Desejos
A palavra desejo lembra vontade, que inclusive é uma de suas definições. É a
vontade de possuir algo, de alcançar um objetivo, de ir ou estar em algum lugar,
de desfrutar de algum benefício, posição, cargo, título ou até um apetite
alimentar e mesmo uma atração sexual.
Digamos, em síntese, que trata-se de uma aspiração humana. A própria conjugação
do verbo indica: ter vontade, sentir desejo, entre outras definições.
Entre o desejo e a conquista – seja do que for – há um espaço enorme que
envolvem providências, conveniências, precipitação, capacidade, utilidade,
possibilidade e outros tantos desdobramentos que não é difícil imaginar e
elencar.
É quando entra a disciplina de um propósito sempre esquecido: a educação do
desejo.
Afinal, como discipliná-lo correta e coerentemente? Como transformar esse
sentimento de querer numa fonte de alegrias para si mesmo e para muitos? As
situações são variadas, claro, individuais e coletivas.
A educação, por sua vez, mais que instrução que se adquire, está na moralização
dos próprios hábitos e comportamentos, que redundem em polidez, fraternidade,
moralidade e intenso esforço de melhorar a si mesmo e simultaneamente beneficiar
aqueles que estão à nossa volta, em qualquer momento ou situação.
É exatamente pela ausência dessa educação do querer que temos vivido o caos
social da indisciplina e do desrespeito às mais elementares noções de civilidade
e cidadania. Fruto, sem dúvida, da ausência de construção sólida desde a
infância do querer educado. Tarefa dos educadores, mas não restrito a eles, pois
que inicia-se com os pais e amplia-se para os adultos em geral. Guardamos todos
o dever de transmitir às crianças os bons exemplos de civilidade, de desejos
educados e disciplinados.
O desejo simplesmente liberado, sem refletir sobre consequências e
desdobramentos, sem respeito à presença ou interesses alheios, tem sido um dos
fatores da violência na vida social.
Se pensarmos bem, as agressões – inclusive as econômicas e sexuais – são
resultantes dos desejos desenfreados, alheios ao respeito que devemos uns aos
outros e mesmo à indiferença aos sentimentos de outras pessoas. É o desejo
desordenado, comparável à direção de um veículo sem freios ou à montaria de um
animal desesperado que não controla os caminhos que vai atravessando.
É mesmo o descontrole das emoções convertidas nos desejos, que aguarda a
correção da educação. Isso lembra as paixões.
A paixão não é um mal em si mesma, pois que da própria natureza humana. Mas, ela
a paixão está no excesso acrescentado à vontade. E podemos acrescentar: o abuso
que delas se faz que causa o mal.
Voltamos à questão do desejo educado. Afinal, as paixões são como um cavalo que
é útil quando está dominado, e que é perigoso, quando ele é que domina.
Reconhece-se, pois, que uma paixão torna-se perniciosa a partir do momento em
que não podemos governá-la e que ela tem por resultado um prejuízo qualquer para
vós ou para outrem.
Podemos notar, com facilidade, a questão, pois, da vontade, do desejo e do
controle sobre ele.
Quando descontrolado e domina, torna-se um mal.
Uma paixão por uma invenção, por exemplo, dominada pela disciplina, pelos
estudos e pesquisas, que elimina o fanatismo e nutre o ideal a que destina, é
extraordinária no alcance do objetivo.
Por outro lado, o desejo descontrolado, por exemplo, de uma atração sexual e,
portanto, sem domínio que gera o raciocínio, pode gerar traumas e tragédias,
sofrimento e lágrimas.
É a educação do desejo! Saber desejar, direcionar a vontade.
A causa maior, contudo, da presença de um desejo descontrolado, está, todavia,
no egoísmo. Claro que a precipitação, o não amadurecimento, o não equilíbrio
emocional apresentam-se como ingredientes de expressão, afinal do egoísmo deriva
todo o mal. Sim, se pararmos mesmo para pensar num desejo descontrolado, em
qualquer área, que gera sofrimentos, no fundo está o egoísmo do interesse
pessoal. No fundo está o desrespeito com o sentimento alheio.
Orson Carrara