Um Jeito de Escapar do Inferno
Mohandas Karamchand Gandhi foi um homem fabuloso e inesquecível.
Seu conhecimento sobre as leis de Deus é digno de nosso mais profundo respeito e
admiração.
Uma das mais belas passagens de sua vida é relatada com competência pelo
cineasta britânico Richard Attenborough.
O filme mostra a sangrenta guerra civil que se seguiu à divisão da Índia em
Paquistão muçulmano e Índia hindu.
As mortes só trouxeram retaliações e mais vítimas, até que Gandhi, líder
espiritual respeitado por hindus e muçulmanos, iniciou um jejum e jurou que não
comeria até que a matança terminasse, mesmo que isso significasse sua morte por
inanição.
Esse foi apenas um dos muitos jejuns de Gandhi defendendo a não-violência.
Um hindu enlouquecido visitou o Mahatma e, ao chegar aos pés da cama onde
estava, atirou-lhe um pedaço de pão enquanto gritava:
Eu já vou para o inferno e não quero a culpa da sua morte também em minha alma!
Coma, por favor!
Gandhi, sereno como sempre, replicou:
Por que você vai para o inferno?
O hindu tremia ao responder:
Eu tinha um filho pequeno, mais ou menos deste tamanho, que foi assassinado
pelos muçulmanos. Então, eu peguei a primeira criança muçulmana que consegui
encontrar e a matei, arrebentando-lhe a cabeça contra uma parede.
Gandhi fechou os olhos e chorou por dentro.
Depois se recompôs, pois sabia da importância de seu papel perante aquele povo
e, com esperança na voz, disse:
Eu conheço um jeito de escapar do inferno.
Muitos meninos agora estão sem os pais por causa da matança. Encontre um menino
muçulmano, com mais ou menos este tamanho - repetindo o gesto feito pelo
visitante há pouco – e o crie como se fosse seu. Adote-o.
O homem desorientado estava admirado com a proposta, e tentava assimilá-la da
melhor forma. Uma brisa de esperança chegou-lhe ao rosto.
Porém, Gandhi não havia terminado sua fala:
Atente apenas para um detalhe: você não deve esquecer que deverá criá-lo como um
muçulmano.
O hindu não estava preparado para aquela proposta. Era muito diferente de tudo
que sentia, de tudo que pensava. Era uma proposta revolucionária.
Era a revolução da lei do amor, ensinada por Gandhi, de forma magistral.
O homem caiu aos pés do mestre. A loucura abandonou seus olhos, que choravam
copiosamente.
Gandhi colocou as mãos na cabeça do hindu, abençoando-o do fundo de seu coração,
desejando que ele pudesse aceitar seu novo caminho, o caminho para sair do
inferno.
Quando o hindu saiu, ele tinha um pouco de paz no coração, e uma proposta da lei
do amor em suas mãos: proposta de perdão e de autoperdão.
Nada como o amor, em toda sua resplandecência, para nos libertar desse estado
d’alma de inferno.
Sim, já somos capazes de entender que o inferno não é um local delimitado no
espaço, mas um estado d’alma temporário.
Para alguns, desorientados e reincidentes nos mesmos erros, esse estado de
espírito parece uma eternidade, mas essa dita eternidade dura apenas o tempo do
aprendizado, o tempo do despertar para o amor.
O amor cobre uma multidão de pecados, conforme tão bem afirmou o Apóstolo Pedro.
A lei de causa e efeito abraça-se à lei da amorosidade e ambas, interligadas
sempre, carregam-nos para a tão desejada felicidade.
Momento Espírita