Honorabilidade
Estatuiu-se,
na sociedade terrestre, que as conquistas de qualquer expressão exaltam
o indivíduo e proporcionam-lhe honorabilidade e respeito. O progresso,
portanto, atrela-se a qualidades morais, mesmo quando não exista
qualquer correlação de identidade.
O desenvolvimento intelectual,
a conquista de recursos econômicos, o destaque na Arte, na política, em
qualquer que seja a área, produz respeitabilidade, honradez, e o seu
portador passa a receber a bajulação dos parvos e dos aproveitadores,
dos oportunistas sempre à espera de compensações. Entrementes, o
progresso material nem sempre faz-se acompanhar daquele de natureza
moral.
Nem todas as aquisições que deslumbram e projetam o ser
humano têm procedência digna, sendo muitas assinaladas pela astúcia ou
pela desonestidade, por métodos escusos ou heranças de procedência
vergonhosa.
A honorabilidade resulta da vivência dos valores
éticos adotados, dos costumes saudáveis, das condutas retas.
Mais
facilmente se encontra nos sofredores a presença honrosa da dignidade,
que constitui alicerce moral de segurança, sobre o qual são edificados
os sentimentos de elevação e de paz, mesmo quando não existem os
recursos aplaudidos pelos interesses da comunidade.
Considerando-se o hedonismo, o existencialismo e o individualismo que se
estabeleceram como programas sociais da atualidade, não são de
surpreender as ocorrências danosas que se instalam no comportamento
geral com aspectos terríveis, avassaladores.
Violência, crimes de
diversas ordens, rivalidades entre os indivíduos, traições, indiferenças
pelo próximo e os seus problemas, constituem os frutos espúrios do
comportamento ideológico da imensa maioria dos cidadãos do mundo.
Quando se lhes apresentam pautas morais de coragem ante as naturais
vicissitudes, roteiros de elevação diante dos desafios evolutivos,
propostas de dignificação e condutas éticas, são considerados fora de
época, desequilíbrio mental, perturbação masoquista, porque estes são os
dias para o prazer em que se deve beber a taça do consumo até as últimas
gotas.
A princípio tem-se a impressão de que o licor da juventude
e do estonteante gozo é absorvido até o momento quando esse conteúdo
converte-se em fel e veneno, passando a destruir aqueles que o libam.
A filosofia dominante, eminentemente egotista, é a do ter mais e
sempre mais, do destacar-se para aproveitar o momento fugaz até a
exaustão.
Especialistas em atividades de divertimento e de
sensações renovadas não se dão conta de que, enquanto elaboram planos de
júbilos infindáveis, mais se acercam da desencarnação. Quando
surpreendidos pelas enfermidades que alcançam a todos, pelos desencantos
de algum insucesso, pelos acidentes orgânicos paralisantes e aqueles de
outra natureza, não dispõem de resistência emocional para a sua
administração.
Acreditam-se, inconscientemente, invulneráveis,
inatingíveis pelo sofrimento que somente elege os outros, a ponto de
viverem anestesiados em relação aos valores existenciais e à fragilidade
de que se constitui o ocaso carnal no qual se encontram.
Quanta
ilusão nos propósitos de viver apenas para desfrutar!
É natural
que todos os seres humanos anelem pela felicidade. O fundamental, no
entanto, é saber-se em que a mesma consiste. Ignorando-se o de que se
constitui, abraçam-se as sensações fortes, o armamento preventivo contra
a solidariedade, a fim de não se exporem, e fogem sempre na busca da
alegria que não deve cessar. Alcançando-a, não se dão conta de como é
rápida a sua presença na emoção, logo cedendo lugar à ânsia de novos e
incessantes júbilos.
O corpo, porém, não está programado somente
para as sensações, mas sobretudo para as emoções e, quando essas se
derivam do exterior, abrem espaço para o vazio existencial, para a
sensação de inutilidade.
A felicidade, sem dúvida, é emoção
profunda e duradoura de plenitude que o Espírito vivencia quando
consegue conciliar a consciência tranquila como resultado do caráter
íntegro e das emoções pacificadoras.
Honoráveis são todos aqueles
que conseguem superar as más inclinações e se dignificam no esforço da
autoiluminação.
Nesse sentido, a oferta de Jesus, desde há quase
dois mil anos, diz respeito à imortalidade e não apenas à maneira como
deve ocorrer o trânsito carnal que passa célere, mas tem como objetivo
essencial trabalhar-se em favor do futuro espiritual inevitável.
É natural que se aspirem pelas alegrias, comodidades, satisfações,
bem-estares. Isto, porém, resultará das condutas mentais que dão lugar
aos acontecimentos que se desenrolam durante a existência.
Transferindo-se de uma para outra reencarnação, as realizações
apresentam-se em novas formulações que são os desafios evolutivos para
serem enfrentados e superados.
As distrações e fugas do dever não
conseguem impedir que, no momento próprio, apresentem-se como
impositivos inevitáveis para acontecerem.
A consciência lúcida em
torno da imortalidade propicia inefável alegria, por facultar os meios
hábeis para o comportamento nos momentos difíceis da reabilitação moral.
Ninguém existe que possa impedir o despertar para a realidade,
fenômeno resultante da sucessão do tempo que impõe amadurecimento
psicológico, porquanto, qualquer fuga, em vez de libertar do
compromisso, mais o complica e o adia, para ressurgir à frente.
Não te escuses ao chamado pela dor para a conquista da honorabilidade.
Se conheces algo da doutrina de Jesus, sabes que ela é um hino de
louvor à vida e uma exaltação contínua ao amor em todas as facetas em
que se apresente.
Reflexiona em torno de como te encontras e o que
podes fazer para alcançar a meta que te está destinada: a perfeição
relativa, o estado de reino dos Céus na mente e no coração.
Honoráveis foram os mártires de todo jaez, que não temeram o sacrifício,
inclusive, o da própria existência.
Todo aquele que transforma a
existência em um evangelho de amor no reto cumprimento do dever torna-se
honorável.
Esforça-te para entender a finalidade existencial e
segue, firme e abnegado, a trilha do teu compromisso para com a vida.
Joanna de Ângelis