Quadro dos Principais Fatos Referentes à Allan Kardec e às Origens do Espiritismo
1. Introdução
Neste trabalho procuraremos reunir alguns dados importantes da história do
Espiritismo, especialmente os referentes a Allan Kardec e ao Espiritismo
nascente. Nossa fonte básica será a obra Allan Kardec, em três volumes, da
autoria de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, dada a público pela Federação
Espírita Brasileira em 1979/80. Qualquer estudioso do Espiritismo reconhecerá
prontamente que ela representa o mais completo e rigoroso estudo já publicado
sobre a vida e a obra de Kardec. Os volumes 2 e 3, da autoria de Thiesen, contém
ainda análises e comentários de grande justeza e profundidade sobre muitos
tópicos referentes à doutrina e ao movimento espíritas.
Os três volumes dessa obra apresentam uma massa de informações bastante densa.
Dispõem de índices antroponímicos, mas não trazem índices analíticos. Nos dois
últimos volumes, os capítulos são de amplas proporções, contendo muitas seções.
Thiesen optou, certamente com razões ponderáveis, por não fazer uma apresentação
cronológica dos fatos. Tudo isso dificulta sobremodo a localização dos assuntos.
Por tais motivos, julgamos útil compilar aqui, de forma mais simples e direta,
alguns dos acontecimentos mais importantes. Fomos motivados por nossa
experiência pessoal, de muitas vezes querermos citar datas e lugares precisos e
não conseguirmos encontrar de pronto as referências. Também pode ser de alguma
utilidade dispor de um painel sucinto dos fatos, que permita sua visualização
global.
Naturalmente, sabemos que o que mais importa não são os nomes, as datas e os
lugares, mas a sua significação histórica, científica e filosófica. O
pesquisador cuidadoso não poderá dispensar a respeitável obra de Thiesen e
Wantuil. Também deve-se lembrar que a segunda parte das Obras Póstumas de Allan
Kardec consiste de textos de enorme relevância para a história do Espiritismo,
repletos, como não poderia deixar de ser, de preciosas considerações
doutrinárias. O mesmo vale para os volumes da Revue Spirite editados por Kardec.
Há algumas outras fontes sobre o Espiritismo e sua história, que podem ser
consultadas, embora nem de longe se aproximem, em abrangência e precisão, da que
nos legaram Thiesen e Wantuil. Entre elas encontram-se:
Moreil, André. La vie et lŒvre dAllan Kardec. Paris, Vermet, sem data.
(Wantuil menciona outra edição parisiense, Éditions Sperar, de 1961; Thiesen se
refere a uma tradução para o vernáculo, de Miguel Maillet, publicada sem data
pela Edicel. Ver Allan Kardec, vol. I, pp. 79 e 26, respectivamente.)
Sausse, Henri. Biographie dAllan Kardec. 4a ed., Paris, Éditions Jean Meyer,
1927. A Federação Espírita Brasileira faz figurar uma tradução dessa biografia
em sua edição de O que é o Espiritismo, sem indicação do tradutor. {nota 1}
Para facilidade de referência, adotaremos as seguintes abreviaturas:
AK I, AK II e AK III respectivamente volumes I, II e III da obra Allan Kardec.
OP Obras Póstumas
RS ou Revue Revue Spirite
SPES Société Parisienne des Études Spirites
FEB Federação Espírita Brasileira
Os números que aparecerão diante desses símbolos referem-se a páginas das obras,
salvo indicação em contrário. Utilizamos a 1a edição de Allan Kardec e a 18a
edição da tradução febiana de Obras Póstumas, traduzida por Guillon Ribeiro
(confrontada com o original francês: Paris, Dervy-Livres, 1978).
2. Hippolyte-Léon Denizard Rivail
1804 - (3/10) - Nascimento de Hippolyte-Léon Denizard Rivail, o futuro Allan
Kardec, em Lyon, a segunda maior cidade francesa depois de Paris. Seus pais
foram Jean-Baptiste Antoine Rivail, homem de leis, e Jeanne Louise Duhamel,
residentes à Rue Sale, 76; essa casa foi demolida ainda em meados do século XIX.
(AK I 29)
1815 - Rivail segue para o Instituto de Johann Heinrich Pestalozzi para
continuar seus estudos. O Instituto ficava na cidade de Yverdon, Suíça, e
funcionava em regime de internato. Os alunos recebiam ali educação integral
esmerada, segundo inovador método pedagógico do famoso professor, baseado na
convicção de que o amor é o eterno fundamento da educação. (AK I caps. 2 a 11 e
15)
1822 - Rivail deixa Yverdon e instala-se em Paris. Não há certeza plena sobre
essa data. Sabe-se que em janeiro de 1823 já residia à Rue de la Harpe, 117.
Confirma-se também que pelo menos de 1828 a 1831 morou na Rue de Vaugirard, 65.
(AK I caps. 12 e 21)
1824 - Rivail publica o seu primeiro livro didático, o Cours pratique et
théorique darithmétique, concebido segundo o método pestalozziano. Foi
publicado em Paris na Imprimerie de Pillet Ainé, Rue Christine, 5. (AK I caps.
14 e 16)
1825 - Rivail funda a sua primeira escola, a École de Premier Degrée. (AK I cap.
