Ajudem os Pequeninos
Enquanto gorjeiam pássaros coloridos pelo espaço azul, há outros que,
feridos, caídos dos ninhos, são dependentes da boa vontade de quem os encontra,
ou contarão com o faro aguçado de outros animais que lhes oferecerão perigos.
Há tantas aves que chilreiam pelas campinas ou que revoam sobre os canteiros em
flor, exibindo a beleza da sua plumagem e, gárrulas, dançam em plena corte.
Há, por outro modo, aquelas avezitas detidas, engaioladas, limitadas, cujos
matizes não se exibem nos espaços, e que não têm a liberdade de beijar o Sol ou
de desfrutar dos ventos que sopram sob os anilados céus.
Da mesma forma que encontramos aves livres e leves, bem como outras reclusas e
limitadas, temos as crianças.
Existem tantos lares-gaiolas, lares-prisões, lares-opressão, em contraste com
poucos lares-canteiros, lares-bosques exuberantes, lares-céus azuis. Os
primeiros são os que reprimem, que enxergam somente o lado sombrio de tudo, que
mutilam o caráter, que inibem a criatividade, que maculam a pureza ou que
perturbam a alma infantil, pela imperícia ou má vontade dos adultos que os
manejam, enquanto que os segundos são os lares como Deus deseja para os Seus
filhos recém chegados às experiências corporais: lares que observam, que
norteiam, que corrigem, que cooperam para o acerto, que incentivam o bem, que
valorizam as conquistas felizes, que deixam crescer os pequenos, enfim.
Há crianças que esperam que algum amigo ou vizinho possa resgatá-las dos
tentáculos dos seus próprios ninhos, que as devoram, aos poucos; há outras,
porém, aflitas diante da perspectiva ou da atuação da violência, ansiosas,
neurotizadas. Outras mais, deprimidas em face do abandono a que são relegadas,
esperam, desesperançadas o que o amanhã lhes propiciará.
Pensemos nesses pequeninos, como pensamos em nossos pássaros, em nossas aves que
correm risco de extinção, e tratemos de presenteá-los com a contribuição do
acompanhamento maduro e afetuoso, da assistência escolar, da formação moral
nobre e segura, das horas de ludicidade construtiva, a fim de que os auxiliemos
a superar a infância difícil, a meninice em perigo, tal como costumam encontrar
ao chegar à Terra.
Será muito importante evitar atulhar a mente infantil com os produtos da
perturbação comum dos adultos, seja a torpeza do palavreado desvairado e
obsceno, seja do noticiário criminoso e amedrontador. Que lhe poupemos do
excesso de atividades que não lhe dêem chance de vivenciar a sua infância. Para
a criança deverá haver hora para tudo, para a escola e para o brinquedo, para o
alimento e para o sono, para a festa e a vivência dela consigo mesma, sem que
uma atividade não comprometa a outra, e para que ela aprenda a coordenar seu
tempo, a disciplinar-se, forjando os dias de harmonia e de maturidade para os
caminhos futuros.
Com Jesus, a nossa criança estará amparada, instruída e aconchegada, se nos
dispusermos a dar-lhe o ninho dos nossos próprios braços e dos nossos corações,
aprumado nas ramagens da nossa lúcida inteligência, como faria o Divino Mestre,
que rogou para que ninguém impedisse de chegar até Ele os pequeninos.
Clélia Rocha