Fez-nos Falíveis
Não é difícil constatar a realidade das imperfeições morais que todos
carregamos. Ainda somos seduzidos pela vaidade, pela ganância, pela arrogância.
Também sucumbimos às variadas paixões, pelos interesses egoísticos, pelo orgulho
desvairado. Somos capazes de manipular nos bastidores, transitamos com malícia e
libertinagens nos caminhos da mentira e da corrupção; mentimos, trapaceamos,
enganamos, enganamos a própria consciência. Cobiçamos bens alheios, invejamos
posições, ficamos enciumados e carregamos boa dose de prepotência e pretensões
descabidas, sem qualquer sentido que as justifiquem.
A realidade atual do planeta é bem destacada demonstração da mediocridade
interior que ainda caracteriza nossa condição humana. O Brasil, por sua vez,
mostra o total desequilíbrio que fomos nos situar por força dessas imperfeições
todas que nos faz discutir por bagatelas, perdendo-nos dos verdadeiros
interesses do viver para aprender.
Desanimador? Não! Motivador, ao contrário.
A Sabedoria Divina nos fez falíveis. Criou seres ignorantes justamente para que
aprendessem e amadurecessem pela experiência das vivências, nos enfrentamentos
todos que todos os dias são verificáveis. Fazendo-nos falíveis, passíveis de
equívocos variados, dominados e seduzidos por paixões e interesses diferentes,
sabia desses salutares enfrentamentos e equívocos que nos permitiríamos por
ignorância e principalmente por ILUSÃO. Sim, iludidos pelo poder, pela
autoridade, pela ganância, por pretensa superioridade.
Mas aí está o grande “x” da questão. Justamente por sermos falíveis e tais
equívocos nos encaminharem às colheitas da semeadura – mais cedo ou mais tarde
–, somos levados igualmente às reavaliações de posturas e comportamentos,
amadurecendo a consciência e elevando o sentimento.
Convenhamos! Em quantas ilusões nos apegamos! Quanta bobagem, quanta ilusão com
valores perecíveis! Observemos as lutas de interesse do país. A que isso levará?
A curto e médio prazo, a aflições que poderiam ser dispensadas. A longo prazo a
experiência constatadora do quanto tempo perdemos com bagatelas.
A realidade é, pois, altamente motivadora aos aprendizados. Retirar dessas
situações todas experiências reflexivas para sermos melhor. Melhorar o padrão
moral, o comportamento, o palavreado, sublimar os interesses, desenvolver a
fraternidade.
Estamos ainda muito iludidos pelo TER, esquecendo a principal finalidade de
viver; o SER. O ser que ama, que respeita, que aprende, que reconhece sua
pequenez e movimenta forças para viver solidário. Iludidos, ficamos nas
infindáveis discussões, esquecendo o principal.
Verifique-se as esferas de poder. Retrato fiel do império do materialismo, total
desconhecimento de nossa realidade imortal. Mas busque-se também a esfera
individual, na própria consciência. Como estamos? O que estamos sentido? O que
buscamos? Quais nossos verdadeiros interesses?
Há um sentido para tudo isso: é o Divino Convite do Supremo Doador da Vida para
que assumamos nossa condição de dignidade, saindo da esfera dos falíveis para a
envergadura dos que se esforçam para a libertação dessa autêntica prisão da
ignorância. Fazer-nos falíveis é Sabedoria que convida à permanente busca da
perfeição, ainda que relativa. Em outras palavras, para síntese conclusiva:
educação de nós mesmos, especialmente no sentir e viver a dignidade de nossa
condição de filhos de Deus! Preconceitos e ilusões só levam a doloridos
tropeções... melhor a disciplina do aprendiz que supera gradativamente a
condição de falíveis.
Orson Carrara