Dor Bendita
Lembro-te, velho amigo, a triste liderança...
Ajudas-te ao corcel... O corcel rincha e voa...
Ordenas atacar, a trombeta ressoa...
Levas contigo a morte e o sofrimento avança.
Aniquilas a vida, extingues a esperança...
Matas, feres, destróis, envileces à-toa...
Fazem-te chefe e rei, guardas cetro e coroa,
Mas, em plena vitória, o túmulo te alcança!...
Depois de tanto tempo, achei-te reencarnado;
Mendigo sem ninguém, redimes o passado...
Dói-me fitar-te a lepra em calvário imprevisto...
Entretanto, bendize a dor que te consterna,
Por ela, ascenderás à luz da vida eterna,
Para servir ao Bem, entre as hostes do Cristo!...
(Versos dedicados a um companheiro que conheci, há quatro séculos, na condição
de guerreiro eminente e rei triunfante, amigo esse que teve a infelicidade de
abusar do poder, na prática do mal, e que hoje reencontrei reencarnado, na
posição de mendigo, entregue a dolorosas provações, na via pública).
Epiphaneo Leite