Esperanças que se Renovam

A cada dezembro as esperanças se renovam por causa do natal e do ano novo que se aproxima. Apesar da violência no mundo, muitas pessoas suavizam seu caráter, e por alguns dias, se tornam melhores, pacientes, e as vezes caritativas.

Na verdade, em dezembro as vibrações ambientes são diferentes. Existe um ideal de paz, de harmonia, de amizade. Embora o velhinho gordo e de barbas longas e brancas, seja uma figura tipicamente nórdica, muito diferente do nosso ambiente tropical, penetrou profundamente no ideário infantil, e os pedidos de presentes se multiplicam, das mansões ricas aos casebres, passando também pelos barracos das favelas

Contudo, o Natal é de Jesus. Não é uma festa para se cantar parabéns a você, e fazer barulho com cornetas e músicas agitadas. Já comemoramos muitos natais assim, entretanto, hoje, na transição entre o outono e o inverno da vida, nossa comemoração é mais tranqüila, e meditativa.

Embora troquemos presentes com familiares e amigos, procuramos ser o presente, fazendo da nossa vida um apelo à paz, ao amor, a benevolência. Gosto de pensar, que a cerca de dois mil anos, Jesus nasceu numa pequena cidade, recusando-se a nascer em palácios de paredes de jade e piso de mármore, habitadas por ricos senhores, ou grandes sábios. Afastou-se, também, dos colégios e templos iniciáticos, para simbolicamente nascer numa estrebaria, cercado por pastores e animais.

Sabe, Jesus, quase dois mil anos se passaram e lá atrás, em alguma curva do tempo, em alguma esquina do passado, fui pregador, sacerdote ou ministro da tua palavra, usando o evangelho como um chicote para vergastar a conduta alheia, entretanto, não me preocupava em aplicar uma só vírgula, um só til em mim mesmo.

Quantas lágrimas foram vertidas, quanto sangue inocente correu, quantos corpos de pecadores ajudei a queimar, na presunção de salvar as suas almas. Quantos jovens, moças e rapazes, encerrei em conventos para facilitar a vida de seus pais ou tutores, sem consultá-los sobre os seus desejos e suas aspirações.

Sempre fui muito de pregar as suas palavras, tendo-as nos lábios, e não no coração. Hoje, Rabi, quero recordar e aprender seus ensinamentos: sobre o perdão, lembro a recomendação para perdoar setenta vezes sete. Sobre as inimizades, percebo agora que devo fazer as pazes com o meu adversário, enquanto estou no caminho com ele. Quando me apego à família nuclear, logo recordo suas palavras: quem é minha mãe, quem são meus irmãos, senão aqueles que fazem a vontade de meu pai?

Ao curar, era comum a observação: seus pecados foram perdoados; vai e não peques mais. Senhor, é difícil, mas preciso aprender a voltar a outra face, quando agredido física ou emocionalmente. Aprendi, Rabi, através do Sermão da Montanha, que devo ser humilde, pacífico, justo, manso, para ser bem aventurado. E aprendi ainda, Mestre, que para entrar no Reino dos Céus, que está dentro de mim mesmos, precisarei nascer de novo, ou muitas vezes.

Vou encerrar, Rabi, aproximando-me da manjedoura simbólica. Vou tomar nas minhas, as suas mãos pequeninas de recém-nascido, e beijá-la respeitosamente. Feliz aniversário, Jesus de Nazaré.


Amilcar Del Chiaro Filho