18)
1826 - É fundada a Institution Rivail, instituto técnico, sito à Rue de Sèvres,
35; funcionou até 1834. Neste mesmo local existiria depois o Lycée Polymathique,
dirigido também por Rivail, até 1850, quando foi cedido a A. Pilotet. A partir
dessa data o Prof. Rivail não mais exerceria atividades didáticas. (AK I cap. 19
e pp. 131, 145 e 146)
1828 - Rivail dá a público o "Plan proposé pour lamélioration de léducation
publique", sugerindo diretrizes para a educação pública. (AK I cap. 21)
1831 - Aparece, da autoria de Rivail, a Grammaire Française Classique sur un
nouveau plan. (AK I cap. 22)
1832 - Casa-se com Amélie-Gabrielle Boudet (1795-1883), que seria sua dedicada
companheira e apoio de todos os momentos, até a sua desencarnação. Conhecida
mais tarde entre os espíritas como "Madame Allan Kardec", Amélie-Gabrielle era
professora e colaborou com o esposo em suas atividades didáticas. Nunca tiveram
filhos, conforme explicitamente se lê na Revue Spirite de 1862. (AK I cap. 20,
III 45)
Rivail e sua esposa foram pessoas dignas, de moralidade inatacável, dedicando-se
integralmente ao cultivo dos ideais superiores da cultura, da educação, do bem.
Lutaram a favor das causas da liberdade de ensino e da educação para meninas.
Rivail ministrou por muitos anos cursos gratuitos para crianças pobres. Além de
mestre, foi sempre amigo dos alunos. (AK I cap. 23 a 29)
Do ponto de vista material, o casal Rivail levou vida simples, não raro
enfrentando dificuldades econômicas. Na fase espírita, seus parcos recursos
seriam empregados na publicação das obras iniciais e em outras despesas
referentes ao Espiritismo. Nos anos de maiores limitações, Rivail complementou
sua receita com empregos temporários modestos, como o de contador. (AK I cap.
33)
Há referências seguras de cerca de 21 textos publicados pelo Prof. Rivail, entre
livros didáticos e opúsculos diversos referentes à educação. (AK I cap. 37)
Rivail possuía sólida erudição, conhecendo bastante bem as diversas ciências, a
filosofia e as artes. Traduziu obras alemãs e inglesas para o francês, e
vice-versa. Foi membro de diversas academias culturais, possuindo vários
diplomas. (AK I caps. 22, 30, 35)
Contrariamente ao que afirmou Henri Sausse, e alguns mantém até hoje, Rivail não
foi médico (AK I cap. 31). Também não há evidência de que tenha sido maçon,
sendo mais razoável assumir que não o foi (AK I cap. 32).
3. Das observações iniciais à primeira edição de O Livro dos Espíritos
1848 - Início dos famosos fenômenos espíritas que envolveram a família Fox, em
Hydesville (EUA). A 28 de março verificam-se as primeiras manifestações físicas;
três dias após, estabeleceu-se a primeira comunicação tiptológica. Em poucos
anos, fenômenos semelhantes passaram a chamar a atenção pública não somente nos
Estados Unidos, mas também na Europa. Foi a fase das chamadas "mesas girantes".
(AK II 49-60; ver também As Mesas Girantes e o Espiritismo, de Zêus Wantuil,
publicado pela FEB.)
1854 - Rivail é informado pelo Sr. Fortier, magnetisador seu conhecido, acerca
da ocorrência dos fenômenos das mesas girantes. Embora estranhando-os, não os
julgou impossíveis, já que poderiam ter alguma causa física ainda não bem
determinada. No entanto, algum tempo depois esse mesmo Sr. Fortier lhe disse que
as mesas também "falavam", isto é, davam sinais de inteligência. A reação agora
foi cética: "Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem
cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula." (OP
265; AK II 62)
1855 - No início desse ano, o Sr. Carlotti faz-lhe longo relato dos singulares
fenômenos. Embora Rivail o conhecesse há 25 anos, mais uma vez expressa
reservas, dado o temperamento exaltado do amigo, tão em oposição ao seu. (OP
266; AK II 124)
1855 - Em maio, Rivail vai, em companhia de Fortier, à casa da Sra. Roger,
sonâmbula, onde conhece o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison. Este lhe fala dos
fenômenos, mas com seriedade e frieza, o que o predispõe, finalmente, a observar
os fatos. (OP 266)
1855 - Assim foi que, ainda em maio, a convite de Pâtier, Rivail assiste a
algumas experiências na casa da Sra. Plainemaison, sita à Rue Grange-Batelière,
18. Rivail impressiona-se com os fenômenos, que se verificavam em condições "que
não deixavam lugar para qualquer dúvida. [...] Havia ali um fato que
necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia naquelas aparentes
futilidades [...] qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei,
que tomei a mim estudar a fundo."(OP 267; AK II 64)
1855 - Numa dessas reuniões, conhece a família Baudin, então residente à Rue
Rochechouart (a partir de 1856 iria para a Rue Lamartine; ver AK 64). Convidado
pelo Sr. Baudin, passou a freqüentar assiduamente as sessões semanais que se
realizavam em sua casa. Os médiuns eram as filhas do casal, Caroline e Julie,
que no início escreviam com o auxílio de uma estinha. {nota 2}De numerosas e
frívolas que eram, sob a influência de Rivail as reuniões passaram a reservadas
e sérias, dedicadas à pesquisa racional e metódica do novo domínio. "Compreendi,
antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles
fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do
futuro da humanidade [...]. Era, em suma, toda uma revolução nas idéias e nas
crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção, e não
levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar iludir" (OP
267-68; AK II 64). Rivail submetia aos Espíritos séries de questões visando a
elucidar problemas relativos à filosofia, à psicologia e à natureza do mundo
invisível. Um grupo de intelectuais encarregou-o de analisar e joeirar cerca de
50 cadernos com comunicações espirituais diversas. (AK II 71, 68 e 125)
1856 - Nesse ano passou a freqüentar também as reuniões espíritas da casa do Sr.
