Considerações Sobre a Cura
Tudo quanto nasce, morre. É uma fatalidade inderrogável.
A vida, para viver, exige energia, e todo o processo vital, à medida que
desempenha o mister, gasta-se, consome-se.
Todos os seres vivos, em consequência, nascem, vivem, enfermam, envelhecem e
morrem.
Nesse panorama que se manifesta nos seres sencientes, tem lugar a dicotomia
saúde/doença.
Nas criaturas humanas, esse fenômeno transcende o impositivo fundamental,
dependendo do ser, em si mesmo, muito mais do que da fatalidade biológica.
O Espírito é sempre o responsável por todas as manifestações que surgem na
organização molecular. É ele que modela o corpo de que se utilizará durante o
périplo carnal, nele imprimindo as suas necessidades morais de acordo com o
programa da evolução. É, desse modo, o agente responsável pelo equilíbrio ou
destrambelho celular. A ocorrência tanto pode acontecer por ocasião das
manifestações patológicas congênitas, como também sem qualquer influência da
hereditariedade. Em muitas ocasiões, por impositivo da Lei de Afinidade, o
Espírito é atraído para os futuros genitores, junto aos quais tem compromissos
que lhe oferecem os genes propiciatórios à instalação das formas degenerativas
ou não, de que se revestirá para os resgates que lhe são necessários.
A presença, portanto, dos fenômenos graves, de disfunções teratológicas, decorre
dos títulos infelizes referentes aos comportamentos desastrosos em existências
transatas.
Concomitantemente, em razão dos males praticados, vincula-se às vítimas que
ficaram maceradas na retaguarda e não tiveram resistências morais para perdoar o
que lhe sofreram, sendo atraídas pelo impositivo da identidade fluídica e
vibratória, dando lugar aos transtornos obsessivos, às vezes, antes do berço...
Confundem-se, inevitavelmente, os gravames, dando lugar aos processos
lamentáveis das doenças de variada etiologia, ampliadas pelas influências
espirituais daqueles infelizes ora transformados em algozes inclementes.
Desde priscas eras, os seres humanos, inspirados pelos Espíritos nobres,
compreenderam essa intercorrência, dando origem ao xamanismo, às pajelanças, por
cujo conhecimento da vida espiritual elaboraram alguns processos de cura das
enfermidades derivadas do convívio com os desencarnados em sofrimento.
Variando de denominação, os mortos influenciavam os seres humanos, sendo
afastados, quando tal acontecia, através de métodos compatíveis com o seu estado
de lucidez ou de ignorância.
Surgiram, então, os cerimoniais, os exorcismos, as técnicas variadas que o
Espiritismo aprimorou nos memoráveis diálogos com os desencarnados nas reuniões
mediúnicas especializadas, através de sensitivos adestrados e devotados à
prática do bem.
Jesus, por conhecer a causalidade das ocorrências, usava a Sua autoridade moral
para aplicação da terapêutica do amor, libertando os enfermos não somente das
influências maléficas, como também das deformidades e degenerescências
orgânicas.
Os extraordinários casos de pacientes cegos, surdos e mudos, da atormentada
hemorroíssa, do portador de mão mirrada demonstram o Seu poder de agir nos
tecidos sutis do períspirito, precipitando o movimento das moléculas que
restauravam os órgãos, Nada obstante, sempre advertia aos recém-curados que
preservassem a saúde moral, a fim de não insculpirem no organismo danos mais
graves em decorrência da conduta insana.
A enfermidade, no entanto, não é um castigo ou punição divina de que o seu
padecente se deve libertar de imediato. Possui uma função mais significativa,
que é trabalhar os valores morais, aprimorá-los, enquanto desenvolve
resistências íntimas para os futuros embates evolutivos…
Na atualidade, graças às conquistas da ciência e da tecnologia médica, aos
saneamentos básicos, às contribuições da alimentação correta e aos programas de
exercícios equilibrados, várias enfermidades dizimadoras têm recebido
consideração adequada, algumas das quais já foram eliminadas, enquanto a vida
física tornou-se mais longa e melhor... Entretanto, porque não tem havido
correspondente desenvolvimento moral, equilíbrio ético nos relacionamentos e
serviços de dignificação, proliferando os vícios dourados, a frivolidade e os
desvios para os crimes, alguns hediondos, as mentes em desvario têm criado
outras graves e dolorosas enfermidades que cobram elevados preços à insensatez e
à irresponsabilidade.
Pululam os transtornos emocionais, os de natureza psíquica, assim como os
tormentosos fenômenos cardiovasculares, neoplásicos, gástricos, ao lado dos
males degenerativos e infecções que atingem cifras alarmantes.
