Os Ingratos
O processo evolutivo da criatura humana dá-se por intermédio de duas
vertentes: a inteligência e o sentimento.
A sabedoria que todos buscamos alcançar é a conquista intelecto-moral, na qual o
conhecimento e a emoção atingem patamares de identidade elevada.
O progresso intelectual é relativamente mais fácil de ser adquirido, por
constituir a grande horizontal da existência, enquanto o de natureza moral,
através da libertação dos vícios e da autoiluminação, é mais lento, portanto,
mais difícil de ser conseguido.
Entre os títulos de enobrecimento que se deve alcançar nessa luta de crescimento
espiritual, destaca-se a superação das heranças egoicas, especialmente aquelas
que dizem respeito à ingratidão.
Numa sociedade individualista, os esforços movimentados quase sempre são de
exploração do outro, de utilização dos seus valores sem qualquer respeito pela
sua pessoa.
As afeições são estruturadas na base dos interesses mesquinhos e utilitaristas,
sem a presença das emoções nobres derivadas do amor, que deve viger em todos os
relacionamentos.
Cada um desses inadvertidos acredita-se merecedor de consideração e de cuidados
que estão longe de possuir. Enquanto esperam ser aceitos no grupo social,
fazem-se gentis, simpáticos e credores de merecimento. Quase sempre conquistam
as criaturas educadas e bondosas que existem em grande quantidade. Lentamente,
porém, se vão desvelando na soberba, na presunção, na autovalorização e
distanciando-se daqueles que o envolvem em carinho e o ajudam no processo de
crescimento.
Apresentam a outra face, aquela que realmente os caracteriza, não mantendo o
devido sentimento de amor e de retribuição que o outro lhe merece.
Qualquer arrufo, torna-os antipáticos, frios e deselegantes.
Sem a menor consideração, fazem-se grosseiros, crendo-se superiores e arrogantes
mediante atitudes violentas ou desprezíveis em relação àqueles que os ampararam,
socorreram, compartiram auxílios, dignificando-os.
A atual é a cultura da ingratidão, e, por isso, vive-se a sós, alterando o
procedimento quanto se tem necessidade de algo que deseja alcançar, sabendo como
reconquistar aqueles que foram maltratados e abandonados pela sua prosápia.
Como consequência, a arte e ciência de ajudar vai se tornando escassa e muitas
pessoas de boa formação moral receiam envolver-se com novas amizades que lhes
poderão trazer desencanto e amargura.
Nada obstante, não te deixes envenenar pelos seus humores infelizes e permanece
gentil, fazendo sempre o melhor do bem em favor do próximo.
Esses que assim agem, imaturos e déspotas, aprenderão com o tempo que a lei do
progresso tem suas raízes no amor e um dia alterarão a forma de ser.
Mas tu, sê sempre bondade.
Divaldo Franco