Luxo e Lixo

Às vezes, dizes: “Trabalho
É carroção que não puxo.”
E avanças devagarinho
Para a gaiola do luxo.
Lá dentro, acabas suando,
Qual estudante no espicho,
Aprendendo, muito tarde,
Que o ócio é cama de lixo.

Entornas grandes promessas
Em fala, sonho, debuxo,
No entanto, buscas, primeiro,
Conforto, destaque, luxo...
Consomes a força e o tempo
Em sono, prato, cochicho,
E, um dia, clamas debalde
No escuro montão do lixo.

Anseias dinheiro a rodo,
Cheque e cheque em papelucho,
Regalo de toda espécie,
Caminho talhado em luxo...
Mas, depois de tanto fausto,
Tanto enfeite, tanto nicho,
Mergulhas além da morte
Na grande maré do lixo.

Não conserves a existência
Por tesouro no cartucho.
Muita gente afunda e morre
No antigo atascal do luxo.
O bem de todos é a lei
Que a vida guarda a capricho.
Repara que todo excesso
Vem do luxo e cai no lixo.


Erasmo Junior