Roustan, na Rue Tiquetonne, 14. O médium era a Srta. Japhet, sonâmbula. As
anotações de Rivail, provenientes em grande parte das comunicações obtidas pelas
Srtas. Baudin, tomaram as proporções de um livro, embora se saiba que por volta
de abril ainda não estava claro para ele que deveria ser um dia publicado (OP
276). Depois que isso se tornou evidente, foi por intermédio da Srta. Japhet que
os Espíritos auxiliaram Rivail a fazer uma revisão completa do texto já
elaborado. Era o Livro dos Espíritos. (OP 270, 276 e 277; AK II 72)
1856 - A 30 de abril, pela mediunidade da Srta. Japhet, Rivail tem a primeira
notícia de sua missão, em linguagem bastante alegórica. Outras se seguiram, de
cunho mais positivo. O conjunto dessas comunicações e, principalmente, os
comentários de Rivail indicando sua reação, constitui leitura obrigatória para
todo espírita, por sua beleza e elevada significação. (OP 277-87; AK II 69 e 72)
1857 - No início desse ano o texto manuscrito de O Livro dos Espíritos está
concluído; o editor, E. Dentu, envia-o à Imprimerie de Beau, em
Saint-Germain-en-Laye, que dista 23 km de Paris, a oeste (AK II 73 e 75). As
despesas correm inteiramente por conta de Rivail (AK II 257). O casal Rivail
residia então à Rue des Martyrs, 8, no segundo andar, nos fundos do pátio, onde
estava pelo menos desde março de 1856 (OP 273).
1857 - A 18 de abril, vem à luz a primeira edição de O Livro dos Espíritos (Le
livre des Esprits). Contendo os princípios da doutrina espírita sobre a natureza
dos Espíritos, suas manifestações e suas relações com os homens; as leis morais,
a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade; escrito sob o ditado e
publicado por ordem de Espíritos Superiores por Allan Kardec. Paris, E. Dentu,
Libraire, Palais Royal, Galerie dOrléans, 13.{nota 3}
Essa primeira edição contém 501 questões, distribuídas em 3 partes (176 pp.).
Afora a tábua dos capítulos, há um útil índice analítico ("Table alphabétique").
Não há conclusões; apenas um Epílogo, de menos de uma página. As notas de
Rivail, em número de 17, vêm todas no final, ocupando 12 páginas. Ao longo de
toda a primeira parte ("Livre premier. Doctrine spirite.") adota-se uma forma de
exposição dupla: na coluna da esquerda, perguntas e respostas; na da direita, o
texto corrido equivalente. É nesta obra que Rivail adota o pseudônimo de Allan
Kardec nome que teria tido em antiga encarnação entre os druidas, sacerdotes do
povo celta, que ocupou a Gália, a Grã-Bretanha e a Irlanda (AK II 74-80). No
Epílogo, anuncia-se para breve a publicação de um suplemento, contendo novos
ensinos. No entanto, Kardec acaba desistindo da idéia, elaborando, em seu lugar,
uma segunda edição "inteiramente refundida e consideravelmente aumentada", que
viria a público em março de 1860 (ver seção 6 deste nosso trabalho). Em 1957
Canuto Abreu publicou edição bilíngüe da primeira edição de O Livro dos
Espíritos, sob o título O Primeiro Livro dos Espíritos (São Paulo, Companhia
Editora Ismael).
4. A Revista Espírita (Revue Spirite)
1858 - A 1o de janeiro Kardec lança o primeiro número da Revista Espírita (Revue
Spirite), jornal de estudos psicológicos. Contendo o relato das manifestações
materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc., assim como
todas as notícias relativas ao Espiritismo. O ensino dos Espíritos sobre as
coisas do mundo visível e do mundo invisível; sobre as ciências, a moral, a
imortalidade da alma, a natureza do homem e seu porvir. A história do
Espiritismo na Antigüidade; suas relações com o magnetismo e o sonambulismo; a
explicação das lendas e crenças populares, da mitologia de todos os povos, etc.
Paris; bureau à Rue des Martyrs, 8.
O primeiro número, com 36 páginas, foi impresso na Imprimerie de Beau, em
Saint-Germain-en-Laye, a mesma que já imprimira O Livro dos Espíritos; as
despesas, como no caso desse livro, também ficaram por conta e risco de Kardec
(AK III 21-33; II 76). A Revista era de periodicidade mensal e durante a vida de
Kardec funcionou em sua própria residência, ou seja:
1o /1/1858 - Rue des Martyrs, 8.
15/7/1860 - Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne, 59).
1/4/1869 - Nessa data estava programada a transferência dos Escritórios e do
Expediente para a Librairie Spirite,* Rue de Lille, 7, que também sediaria
provisoriamente a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; a Redação iria para
a Villa Ségur (Av. de Ségur, 39), casa de propriedade de Kardec pelo menos desde
1860, para a qual se mudaria com a dedicada esposa. (AK III 21-24, 35-37,
118-19; II, pp. 24-25)
Era Kardec quem redigia integralmente a revista e cuidava de toda sua
correspondência e expedição, trabalho hercúleo suficiente para consumir todo o
tempo de uma pessoa ordinária. E isso era apenas uma parte de seus trabalhos,
havendo ainda os livros, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, as
centenas de visitantes anuais, as viagens...{nota 4}
A Revue Spirite constitui rico manancial doutrinário, pouco explorado pelos
espíritas. Os originais franceses, ainda necessários para pesquisas cuidadosas,
são raríssimos em todo o mundo. Kardec discorre sobre a idéia da criação da
Revista em OP 293-94. Em suas própria palavras, ela tornou-se-lhe "poderoso
auxiliar" na elaboração da doutrina e na implantação do movimento espírita (AK
III 22; OP 294). Seus objetivos principais eram (AK III 21-33; II 24-25):
Veicular relatos e análises espíritas de fenômenos espíritas, psicológicos,
sociológicos etc.;
Publicar produções mediúnicas selecionadas, obtidas na SPES ou enviadas por
correspondentes;
Sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre princípios em elaboração;
Comentar, à luz do Espiritismo, artigos de jornais, obras literárias,
filosóficas e científicas.
