A Prece
A oração não será um processo de fuga do caminho escuro que nos cabe
percorrer, mas constituirá uma abençoada luz em nosso coração, clareando-nos a
marcha.
Não representará uma porta de escape ao sofrimento regenerativo de que ainda
carecemos, mas expressará um bordão de arrimo, com o auxílio do qual superaremos
a ventania da adversidade, no rumo da bonança.
Não será um privilégio que nos exonere da enfermidade retificadora, ambientada
em nosso próprio templo orgânico pela nossa incúria e pela nossa irreflexão, no
abuso dos bens do mundo, entretanto, comparecerá por remédio balsamizante e
salutar, que nos renove as energias, em favor de nossa própria cura.
Não será uma prerrogativa indébita que nos isente da luta humana, imprescindível
ao nosso aperfeiçoamento individual, todavia, brilhará em nossa experiência por
sublime posto de reabastecimento espiritual, suscetível de garantir-nos a
resistência e o valor na tarefa de renunciação e sacrifício em que nos cabe
perseverar.
Não será uma outorga de recursos para que os nossos caprichos pessoas sejam
atendidos, no jardim de nossas predileções afetivas, contudo, será uma
dispensação de forças para que possamos tolerar galhardamente as situações mais
difíceis, diante daqueles que nos desagradam, em sociedade ou em família,
ajudando-nos, pouco a pouco, a edificar o santuário da verdadeira fraternidade,
no próprio coração, em cujo altar amealharemos o tesouro da paz e do
discernimento.
Ainda mesmo que te encontres no labirinto quase inextricável das provações
inflexíveis, ainda mesmo que a tua jornada se alongue sob o granizo da discórdia
e da incompreensão, em plena sombra cultiva a prece, com a mesma persistência em
empregas na procura diária da água para a sede e do pão para a fome do corpo.
Na dor, ser-te-á divino consolo, na perturbação constituirá tua bússola.
Não olvides que a permanência na Terra é uma simples viagem educativa de nossa
alma, no espaço e no tempo, e não te esqueças de que somente pela oração
descobriremos, cada dia, o rumo que nos conduzirá de retorno aos braços amorosos
de Deus.
Jean Baptiste H. de Lacordaire em “Pensées”: Le bonheur est la vocation de
l’homme. A felicidade é a vocação do homem.
Emmanuel