O Móvel da Obsessão

Achava-se Batuíra, o inolvidável apóstolo da Doutrina Espírita, em sua residência, na Rua do Lavapés, em São Paulo, quando um enfermo melhorado varou a porta.

Tratava-se de um obsidiado em recuperação.

Homem próspero, que o dono da casa conhecia de muito tempo.

- Graças a Deus, Batuíra, estou muito mais forte – disse o recém-chegado -; já consigo dominar-me e governar meus próprios pensamentos. Venho, assim, hoje, com mais confiança, à nossa prece.

Transbordando satisfação, Batuíra abraço-o e lembrou:

- Convém, então, louvar a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, formulando renovação.

- Sim, meu amigo, faça a petição que deseje e acompanharei as suas palavras.

O apóstolo cofiou a barba respeitável, elevou olhos ao Alto e, colocando as mãos sobre a cabeça do doente sentado, ia dizendo a oração:

- Senhor, eu te agradeço a infinita misericórdia...

E o amigo repetia:

- Senhor, eu te agradeço a infinita misericórdia...

- E prometo...

- E prometo...

- Que serei paciente e humilde...

- Que serei paciente e humilde...

- Que procurarei o caminho do bem...

- Que procurarei o caminho do bem...

- Que executarei o trabalho que a tua vontade determinar...

- Que executarei o trabalho que a tua vontade determinar...

- Que abrirei minha bolsa todos os dias, em favor dos necessitados...

Mas, nesse ponto, sentindo talvez que o compromisso enunciado era para ele excessivamente pesado, o doente começou a gritar e piorou outra vez...


Hilário Silva