Súplica de Todos
Companheiros enganados
São tantos que, ás vezes, penso
Que ninguém conseguiria
Enumerá-los num censo
A nomes de cada um...
Enquanto estive na terra,
Via este quadro comum:
Nas sendas por onde vão,
Nunca soube o que pediam
Por dentro do coração.
Passavam como eu passava,
Uns de carro, outros a pé,
Muitos deles se arrastavam
Clamando falta de fé.
Quantos nobres cavalheiros
Seguiam de fronte erguida,
Intentando dominar
As fontes da própria vida!...
Outros muitos caminhavam,
Face triste e passo lento,
Revelando sem palavras
Amargura e sofrimento.
De muitos, eu me afastava,
Ao vê-los em grandes crises,
Agressivos, revoltados,
Coléricos e infelizes...
Quantas mulheres passavam
Arquitetando aventura!...
Guardava comigo a idéia
De vê-las arrebatadas
Aos turbilhões da loucura.
De muitas somente ouvia
Os mais arrojados planos
Para conquista de laços
Que acabam em desenganos,
Outras seguiam adiante,
Indiferente à vida,
Tristes irmãs desprezadas,
De alma doente e sofrida.
Via passar homens fortes
Sob estranho cativeiro,
Queriam ouro e mais ouro,
Atolados em dinheiro.
Fitava moças e moços
Parecendo, mais ou menos,
Alucinados da Terra,
Usando estranhos venenos;
Quantos deles se mostravam
Irresponsáveis? Não sei.
Sabia apenas notá-los
Por irmãos fora da lei.
Em minha severidade,
Culpava filhos e pais,
Minhas censuras a esmo
Subiam cada vez mais.
No entanto, a morte surgiu,
Transformou-me, de repente,
Foi então que vi, de perto,
As lutas de tanta gente...
Esses passantes do mundo
Que encontrara, face à face,
Nunca haviam merecido
Palavra que os condenasse.
Morando agora, no além,
Conheço, em alta razão:
Ninguém caminha na terra
Buscando reprovação.
Sei hoje a grande verdade
Que sinto e não sei expor:
Todos nós, dentro da vida,
Pedimos somente amor.
Maria Dolores