Kardec editou a Revue até o número de abril de 1869, inclusive. Após a morte de
Kardec (31/3/69) ela continuou sendo publicada, graças ao idealismo da Senhora
Allan Kardec, de Pierre-Gaëtan Leymarie e de Jean Meyer, principalmente (AK III
153-57; Reformador, 09/1990, p. 286). A partir de 1913, aditou-se ao título da
revista o artigo la (a), que ficou, desde então La Revue Spirite (AK III
32 e 47). Em lamentável decisão, foi extinta em 1976 por André Dumas, junto com
a Union Spirite Française,{nota 5} para dar lugar a Renaître 2000 e a Union des
Sociétés Francophones pour lInvestigation Psychique et lÉtude de la Survivance
(USFIPES), ambas de cunho não-espírita. Sob a lúcida e firme direção de
Francisco Thiesen, a FEB envidou esforços para salvá-la em 1977, não obtendo
sucesso (AK III 45-57). Felizmente, em 11 de maio de 1989 a Union Spirite
Française et Francophone, com sede em Tours, conseguiu judicialmente recuperar o
título, retomando a publicação da Revue, com periodicidade trimestral.{nota 6}
5. A Société Parisienne des Études Spirites (SPES)
1857 - Por volta de outubro desse ano iniciaram-se reuniões espíritas na
residência do casal Allan Kardec, à Rue des Martyrs, 8. Aconteciam às
terças-feiras à noite, e o médium principal era a Srta. Ermance Dufaux. Com o
número crescente de freqüentadores, fez-se indispensável encontrar um local mais
amplo. A solução encontrada foi alugar uma sala, cotizando-se as despesas entre
as pessoas. (OP 294-95; AK III 34)
1858 - A 1o de abril é fundada legalmente a Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas, ou, em francês, Société Parisienne des Études Spirites, cujo título
Kardec freqüentemente abreviava para Societé Spirite de Paris, Societé des
Études Spirites, ou mesmo Societé de Paris.
Foi nas reuniões semanais da Société que boa parte das atividades mediúnicas e
de estudo supervisionadas por Kardec se desenvolveram. As portas da SPES não
eram abertas ao público, conquanto houvesse "reuniões gerais" em que visitantes
apresentados por membros da Société podiam ser admitidos; essas reuniões se
alternavam, semanalmente, com as "reuniões particulares", às quais somente os
sócios tinham acesso. Isso se compreende perfeitamente, dados os objetivos das
reuniões, ligados essencialmente à pesquisa teórica e experimental dos
fenômenos. A Société era, assim como a Revue, um terreno de elaboração da
doutrina espírita. (OP 294-95; AK III 34-44; II 36-37)
Durante a vida de Kardec, a Sociedade Espírita de Paris ocupou três endereços
(OP 295; AK III 35-37 e 118):
1o /4/1858 - Galerie de Valois, 35, no Palais Royal. As reuniões eram às
terças-feiras. O Palais Royal é importante edifício histórico situado ao lado do
Louvre. Foi construído pelo Cardeal Richelieu no século XVII. Suas elegantes
galerias externas, que circundam o jardim (Montpensier, de Beujolais e de
Valois), foram mandadas construir por Louis-Philippe dOrléans, na segunda
metade do século seguinte. Na Galerie dOrléans (do séc. XIX) ficavam as
livrarias de Dentu (no 13) e Ledoyen (no 31), que editaram várias das obras
espíritas de Kardec (ver adiante).
1o /4/1859 - Galerie Montpensier, 12, no Palais Royal (num salão do restaurante
Douix). Nesse local SPES reunia-se às sextas-feiras.
20/4/1860 - Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne, 59). Nesse mesmo endereço, a
partir de 15 de julho, passa a residir Kardec, que levou consigo a Revue
Spirite. Embora por essa época já possuísse a casa da tranqüila Villa Ségur,
Allan Kardec viu-se na contingência de se alojar nesse apartamento com a
abnegada esposa, dividindo espaço com a Revue e a SPES, para economizar seu
minguado tempo.
1/4/1869 - Estava programada para essa data a transferência provisória da
Société para a Librairie Spirite, Rue de Lille, 7.
6. As outras obras importantes de Allan Kardec
Fornecemos a seguir alguns dados sobre as principais obras de Allan Kardec (além
de O Livro dos Espíritos, de que já tratamos; para uma lista possivelmente
completa, ver AK III 15, 18 e 19). Algumas das informações referentes a dias e
meses das publicações foram colhidas nas edições da FEB. Quanto às edições em
francês atuais, indicamos as que pessoalmente possuímos; em alguns casos, há nas
livrarias outras edições. Abreviaremos os dados referentes aos editores
originais segundo estas convenções (note-se que várias das obras saíram por mais
de um editor):
Dentu E. Dentu, Libraire. Palais Royal, Galerie dOrléans, 13.
Ledoyen Ledoyen, Libraire. Palais Royal, Galerie dOrléans, 31.
Didier Didier et Cie., Libraires-Éditeurs. Quai des Augustins, 17.{nota 7}
1858 - Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas (Instruction pratique
sur les manifestations spirites). Contendo a exposição completa das condições
necessárias para se comunicar com os Espíritos, e os meios de se desenvolver a
faculdade mediadora nos médiuns. Bureau de la Revue Spirite, Rue des Martyrs, 8;
Dentu; Ledoyen.
Com a publicação de O Livro dos Médiuns, em 1861, Kardec não mais fez imprimir a
Instruction (152 pp.), à época já esgotada, considerando-a superada, quanto à
abrangência, pela nova obra. É, porém, de significativo valor histórico; hoje
está novamente disponível em francês (Paris, La Diffusion Scientifique) e em
português, em tradução de Cairbar Schutel (in: Iniciação Espírita, 6a ed., São
Paulo, Edicel, 1977; também publicado pela Casa Editora O Clarim, de Matão, em
1987).
1859 - O que é o Espiritismo (Quest-ce que le Spiritisme). Introdução ao
conhecimento do mundo invisível pelas manifestações dos Espíritos, contendo o
resumo dos princípios da doutrina espírita e respostas às principais objeções.
