Entes Amados
Referimo-nos aos entes amados como sendo tesouros do coração. Erigem-se na
existência, por bênçãos de Deus que nos enriquecem de tranqüilidade e
reconforto. São eles pais ou filhos, parentes ou companheiros, irmãos ou amigos
que nos entretecem a alegria de viver com o doce magnetismo da afinidade. Para
eles voam os nossos melhores pensamentos de carinho e previdência, tolerância e
compreensão. Às vezes, supomos encontrar neles as mais nobres criaturas da Terra
e, no afã de testemunhar-lhes a confiança e ternura, proclamamos o intento de
subtraí-los às dificuldades educativas do mundo, sob o pretexto de livrá-los de
sofrimento e tentação. Decerto, semelhante empresa é atenciosamente seguida na
Vida Maior pelos instrutores devotados que nos patrocinam a inspiração e a
segurança.
A preocupação de prover as necessidades daqueles que estimamos não é tão-somente
legítima, é indispensável. E tudo o que pudermos ofertar-lhes em abnegação
redundará em sementeira de luz e amor a frutescer, um dia, em amparo e
felicidade para nós mesmos.
Habitualmente, contudo, um problema aparece na lavoura afetiva a que nos
consagramos: tranca-se-nos o afeto, em torno das pessoas que a vida nos confiou
à dedicação e eis que elas, a pouco e pouco, se transformam em prisioneiras de
nossas exigências, sem que venhamos a perceber.
Quando isso acontece, passamos instintivamente a entravar-lhes o passo e a
influenciar-lhes, em demasia, o modo de ser. Daí nascem dificuldades e conflitos
que é imprescindível saber evitar.
Cada um de nós traz consigo realizações inacabadas, objetivos por atingir,
tarefas ou débitos diferentes que, na maioria das ocasiões, não nos permitem a
comunhão imediata uns com os outros.
À vista disso, os que desejamos tanto a felicidade das criaturas que se nos
fazem extremamente queridas, saibamos respeitar-lhes a independência – o dom da
independência que a Lei Divina a todos nos conferiu.
Auxiliemos nosso entes amados a serem eles próprios, com as faculdades que lhes
singularizam a alma. Devotemo-nos à construção da felicidade deles, com os mais
entranhados sentimentos do coração, mesmo porque as Revelações Divinas nos
conclamam incessantemente a amar-nos com entendimento recíproco, mas peçamos a
Deus nos ajude a reconhecer-lhes a liberdade, a fim de que escolham os caminhos
e experiências que lhes pareçam mais justos à jornada de progresso e elevação,
sem que haja cativeiro na vida, nem para eles nem para nós.
Emmanuel