Teoria e Prática
João Cota chamou o filho,
Conhecido por Joãozinho,
E passou a prepará-lo
Para as lutas do caminho.
Estava perto, na mesa,
Uma garrafa aprumada,
Com líquido claro e leve
Sobre toalha bordada.
O pai falou ao rapaz:
- “Ouça o que vou lhe dizer:
O líquido à nossa frente
É o veneno do prazer.
Foi garapa açucarada
De cana que se cultiva,
Passou por transformações
E agora é uma “cousa viva”.
Foi muito doce, mas hoje
É fogo na vida humana,
Tem o nome de aguardente,
Cachaça, pinga, umburana...
Dizem que vem de mandraca,
É vapor de algum feitiço,
Tomba a pessoa na rua,
Tira o homem do serviço.
Creio que vem do demônio
Que anda em canaviais,
Furta a mulher do marido,
Separa os filho dos pais...”
O pai calou-se um momento,
Mas voltou com voz segura:
- “Prometa, meu filho, agora,
Não beber essa loucura.”
Joãozinho explicou-se, humilde:
Dessa praga na garrafa
Não quero, nem beberei...”
Houve silêncio entre os dois,
Mas o pai de mão alçada
Baixou-a, certa na pinga,
E engoliu à talagada.
O moço aflito, pergunta:
“Meu pai, o que vejo eu?
Esse líquido é veneno
E, acaso, o senhor bebeu?
O velho desapontado
Falou, de cara amarela:
- “Sim, filho, a pinga é um veneno
Mas não sei passar sem ela.”
Jair Presente