Ledoyen. [100 pp.]{nota 8}
Edição francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Tradução brasileira recomendada:
Rio, FEB (não se indica o tradutor).
1860 - (março) - Segunda edição de O Livro dos Espíritos. Contendo os princípios
da doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e
suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o
porvir da humanidade. Segundo o ensino dado pelos Espíritos Superiores com o
auxílio de diversos médiuns, recolhidos e ordenados por Allan Kardec. Segunda
edição, inteiramente refundida e consideravelmente aumentada. Didier; Ledoyen.
Acima do título, aparece agora a frase "Filosofia espiritualista". Essa nova
edição, que se tornou definitiva, tem 1019 questões, distribuídas em quatro
partes. São acrescentadas as Conclusões; não há mais índice alfabético,
infelizmente. A forma de exposição dupla não aparece em nenhuma das partes. As
notas vêm agora logo após as respostas dos Espíritos, sendo muitíssimo mais
numerosas; é fácil ver que muitas delas provêm do texto corrido da primeira
parte da primeira edição.{nota 9}
1861 - (15 de janeiro) - O Livro dos Médiuns (Le livre des médiums), ou guia dos
médiuns e dos evocadores. Contendo o ensino especial dos Espíritos sobre a
teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de se comunicar com o
mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos
com que se pode deparar na prática do Espiritismo. Para fazer seqüência ao Livro
dos Espíritos. Didier; Ledoyen. [498 + iv pp.; AK III 173]
1861 - Segunda edição de O Livro dos Médiuns. Revista e corrigida com o concurso
dos Espíritos, e acrescida de grande número de instruções novas. Didier;
Ledoyen. [510 + viii pp.]
Edição francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Edição brasileira recomendada:
FEB, tradução de Guillon Ribeiro, inteiramente revista a partir da 59ª edição.
1862 - (fevereiro) - O Espiritismo na sua Expressão mais simples (Le Spiritisme
à sa plus simple expression). Exposição sumária do ensino dos Espíritos e de
suas manifestações. Ledoyen. [36 pp.]
Em 1994 esse opúsculo foi reeditado pelo Centre dÉtudes Spirites Allan Kardec,
de Paris. Existem várias traduções para o vernáculo, sendo hoje disponíveis as
de Dafne R. Nascimento, publicada pela Federação Espírita do Estado de São Paulo
em 1984, e a de Joaquim da Silva Sampaio Lobo (in: Iniciação Espírita, 6a ed.,
São Paulo, Edicel, 1977).{nota 10}
1862 - Viagem Espírita em 1862 (Voyage spirite en 1862). Contendo: 1. As
observações sobre o estado do Espiritismo; 2. As instruções dadas por Allan
Kardec nos diferentes grupos; 3. As instruções sobre a formação dos grupos e das
sociedades, e um modelo de regulamento para o uso deles e delas. Ledoyen. [64
pp.]
Esse livro é atualmente publicado em Paris pela Éditions Vermet; no Brasil, em
Matão, pela Casa Editora O Clarim, em tradução de Wallace Leal Rodrigues. Em
nenhuma dessas edições constam dizeres após o título; tomamo-los de AK III 18,
onde não se esclarece se estavam nas edições originais. Afora as mencionadas
instruções e regulamento, o corpo da obra consiste de três discursos proferidos
por Kardec aos espíritas de Lyon e Bordeaux em sua famosa viagem.
1864 - (abril) - Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo (Imitation de
lÉvangile selon le Spiritisme). Contendo a explicação das máximas morais do
Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas posições
da vida. Por Allan Kardec, autor do Livro dos Espíritos. Fé inabalável só o é a
que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.
Paris, os editores do Livro dos Espíritos; Ledoyen, Dentu, Fréd. Henri,
livreiros, no Palais Royal, e no escritório da Revue Spirite, Rue e Passage
Sainte-Anne, 59.
Essa obra, impressa na Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie, Rue Mazarine, 30,
possui 444 + xxxvi páginas. É precursora de O Evangelho segundo o Espiritismo, e
não mais seria impressa por Kardec após a publicação deste, em 1866. No entanto,
é de grande valor histórico, sendo essa a razão pela qual em 1979 a FEB
reeditou-a em reprodução fotográfica. Não temos notícia de outras edições
recentes, nem de traduções. Naturalmente, imitação aqui não se deve entender
no sentido hoje popular, de cópia, mas no de prática (ver a introdução de
Hermínio Miranda à edição febiana para esclarecimentos adicionais).
1865 - (1o de agosto) - O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina segundo o
Espiritismo (Le ciel et lenfer, ou la justice divine selon le Spiritisme).
Contendo o exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à
vida espiritual, as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as
penas eternas, etc.; seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da
alma durante e depois da morte. "Por mim mesmo juro, disse o Senhor Deus, que
não quero a morte do ímpio, senão que ele se converta, que deixe o mau caminho e
que viva." (Ezequiel, 33:11). Paris; os editores de O Livro dos Espíritos,
Librairie Spirite.
Em nossos dias, está disponível edição belga da Éditions de lUnion Spirite. A
tradução da FEB é, neste caso, de Manuel Quintão. (AK III 108 faz menção à "21a
edição, revista, 1974.)
1866 - O Evangelho segundo o Espiritismo (LÉvangile selon le Spiritisme).
Os dizeres da página de rosto são idênticos aos de LImitation, exceto pela data
e pela frase "Terceira edição, revista, corrigida e modificada". Vê-se,
portanto, que Kardec considerava esta obra uma nova edição da anterior, apesar
da simplificação do título. Segundo se lê no prefácio de Thiesen à edição da FEB
de LImitation, a segunda edição, de 1865, seria apenas outra tiragem do
primeiro livro. No entanto, em AK III 18 esse mesmo autor escreve: "Da 2a ed. -
1865 - em diante, essa obra tomou novo título...". Para que esta última
informação seja compatível com a anterior, deve-se entender aqui 2a edição
exclusive.* De qualquer modo, é a terceira edição que se tornou definitiva,
servindo de base para as edições posteriores em francês e nos vários idiomas em
que foi traduzida. Também devido à sua raridade e seu valor histórico, a FEB
lançou, em 1979, uma reprodução fotográfica dessa edição. Na França, é hoje em
dia publicada por La Diffusion Scientifique. Em português, a tradução clássica
recomendada é a de Guillon Ribeiro (FEB), inteiramente revista a partir da 104a
edição.
