Sucesso
A cultura contemporânea, firmada em conceitos utilitaristas e materialistas,
estabelece que o objetivo essencial da existência humana é alcançar-se o
sucesso. Esse sucesso se desenha como sendo a glória, o destaque na sociedade, a
fortuna, o poder, o pódio. Não importam os meios utilizados para o logro desse
objetivo. O fundamental é fruir-se a situação invejável, dispor-se de meios para
o conforto exagerado, o brilho da fama...
Interrogado, oportunamente, a respeito de como via socialmente o ser humano
ocidental, o Dalai Lama teria respondido que se trata de um indivíduo que na
juventude e no período adulto trabalha afanosamente para enriquecer e na
velhice, quando ou se a alcança, gasta tudo para livrar-se dos conflitos e
distúrbios de vária ordem...
A falta de valor da vida no seu significado profundo leva multidões ao ledo
engano do triunfo temporário da beleza, da inteligência, dos prazeres diversos,
especialmente os de natureza sexual.
A ânsia para essa tormentosa conquista faz com que o sucesso real, aquele que
reside no caráter ilibado, nas ações nobilitantes, na conquista de si mesmo,
seja considerado como fraqueza moral, covardia ante a disputa enlouquecida nas
trilhas diversas das paixões inferiores.
De pouco valor são os louros das vitórias trabalhadas na insensatez, na traição,
na conduta indigna que corrompe os sentimentos e desequilibra a mente.
Para que o sucesso seja legítimo, deve ser trabalhado na vivência dos princípios
ético-morais, a fim de que a tranquilidade e o equilíbrio emocional permaneçam
como bênçãos que promovem bem-estar e plenitude.
No século passado, por volta dos anos 50, o escritor americano Arthur Miller,
que se celebrizou pelo conteúdo de obras que foram levadas ao teatro, assim como
ao cinema, publicou um livro que até hoje merece ser lido. A morte do
caixeiro-viajante narra a história de um agente de seguros, Willie Loman, que,
após uma existência de lutas ásperas para alcançar o topo da empresa, fracassa,
traído pelos amigos que com ele competiam na surdina, e, antes de suicidar-se,
numa atitude chocante, deixa uma carta aos filhos, conclamando-os a todo e
qualquer tipo de conduta, desde que alcancem a glória, o poder...
Impactante, a obra demonstra a falência do sucesso exterior que consome as suas
vítimas, despreocupadas com a sua realidade de seres imortais.
O labor, para que sejam alcançados objetivos materiais, em nada impede que se
tenha em mente o burilamento moral, a conduta honesta, as atitudes saudáveis e a
manutenção da honra, que recompensam com a harmonia interior e a saúde integral.
O brilho do sucesso exterior passa, desaparece, enquanto o de natureza moral
permanece para sempre.
Divaldo Franco