O Espantalho
O astuto comandante de entidades das trevas reuniu a pequena expedição de
companheiros que voltavam da esfera física, onde haviam ido a combate dos
espíritos, e lhes tomava contas.
- Eu, - dizia um dos perseguidores, sarcásticos, - torturei a cabeça de
fervoroso pregador de Kardec, impedindo-lhe o acesso à tribuna por mais de dois
meses.
- Ótimo! – falou o chefe – entretanto, isso terá trazido muitos benfeitores ao
socorro preciso.
- Eu - chacoteou um deles – consegui provocar a queda de uma criança anulando o
concurso de operosa médium passista por duas semanas.
- Excelente! – concordou o diretor das sombras – mas não resolve porque muita
gente do plano superior terá vindo...
Outros relacionaram atividades inferiores diversas sem que o mentor cruel
demonstrasse encantamento maior.
Um deles informou, porém:
- Eu encontrei um grupo de espíritas convictos e devotados, mas passei a
freqüentar-lhes o pensamento, dizendo-lhes que eles eram imperfeitos,
imperfeitos e imperfeitos, até que todos acreditaram não valer mesmo nada...
Então ai todos cruzaram os braços e começaram a dormir em abatimento e desânimo.
O tenebroso dirigente deu enorme gargalhada e recomendou a turma sombria a
levantar, com urgência, em cada sementeira do Espiritismo, o espantalho da
imperfeição...
Hilário Silva