Não se Justifica
Valores como a honestidade, a decência, a compostura e naturalmente que a
plena identificação deles com as crenças que dizemos defender, revelam a
coerência no comportamento social. Como conciliar atitudes indecorosas,
violentas ou de atentado aos bons costumes em homens e mulheres que se dizem
cristãos?
Sim, imagine o leitor um cidadão – seja qual for a religião a que se filie – que
age em discordância com os ensinos que diz seguir. Existe aí uma grande
incoerência entre o que "prega" e o que vive. Por sua vez, as religiões não
podem responder pelo comportamento de seus seguidores. Todo comportamento
contrário aos ensinos da religião, da moral, deve ser creditado à insânia humana
que insiste em burlar a própria consciência.
Vários exemplos podem ser citados: a) Bêbados que fazem arruaças e
responsabilizam o governo ou justificam-se reclamando da sorte; b) Violências de
toda ordem, espancamentos em casa, traições conjugais ou gritos incontroláveis,
levados a conta de gênio ruim; c) Desordens sociais, roubos e vandalismos
considerados como meros divertimentos; d) Corrupção espalhada, permanecendo-se a
noção do correto e do respeito às pessoas e às instituições.
Na verdade, nada é falta de sorte, culpa do governo ou de quem quer que seja.
Age-se dessa ou daquela forma porque se permite a si mesmo adotar este ou aquele
comportamento. Nada justifica um gesto de violência, de desrespeito ou de
imoralidade senão a própria decisão individual marcada de desequilíbrio.
É comum, por exemplo, alguém justificar um comportamento agressivo e
incontrolável por conta de suposta influência de espíritos, responsabilizando-os
por
atos desrespeitosos e antissociais. Ora, assim é fácil justificar! Pode
acontecer momentaneamente, mas o domínio do próprio comportamento pertence a
cada
um. Os espíritos são os homens – antes de virem e durante a vida no mundo ou
depois de partirem dele – e conservam, portanto, suas qualidades ou defeitos
morais. Podem ser sábios ou ignorantes, bons ou mal intencionados, mas todossão
senhores da própria vontade. Quem se deixa levar a atitudes agressivas, a
atos desrespeitosos, imorais, prova por si só que é ele mesmo agressivo, imoral,
desrespeitoso. Justificar o próprio comportamento à conta da presença de
espíritos é atitude de fuga que não condiz à própria realidade individual.
Não se pode creditar responsabilidade à Doutrina Espírita, por exemplo, diante
de atitudes de supostos médiuns ou pseudoespíritas desconhecedores da proposta
essencial do Espiritismo: a renovação moral do ser humano. O espírita sincero é
aquele que preocupa-se em melhorar a si mesmo. É alguém em luta consigo mesmo
para aperfeiçoar-se, melhorar o comportamento e agir coerentemente com o
Evangelho de Jesus, base da Doutrina Espírita. O espírita, como qualquer outro
cidadão, é homem comum, que reconhece os próprios limites e sabe que tem o dever
de progredir moralmente e trabalhar para um ambiente melhor no planeta.
O dever, portanto, continua sendo nosso. Não se justificam apelações, desculpas
ou tentativas de transferir responsabilidades, em todos os ângulos da vida
individual, social, familiar ou profissional.
Orson Carrara