De Retorno ao Caminho
Em plena vida espiritual, antes de tornar ao terrestre sorvedouro,
contemplamos a paisagem do mundo em que nos propomos realizar complicados
serviços.
Lá se encontra o antigo lar que deixamos, velho ninho dourado pelo sol de nosso
amor e encharcado da lama de nossos escuros débitos.
E, disputando o regresso para a obra de regeneração que nos cabe efetuar,
prometemos sacrifícios mil.
É o coração amado que desejamos auxiliar no reajuste doloroso, hipotecando
cooperação e carinho para abreviar-lhe os sofrimentos...
É a conta que esperamos resgatar integralmente, lançando ao futuro os nossos
votos de abnegação.
É o inimigo multissecular que pretendemos converter em irmão, ao preço de nossa
renuncia suprema...
É a coleção de afetos e desafetos que insistimos em receber, metamorfoseados em
filhos de nossa ternura, para conduzir, montanha acima, à feição de flores e
espinhos, jóias e pedras sobre o próprio peito...
E, aqueles que se elegeram orientadores do nosso destino, endossam-nos o
apelo...
Voltamos, com a veste carnal que escolhemos e conquistamos as situações e os
recursos de que nos supomos necessitados para a tarefa que nos elevará.
Mas, ai de nós!
Tão logo a matéria densa nos cobre parcialmente a visão, olvidamos, à pressa, os
compromissos assumidos.
E esquecemos promessas, entusiasmos e afirmações edificantes que constituíam a
base de nossos planos redentores.
Novamente na carne, deixamo-nos iludir pelas requisições do pretérito e , ao
invés de procurar o conselho do amor que tudo compreende e tudo ilumina,
buscamos as falaciosas opiniões do “eu” enfermiço do passado que teimamos
retomar.
E o adversário continua adversário, a desarmonia prossegue desarmonia e a treva,
sem alteração, tudo ensombra, mergulhando-nos em desespero cruel.
Ó vós que guardais, por sublime depósito, as verdades do Além, auxiliai-nos a
sustentar o serviço do Amor! Redimamos o passado que sentimos vivo e atuante
dentro de nós. Somente o fogo do sacrifício conseguirá extinguir os
remanescentes de nossos velhos erros e, assim sendo, permaneçamos valorosos e
leais à Divina Vontade, na cruz de nossas obrigações santificantes, na abençoada
certeza de que, além do monte empedrado e triste de nossos aflitivos
testemunhos, brilha, infindável e divina, a celeste alvorada de nossa eterna
ressurreição.
Emmanuel