Isso de Amizade ...
Ah, esse fenômeno instigante, o das amizades que se mantêm
independentes da convivência.
Será amizade? Será saudade comum dos anos vividos em amizade?
Será saudade dos anos felizes ou uma afinidade que se espraia no tempo? Não sei
responder.
Sei que com algumas pessoas (poucas), há uma insistência teimosa em desejar ver,
trocar idéias e experiências, creio, pela certeza da reciprocidade e do "ser
aceito".
Sim, talvez seja a certeza de ser aceito, uma das maiores necessidades humanas
neste mundo de incompreensões.
Talvez seja a necessidade da existência de certeza prévia de acolhimento ao que
somos, como somos e ao que pensamos, o fermento da amizade.
O mistério da amizade talvez resida no alívio que traz a existência de alguém
que nos acolha. Digo acolha e, não, recolha - aí já seria dependência de um lado
e paternalismo do outro.
Acolher significa receber de bom grado, previamente, sem julgamentos ou
resistências.
É molesto o fato de que os seres humanos vivam a julgar e que suas opiniões
prévias interponham barreiras na comunicação, dificultando-a.
O mistério da afinidade consiste na inexistência das resistências ao outro,
mesmo quando haja discordância. Isso não deriva apenas de afeto.
Quantas vezes há afeto entre as pessoas sem, porém, a aceitação natural,
espontânea e prévia?
Verifique nas amizades tidas e vividas ao logo da vida, o que delas restou.
Haverá muita vivência, boa e má. Raramente, porém, restará a amizade...
Com os anos, vão se tornando escassas as amizades que atravessaram o terreno
íntimo que lhes é próprio sem arranhões e sem mágoas, restando, como fruto, após
ingentes experiências humanas e existenciais, apenas (e já é tanto...) a
amizade.
Amizade é o que resta da amizade. Se o que resta de uma amizade é amizade, então
amizade é. Da verdadeira!
"Isso de amizade..."
Artur da Távola