1868 - (6 de janeiro) - A Gênese, os milagres e as predições segundo o
Espiritismo (La genèse, les miracles et les prédictions selon le Spiritisme).
Paris, Librairie Internationale. *
Esse foi o último livro publicado por Kardec. Pode ser encontrado hoje em edição
da La Diffusion Scientifique, de Paris. A corrente edição da FEB foi traduzida
por Guillon Ribeiro.
1890 - (janeiro) - Obras Póstumas (Œuvres Posthumes). Paris, Société de
Librairie Spirite. [450 pp.]
Editado por Pierre-Gaëtan Leymarie, esse livro reúne importantes textos de
Kardec, quer de caráter teórico, sobre diversos assuntos, quer sobre fatos
relativos às atividades espíritas do mestre. Em AK III 19 lê-se que uma segunda
edição veio a lume ainda no mesmo ano de 1890. Guillon Ribeiro traduziu o livro
para a FEB, a partir da primeira edição francesa. A edição atual da Dervy-Livres
conta com controversos comentários, introdução e notas de André Dumas.
Consoante ao objeto deste nosso trabalho, a lista acima contém apenas os textos
mais importantes e, sobre eles, apenas algumas informações básicas. O volume III
da obra Allan Kardec é de consulta obrigatória para o estudioso que queira
acercar-se da fonte mais extensa e segura de dados sobre o conjunto da produção
de Kardec.
7. A partida de Allan Kardec e alguns acontecimentos posteriores
1869 - (31 de março) - Desencarna subitamente Allan Kardec, enquanto atende a um
caixeiro de livraria, no seu apartamento da Rue Ste.-Anne, muito provavelmente
vitimado pela ruptura de um aneurisma de aorta (AK III 110, 116 e 119). No dia
seguinte, deveria desocupar esse imóvel, indo para a casa da Villa Ségur; os
escritórios da Revue iriam para a Rue de Lille, Librairie Spirite, que sediaria
também a SPES.
O corpo foi sepultado ao meio-dia de 2 de abril, no cemitério de Montmartre.
Estima-se que mais de mil pessoas acompanharam o cortejo, que seguiu pelas ruas
de Grammont, Laffitte, Notre-Dame-de-Lorette, Fontaine e pelo Boulevard de
Clichy. À beira da sepultura, Camille Flammarion, astrônomo e médium da SPES,
pronunciou o seu importante discurso, que a FEB fez figurar na sua edição de
Obras Póstumas. Na primeira reunião da SPES após esse fato, os membros presentes
lançaram a idéia de se levantar um monumento ao mestre, que logo recebeu adesão
de espíritas de muitas cidades. Foi assim que se fez construir o famoso dólmen
do cemitério Père-Lachaise, para onde os restos mortais de Kardec foram
transladados a 29 de março de 1870.
1870 - (31 de março) - Inaugura-se o monumento druida do Père-Lachaise. Esse
famoso cemitério é considerado museu, tendo sido ali sepultados inúmeros dos
grandes vultos franceses e mesmo de outros países. O de Kardec é o túmulo mais
visitado e o mais florido de todos.{nota 11}
Quando de sua inauguração, o dólmen não registrava a célebre frase "Nascer,
morrer, renascer ainda e progredir continuamente, tal é a lei", que foi
insculpida ainda em 1870. Ao contrário do que muitas vezes se afirma, essa frase
não se deve textualmente ao próprio Kardec, não obstante represente corretamente
o pensamento espírita (AK III 118-152).
1871 - ( junho) - Pierre-Gaëtan Leymarie assume a gerência da Revue e da
Librairie Spirite (AK III 157).
1875 - Vêm à público as primeiras edições brasileiras de livros de Kardec
(excetuando-se o já citado opúsculo O Espiritismo na sua Expressão mais simples,
publicado em São Paulo em 1862; ver nota no 10, acima): O Livro dos Espíritos, O
Livro dos Médiuns e O Céu e o Inferno, traduzidos por Fortúnio, pseudônimo do
Dr. Joaquim Carlos Travassos. No ano seguinte também apareceria, pelo mesmo
tradutor, O Evangelho Segundo o Espiritismo. O Editor dessas obras foi B. L.
Garnier, do Rio de Janeiro. (AK III 175-80)
1883 - (21 de janeiro) - Morre Madame Allan Kardec. Dois dias após seu corpo é
sepultado junto ao do esposo, no Père-Lachaise, saindo o féretro de sua casa na
Villa Ségur. Amélie-Gabrielle Boudet nascera em 1795, a 23 de novembro, e não a
21, como se insculpiu no túmulo. (AK III 158-60)
1883 - (21 de janeiro) - Fundação da revista Reformador, por Augusto Elias da
Silva.
1884 - (2 de janeiro) - Fundação da Federação Espírita Brasileira, também por
Augusto Elias da Silva.
1898 - A Revue muda-se da Rue du Sommerard, 12 para a Rue St.-Jacques, 42, onde
permaneceu por algumas décadas; no local existe hoje a Librairie Leymarie, que
pertenceu a Pierre-Gaëtan Leymarie. (AK III 226-27)
1923 - Jean Meyer funda a Maison des Spirites, na Rue Copernic, 8 (AK I 172; cf.
porém AK III 203 *). Continha arquivos importantes que forma destruídos pelos
nazistas. Sediou a Éditions Jean Meyer (B.P.S), que publicou muitas das obras
clássicas do Espiritismo, bem como a Revue, de 1923 a 1971, quando morreu Hubert
Forestier (AK III 227).
