir e mais aprimorar-te,
Que a presença de Deus, onde transites,
É serviço brilhando em toda a parte
Para o bem sem limites.
Maria Dolores