Nós Espíritas Temos a Aprender com os Protestantes Norte-Americanos
Bob Buford, adepto da religião protestante, é um dos mais importantes
empresários dos Estados Unidos. Por circunstâncias da vida, num dado momento
passou a direção de sua empresa a profissionais do mercado, e tomou um caminho
que lhe fazia mais sentido: o caminho da espiritualização. Nesse meio tempo
escreveu o livro A Arte de Virar o Jogo no Segundo Tempo da Vida, Editora Mundo
Cristão. Nesse livro ele narra a sua trajetória. Toda a mensagem do livro tem
por base uma metáfora inteligente, simples e prática. Ele diz que nossa vida
pode ser comparada a um jogo de futebol: tem o primeiro tempo, o intervalo e o
segundo tempo. O primeiro tempo é quando temos como foco o sucesso; o intervalo
é quando passamos a refletir mais profundamente sobre o que estamos fazendo de
nossa vida; o segundo tempo é quando substituímos o sucesso (do primeiro tempo)
pelo significado. Explica o autor que não necessariamente o segundo tempo se faz
presente numa idade mais avançada, tanto é que ele próprio escolheu entrar no
segundo tempo quando tinha 35 anos de idade. Importante: o autor, pela sua
excelente condição financeira, teve e tem a condição de dedicar-se quase que
integralmente a causas religiosas. No entanto, ele explica no livro o óbvio:
para bem atuarmos no segundo tempo não precisamos abandonar o nosso trabalho,
aliás, nossa atividade profissional pode ser um dos mais importantes palcos da
nossa atuação.
Para aprendermos com o autor, adepto do protestantismo (repito), transcrevo a
seguir parte do capítulo 16 do referido livro, que – pelo seu conteúdo – é
leitura
recomendável (basta dizer que a apresentação do livro é de Peter Drucker).
Veremos como nos Estados Unidos algumas religiões estão adotando modernos
treinamentos para a liderança religiosa e para o voluntariado, que podem nos
levar a motivação para construirmos em nosso movimento espírita estruturas
educacionais mais condizentes com a grandeza do Espiritismo. Não que já não
estejamos caminhando nesta direção, mas, com as atitudes que iremos ler a
seguir, é bem provável que cheguemos à conclusão de que - em relação a ao fato
de ofertar treinamentos aos espíritas - muitos de nós não estamos sabendo bem
aproveitar da riqueza espiritual que o Espiritismo nos proporciona. Mas, ainda
está em tempo!
Palavras de Bob Buford: “O nosso Senhor nos ensinou a sermos como crianças
(despreocupadas), a evitarmos as preocupações excessivas (evitar o controle por
parte de demandas e posses) e não deixar que sejamos controlados por muitos
mestres. E na carta que Paulo escreveu à igreja de Roma, o apóstolo explica a
importância de controlar a vida interior para ter uma vida cheia de satisfação:
„Os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se
inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá
para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz‟. (Romanos 8:5, 6). A ironia
é que a Igreja se tornou um desses mestres que fazem com que muitos dos que
estão no primeiro tempo se sintam desesperadamente escravizados. A alegria que
deveria resultar de servir aos outros em nome de Cristo está ausente, porque a
maior parte daquilo que fazemos em prol da igreja é feito por obrigação. E isso
acontece porque no primeiro tempo nós ainda não descobrimos quem somos, que é
que realmente gostamos de fazer e como até as tarefas mais desagradáveis podem
ser experiências libertadoras e gratificantes quando se desprendem da essência
do nosso ser. Para a maioria das pessoas, o trabalho na igreja não é um sorvete
com cobertura de chocolate, e sim os brócolis e espinafre que mamãe as obrigava
a comer quando eram crianças. Quando tiver descoberto a missão da vida, você
estará numa posição muito melhor para retomar o controle sobre seus esforços de
boa vontade no ministério da fé. Ao invés de se alastrar relutantemente até mais
um "final de semana de testemunho‟, por exemplo, terá a liberdade de preferir
deixar que a luz da sua fé brilhe naturalmente enquanto você joga bridge toda
noite de segunda-feira com os colegas de trabalho. Assim, terá retomado o
controle de maneira a juntar o seu desejo de servir a Deus, a sua paixão por um
jogo de baralho e a sua demanda de desfrutar uma atividade de lazer com pessoas
afins. É alentador ver como algumas igrejas estão se tornando adeptas a
combinarem a paixão com o talento. Robert Bellah, co-autor do livro de sucesso
Habits of the heart (Hábitos do coração), caracteriza esta capacidade como uma
função para „instituições de mediação‟. Muitas igrejas estão criando posições de
"diretores de recursos de voluntariado‟ ou estabelecendo "equipes de ligação‟
para ajudar as pessoas a descobrirem como aplicar o melhor de si à tarefa de
fortalecer o ministério da fé através da igreja. Por exemplo, aqui em Dallas, a
igreja presbiteriana de Park City lançou mão recentemente do que eles chamam de
Programa de Ligação, que já criou mais de 2500 oportunidades de serviços
distintos. A igreja comunitária de Willow Creek, na região metropolitana de
Chigaco, desenvolveu um programa chamado Network [rede] (hoje usado por muitas
igrejas em todo o país), para ajudar as pessoas a enxergarem a sua configuração
individual, visando colocá-las em tarefas adequadas de trabalho voluntário. A
igreja comunitária de Saddleback Valley, em Mission Vielo, Califórnia, ajuda as
pessoas a encontrarem sua SHAPE [perfil] (iniciais inglesas das palavras
descritas a seguir): Dons espirituais ("Spiritual gifts‟); Coração, paixões ("Heart,
passions‟); Habilidades ("Abilities‟); Personalidade ("Personality‟);
Experiência, know-how ("Experience, know how‟) Para que os cristãos que estão no
segundo tempo consigam reais avanços em termos de concretizarem as suas missões
de vida, muitas igrejas mais deverão adotar esta abordagem para envolver
pessoas. O meu ministério de fé, Leadership Network, tem uma unidade de pessoas
que trabalham para criar a Rede de Treinamento em Liderança, um programa que
realiza treinamentos de cinco dias para diretores de recursos de voluntariados
em igrejas”.
Caro leitor, pelas palavras de Bob Buford, que transcrevi, fica claro que o
movimento protestante nos Estados Unidos está sabendo bem enfatizar o
treinamento dos seus líderes e dos freqüentadores de seus templos. Por que não
aprendermos com eles quaisquer que sejam as nossas crenças? Por que não criarmos
em nossas comunidades espíritas treinamentos contínuos de liderança? Por que não
criarmos Centros de Projetos de Voluntariado? E trazendo estas reflexões para
nosso campo íntimo, por que, como Bob Buford, não acreditarmos que viver
religiosamente é adotar atitudes construtivas também fora do templo religioso,
por exemplo, num descontraído e saudável encontro de lazer com amigos?
Alkindar Oliveira