8. Relação dos endereços:
Fornecemos abaixo uma relação dos principais endereços ligados ao Espiritismo na
França, destinada a facilitar visitas e a localização em mapas:
Rue Sale, 76 (Lyon) - Local onde nasceu Rivail.
Rue de la Harpe, 117 - Rivail estava nesse endereço em janeiro de 1823.
Rue Vaugirard, 65 - Rivail esteve nesse endereço pelo menos de 1828 a 1831.
Rue Christine, 5 - Imprimerie de Pilet-Ainé, que em 1824 publicou o primeiro
livro de Rivail.
Rue de Sèvres, 35 - Institution Rivail, de 1826 a 1834; Lycée Polymathique, até
1850.
Rue Grange-Batelière, 18 - Casa da Sra. Plainemaison, onde Rivail fez as
primeiras observações, em maio de 1855.
Rue Rochechouart - Família Baudin, 1855. Aqui começaram as pesquisas
sistemáticas de Rivail.
Rue Lamartine - Novo endereço dos Baudin, a partir de 1856. Grande parte do
trabalho inicial de Kardec desenvolve-se nas reuniões dessa família.
Rue Tiquetonne, 14 - Casa do Sr. Roustan. Com a médium Srta. Japhet, Rivail
desenvolveu importantes trabalhos, incluindo a revisão do Livro dos Espíritos.
Rue des Martyrs, 8 (segundo andar, ao fundo do pátio) - Residência de Rivail
pelo menos desde março de 1856, ficando até 14/7/1860. Em outubro de 1857,
começaram aí as reuniões de estudo que dariam origem à SPES. No local foi
publicada 1a ed. de O Livro dos Espíritos (18/4/57) e lançada a Revue Spirite
(1/1/58).
Saint-Germain-en-Laye (23 km oeste de Paris) - Imprimerie de Beau, que imprimiu
a 1a ed. de O Livro dos Espíritos e a Revue Spirite.
Galerie dOrléans, 13 (Palais Royal) - Dentu, editor da 1a ed. do Livro dos
Espíritos, da Instrução Prática, da Imitação e do Evangelho.
Galerie dOrléans, 31 (Palais Royal) - Ledoyen, editor da 2a ed. do Livro dos
Espíritos, da Instrução, do Livro dos Médiuns, do Espiritismo em sua Expressão
mais simples, da Viagem Espírita, da Imitação, do Evangelho e do Céu e o
Inferno.
Galerie de Valois, 35 (Palais Royal) - primeiro endereço da SPES, a partir de
1/4/58 (reuniões às terças-feiras)
Galerie de Montpensier, 12 (Palais Royal; restaurante Douix) - segundo endereço
da SPES, a partir de 1/4/59.
Quai des Augustins, 35 - Didier et Cie, editor da 2a ed. do Livro dos Espíritos,
do Livro dos Médiuns e do Céu e o Inferno.
Rue Mazarine, 30 - Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie, que imprimiu LImitation
de lÉvangile, em abril de 1864.
Passage Sainte-Anne (Rue Sainte-Anne, 59) - SPES, a partir de 20/4/60; domicílio
de Kardec e Revue Spirite, a partir de 15/7/60;
Villa Ségur (Av. de Ségur, 39) - casa de propriedade de Kardec pelo menos desde
1860, para a qual se mudaria definitivamente em 1/4/1869. O casal por vezes
usava a casa para recepcionar visitas e para realizar trabalhos que exigiam
recolhimento. Amélie-Gabrielle ficou nela até sua morte, em 1883. Era desejo de
Kardec que a casa se transformasse, quando não mais estivessem encarnados ele e
a esposa, em abrigo para espíritas desvalidos.
Rue de Lille, 7 - Revue e SPES depois da morte de Kardec (31/3/69); aí já
funcionava a Librairie Spirite.
Rue du Sommerard, 12 - Sediou a Revue por breve período, de 1897 (quando foi
liquidada a Librairie Spirite *) a 1898 (AK III 202, 227 e 262).
Rue Saint-Jacques, 42 - Librairie Leymarie, que abrigou a Revue de 1898 até 1923
(AK III 227); existe ainda hoje como livraria espiritualista.
Rue Copernic, 8 - Maison des Spirites, fundada em 1923 por Jean Meyer (AK I
172), funcionou até a década de 1970. *
Rue Jean-Jacques Rousseau, 15 - Union Spirite Française, fundada em 1919 Jean
Meyer e Gabriel Delanne; substituída em 1976 pela U.S.F.I.P.E.S.
Rue du Docteur Fournier, 1, 37000 Tours - Union Spirite Française et
Francophone, que atualmente publica La Revue Spirite.
Rue de Flandre, 131, Résidence Île de France, bâtiment E1, 75019 Paris, tel.:
(01)42090869- Centre dÉtudes Spirites Allan Kardec (em funcionamento).
Cemitério de Montmartre (região norte de Paris) - Sepultamento de Kardec a
2/4/69.
Cemitério do Père-Lachaise (região leste de Paris) - Sepultura definitiva de
Kardec, a partir de 29/3/70; o dólmen é inaugurado dois dias depois.
Notas
1. A primeira edição dessa biografia data de 1896 e aparecia traduzida na
coletânea O Principiante Espírita, que a FEB publicava no passado; a quarta
edição foi prefaciada por Léon Denis (ver Allan Kardec, vol. I, pp. 200, 198 e
29; vol. II, p. 15). Há referências a uma "nouvelle édition", de 1910, com
prefácio de Gabriel Delanne (ver ibid., vol III, p. 117 e vol II, p. 15).
