Atitude
Atitude, aliás, desculpista, em que se estribam os frívolos e irresponsáveis:
a da mudança de comportamento mediante a conquista deste ou daquele capricho.
Aludem que lhes falta o estímulo adequado para uma conduta sadia, de
responsabilidade, escusando-se por meio da acusação de que o mundo lhes é hostil
ou de que não são compreendidos.
Certamente que a hostilidade não é da sociedade para com eles, porquanto,
deslocando-se do modus operandi comportamental a que todos se impõem, são eles
os que hostilizam o chamado status quo, rebelando-se. Têm o direito de fazê-lo e
o fazem, não, porém, se devem propiciar a curiosa fuga psicológica no arrimo de
que a marcha dos acontecimentos deveria mudar a rota, a fim de os seguir...
Outrossim, a compreensão que insistem por merecer, resulta de um enfoque falso
da realidade.
O homem, colocado no contexto social, se o descobre deficiente ou incompleto,
tem o dever de compreender a situação, empenhando-se por modificar-lhe as
estruturas, a expensas de esforços e atitudes realmente válidos, com que
motivará outros a segui-lo.
Eis porque os que vivem na comodidade e na fuga aos compromissos relevantes não
merecem maior respeito, antes piedade, e, quando não, a indiferença. O mesmo
sucede em relação aos precipitados que se utilizam da violência e do crime,
apoiando-se em falsos conceitos para a mudança da vigente ordem social - a qual
se faz presente em qualquer tempo, desde que o homem, por instinto, é um
agressivo, pela razão, um experimentador de mecanismos novos, esquecido de que a
máquina da destruição enfurece os que lhe padecem o espezinhar e respondem
através da repressão violenta, até que o ódio combura, na mesma fornalha, os
contendores, ambos celerados em desenfreada alucinação egoísta.
Metodologia eficaz para as mudanças que sempre se pretende, en passant, a
própria transformação moral do indivíduo, influenciando o seu meio social,
adquirindo valores éticos-culturais-profissionais com que interfira
positivamente no comportamento da comunidade, armando-se de experiência para os
graves cometimentos que a vida lhe concederá, quando chamado ao exercício das
posições que ora combate, não se deixando anestesiar quando lá se encontre, ou
sucumbir sob a títere dominação dos grupos chamados de "primeira linha"...
O problema da Humanidade, antes que sócio-econômico é sócio-moral. O homem,
deslocado de um meio social corrupto ou primário, necessita de educação para
adquirir hábitos que o capacitem a uma vida consentânea com o ambiente onde será
colocado a viver. Mesmo quando o índice monetário per capita é de alto nível,
observam-se os calamitosos resultados morais, se lhe faltam os valores
espirituais imprescindíveis para um padrão médio de vida em clima de felicidade
e de paz.
Observe-se, por exemplo, ó alto índice de suicídios nos modernos países de
elevado nível econômico, gerador de frustrações e inutilidade nos seus membros.
É óbvio que os factores criminógenos das favelas insalubres, dos bairros da
miséria, dos amontoados grupais, nos guetos da vergonha mais facilmente
proliferam na revolta, na agressividade, quando as condições de sobrevivência
infra-humana reduzem os seres a coisas sem valor, desrespeitados na sua
integridade de criaturas de Deus...
Os promotores da miséria e os seus fomentadores, os que mantêm o comércio da
ilicitude, os pugnadores dos explorados "direitos humanos" que se nutrem
dahumana carne das vítimas dos seus establishments não se furtarão à amargura e
ao açodar da consciência em acrimoniosas acusações, embora se escudem na
aparência de poderosos e de gozadores.
O olhar das criancinhas misérrimas e esfaimadas, a viuvez decorrente da
tuberculose e da escassez de pão, a farta multidão dos desempregados e a dor dos
mutilados do corpo, da mente e da alma compõem uma patética que lhes cantará aos
ouvidos da alma torpe a litania lamentosa e acusadora da traição que praticam
contra Deus, o próximo, a humanidade e eles próprios...
Por isso, a importância do homem-espiritual, do homem-ético forjado no Cristo,
cuja mensagem, sempre actual e revolucionária, prossegue um desafio gritante aos
ouvidos moucos dos utilitaristas e hedonistas gananciosos, esperando por ser
atendida.
Claro está que, a breve digressão, objectiva desjustificar as escusas e
promessas em que se estribam os fátuos como os levianos, a fim de manterem a
conduta irregular.
Victor Hugo