Anjos Desconhecidos
Há guardiões espirituais que te apoiam a existência no plano físico e há
tutores da alma que te protegem a vida na Terra mesmo.
Freqüentemente, centralizas a atenção nos poderosos do dia, sem ver os
companheiros anônimos que te ajudam na garantia do pó. Admiras os artistas
renomados que dominam nos cartazes da imprensa e esqueces facilmente os braços
humildes que te auxiliam a plasmar, no santuário da própria alma, as obras
primas da esperança e da paciência. Aplaudes os heróis e tribunos que se
agigantam nas praças, todavia, não te recordas daqueles que te sustentaram a
infância, de modo a desfrutares as oportunidades que hoje te facilitam. Ouves,
em êxtase, a biografia de vultos famosos e quase nunca te dispões a conhecer a
grandeza silenciosa de muitos daqueles que te rodeiam, na intimidade doméstica,
invariavelmente dispostos a te estenderem generosidade e carinho.
Homenageia, sim, os que te acenam dos pedestais que conquistaram, merecidamente,
à custa de inteligência e trabalho; contudo, reverencie também aqueles que
talvez nada te falem e que muito fizeram e ainda fazem por ti, muitas vezes ao
preço de sacrifícios pungentes.
São eles pais e mães que te guardaram o berço, professores que te clarearam o
entendimento, amigos que te guiaram a fé e irmãos que te ensinaram a confiar e
servir... Vários deles fazem agora, na retaguarda, acabrunhados e encanecidos,
experimentando agoniada carência de afeto ou sentindo o frio entardecer; alguns
prosseguem obscuros e devotados, no amparo às gerações que retomam a lide
terrestre, enquanto outros muitos, embora enrugados e padecentes, quais cireneus
do caminho, carregam as cruzes dos semelhantes.
Pense nesses anjos desconhecidos que se ocultam na armadura da carne, e, de
quando em quando, unge-lhes o coração de reconhecimento e alegria. Para isso,
não desejam transfigurar-se em fardos nos teus ombros. Quase sempre, esperam de
ti, simplesmente, leve migalha das sobras que atiras pela janela ou uma frase de
estímulo, uma prece ou uma flor.
Emmanuel