[volta]
2. Em Obras Póstumas, p. 271, há uma comunicação atribuída à mediunidade da
Senhora ("Mme" ) Baudin; teria sido uma falha tipográfica, ou ela também era
médium? Embora na página 267 Kardec diga que os médiuns eram "as duas senhoritas
Baudin", nas comunicações mediúnicas transcritas nunca especifica qual serviu de
médium, escrevendo simplesmente "Mlle Baudin". Na Revue Spirite de 1858 (ver AK
II 64-65) Kardec refere-se explicitamente a uma série de comuncações
transmitidas por Caroline, notando, incidentalmente, que "mais tarde o médium se
serviu da psicografia direta". Em OP 271 Kardec relata que em fins de 1857 ambas
se casaram e a família se dispersou, ficando implícito que não pôde mais contar
com sua mediunidade. Em seus controversos comentários à edição bilíngüe da
primeira edição de O Livro dos Espíritos (p. viii), Canuto Abreu avança que
Caroline e a irmã tinham, em agosto de 1855, 16 e 14 anos, respectivamente, e
que a mais velha era o médium principal; não pudemos confirmar essas informações
em fontes independentes. [volta]
3. Esses dizeres que se seguem ao título são os que constam da página de rosto
da obra (ver fac-símile à p. 75 de AK II). Observações semelhantem valem para os
demais livros de Kardec mencionados nas seções seguintes. [volta]
4. Em 1866 sofreu séria crise de saúde, conseqüente à sobrecarga de trabalho e
de preocupações, sendo assistido pelo Dr. Demeure, que o advertiu quanto aos
limites das forças corporais. Por insistência desse Espírito, Kardec passou a
contar, para a correspondência comum e a parte mais material das tarefas, com a
ajuda de um secretário, o Sr. A. Desliens, médium e membro da SPES (*** AK III
111, 286, 301, 302 e 42). Com a desencarnação do mestre em março de 1869,
Desliens ficou como secretário-gerente da Revue, até junho de 1871 (AK III 157,
136). [volta]
5. A Union Spirite Française foi fundada por Jean Meyer e Gabriel Delanne em
1919, não tendo relação direta com a antiga SPES, que encerrou suas atividades
ainda no século passado, bem pouco tempo após a morte de Kardec. (AK II 16 e 17;
III 156) [volta]
6. Notícia veiculada em Reformador, abril e maio de 1990, pp. 128 e 130,
respectivamente; ver também La Revue Spirite, janeiro de 1997 (no 30), p. 7.
Assinaturas podem ser feitas escrevendo-se para o endereço da USFF: 1, Rue du
Docteur Fournier, 37000 Tours, France. Além de editar La Revue Spirite, a Union,
promove o intercâmbio entre os grupos espíritas da França (pouco mais de uma
dezena, a maioria de criação recente), e tem representado o movimento espírita
francês no plano internacional. Segundo se depreende de artigo da autoria de
Affonso Soares publicado em Reformador de novembro de 1986 (p. 341), a USFF
teria sido fundada em fins de 1985, junto com uma publicação oficial, a Revue
des Spirites. No entanto, no número de junho de 1989 do periódico febiano, o
mesmo autor diz que a fundação da Union ocorreu em 1987; essa informação
parece-nos incorreta. Neste artigo mais recente assevera-se ainda que a
publicação trimestral se chama La Nouvelle Revue Spirite. Desse modo, antes de
conseguir recuperar o título La Revue Spirite o valoroso grupo espírita de
Tours teria dado dois outros nomes à sua revista.[volta]
7. Pierre-Paul Didier foi um dos mais dedicados colaboradores de Kardec, membro
fundador da SPES, tendo nela atuado como médium (AK III 377, 79, 323 e 82);
desencarnou em 2/12/1865, mas como Espírito continuou diretamente envolvido nas
atividades de Kardec (ibid. 85, 92, 289). [volta]
8. Não vimos a primeira edição; nas edições a que tivemos acesso, há divergência
quanto ao texto que segue ao título. O que traduzimos consta da edição atual da
Dervy. Nas notícias da segunda edição de O Livro dos Espíritos (ver fac-simile
no Reformador de abril de 1989, p. 105) está do seguinte modo: "Introduction à
la connaissance du monde invisible ou des Esprits, contenant les principes
fondamentaux de la doctrine spirite et la réponse à quelques objections
préjudicielles." O que se encontra em AK III 13 corresponde aproximadamente a
esse texto. [volta]
9. Constatou-se, em época relativamente recente (ver Reformador, abril de 1989,
pp. 104-107), que Kardec anexou à segunda edição algumas notas e erratas,
destinadas a complementar e corrigir o texto. Pôde-se também verificar que na
oitava edição elas ainda apareciam; não se sabe a partir de qual edição deixaram
de figurar, nem por que Kardec não conseguiu inserir as correções e acréscimos
refundindo o texto. Lamentavelmente, nem as edições francesas atuais nem as
traduções para o vernáculo incorporam ou sequer mencionam as modificações, que o
próprio Kardec considerava imprescindíveis. Parece-nos de suma importância que
esse material venha a público de forma completa, e que seja incorporado nas
novas edições. [volta]
10. Em AK III 18, 176 e 353-54 informa-se acerca de três traduções antigas: uma
por Alexandre Canu, colaborador da SPES, "que se achava à venda com J.P.
Aillaud, Monlon e C..., em Lisboa, Rio de Janeiro e em Paris (1862); outra
publicada em São Paulo, sem indicação de tradutor, pela Typographia Litteraria
(1866); e finalmente outra da FEB, traduzida e anotada por Guillon Ribeiro (não
se menciona a data da primeira edição, dizendo-se apenas que ainda há nos
arquivos exemplares de 1921 e 1933). [volta]
11. Destaca-se esse ponto no próprio mapa do cemitério. Na madrugada 2 de julho
de 1989 o túmulo sofreu um atentado a bomba, que o danificou parcialmente, sendo
posteriormente restaurado pela Prefeitura de Paris. (Reformador, julho de 1989,
p. 194, e setembro de 1990, p. 284.)
Silvio Seno Chiubeni