O Espiritismo chegou à Terra para iluminar as consciências e consolar as emoções
em desespero, sustentando os fracos e fortalecendo-os para oferecer conforto aos
desesperados pela ausência física dos afetos que a morte lhes arrebatou do
convívio, para curar os corpos e proporcionar bem-estar para um bem viver
aprazível.
A fim de ser conseguido o mister, a Revelação Espírita objetiva, essencialmente,
o trabalho de renovação moral para melhor de cada qual, de construção
edificante, assim como o amealhar de valores edificantes.
A cura das enfermidades, antes de ter prioridade no conceito espírita, é menos
relevante, porque possui um caráter secundário ante o impositivo precípuo do
paciente, o Espírito, do qual procedem as ondas vibratórias contínuas que lhe
proporcionam o equilíbrio ou o desconserto celular.
Comprova-se em outras áreas, na ciência médica, que o pensamento é portador de
força ainda não totalmente mensurada.
A sua intensidade sobre a organização física, emocional e psíquica responde
pelas ocorrências na área da saúde.
Cada um vive, portanto, sem dar-se conta no continente mental e experiencia na
forma física tudo quanto cultiva no pensamento.
Contribuir-se espiritualmente para que as pessoas despertem para a sua realidade
é dever que se impõe a todo discípulo do Evangelho restaurado, que advoga a Lei
de Causa e Efeito como responsável por todos os acontecimentos humanos.
Prometer-se curas mediante as técnicas fluidoterápicas é maneira ineficaz para a
boa propaganda da Revelação dos Imortais.
O paciente recuperado que se não modifica interiormente volta à ribalta do
sofrimento em decorrência da irresponsabilidade. Demais, nem todo doente se
recuperará, em razão da necessidade evolutiva no estágio de resgate em que se
encontra, vivenciando expiação redentora.
É compreensível a busca e a oferta de milagres na área da saúde. No entanto, a
atitude correta é sempre a da cura interior, da instalação da saúde espiritual,
que sempre proporciona paz e alegria, mesmo quando sob a injunção do sofrimento.
A biomédica, por sua vez, recomenda que a saúde integral é preservada quando os
indivíduos mantêm condutas saudáveis, tanto do ponto de vista físico como
emocional, cultivando pensamentos elevados que proporcionam clima de alegria e
de paz.
O cultivar de tormentos de qualquer natureza, desde a moderna e vulgar área do
erotismo, assim como da drogadição em fuga da realidade, a manutenção das
paixões dissolventes, a cultura do ressentimento e do ódio, da competição
desleal para a conquista das migalhas financeiras e dos destaques ilusórios na
sociedade, evidentemente criam transtornos nas neurocomunicações, com a
consequente presença de tóxicos mentais que desorganizam o raciocínio e
contribuem para alguns distúrbios emocionais e também orgânicos.
A somatização de problemas responde pela presença de diversas enfermidades
geradas pelo comportamento do paciente, dando lugar aos distúrbios gástricos,
respiratórios, cardíacos e psicológicos.
A saúde mental é essencial para a conquista das outras expressões de bem-estar.
Conscientizar o indivíduo em torno dos seus compromissos para com a existência e
a grave responsabilidade pela atual reencarnação deve ser o comportamento de
todo aquele que deseja exercer a mediunidade curadora, auxiliando na causa de
todos os fenômenos, ao tempo em que poderá fomentar a contribuição fluídica, a
fim de atenuar ou liberar o sofrimento daqueles que buscam a paz.
Mantendo, porém, o esclarecimento de que a cura de um órgão não significa saúde
real, porque o problema moral não resolvido ressurgirá em outro aspecto, em
forma de nova doença.
Conversações de significado nobre, convivência fraternal, labor em favor do
próximo, esforço pessoal para o cultivo do bem-estar, hábito da oração que eleva
o ser a dimensões superiores da Vida, constituem a terapêutica preventiva para
todos os males, ao mesmo tempo curativa, quando estão instalados os problemas na
área da saúde.
Caberia repetir o provérbio latino elaborado pelo poeta romano Juvenal: Mente sã
em corpo saudável.
Portanto, o compromisso do Espiritismo, embora a sua valiosa contribuição nos
problemas da saúde humana, é com a modificação moral de cada ser, a aquisição do
equilíbrio interior que se manifestará em forma de harmonia.
Além do mais, ter-se sempre em vista que uma existência, mesmo saudável, por
mais longa que seja, alcança o final, consumida pela fatalidade da morte ou
desencarnação.
Estar-se preparado para o Mais-além é a proposta sublime da Revelação dos
Imortais.
Manoel Philomeno de Miranda