Estranhos Paradoxos Contemporâneos

Ciclópicos, os tempos atuais do mundo estão a exigir decidida ação no campo do anelado Bem.
Jamais as populações terrenas detiveram tantos livros e tantas revistas especializadas em tudo e sobre tudo, tantas instituições acadêmicas e incontáveis titulações, ao mesmo tempo em que contemplassem a sanha de brutalizante ignorância ganhando espaços em toda parte.

Em nenhuma outra época houve a quantidade de templos, de igrejas, de casas de fé, como agora, multiplicando o número de seus fiéis ou seguidores, convivendo com o desacato de paradoxais espírito materialista e posturas ateístas que escarnecessem de récitas teológicas, quanto de cânticos místicos, ou de oblatas fervorosas, desdenhando as mais brilhantes perorações religiosas.

Nunca se conviveu com tamanha produção industrializada, com tanto mercantilismo internacional e com os disputados royalties que permitem a qualquer povo lançar mão e utilizar-se do que outro produza, desde que se pague o que lhe corresponda pelo uso e, estranhamente, irrompessem fenômenos de desemprego e de fome crônica, constituindo episódios lamentáveis de miséria e violência na vida de multidões desfavorecidas, nas camadas mais baixas das sociedades.

A fraternidade, os grupos de ajuda e instituições filantrópicas, nunca foram tão decantados como na atualidade, apresentando uma face risonha da convivência social. Tristemente, porém, crescem as cifras de suicídios motivados por injustificável solidão, e agigantam-se as populações que vivem nas ruas, sob pontes e viadutos, muitas retirando de lixeiras infectas a sua base alimentar ou o salário para a sua minguada sobrevivência, correndo toda gama possível de perigos, sofrendo todo tipo de frustrações.

Longe de períodos políticos e sociais de exceção, de nenhum modo se poderia conceber o abandono a que são relegadas as massas desafortunadas, que contemplam o desfilar dos carros dourados da luxúria, chocadas, inermes, impotentes, enquanto ouvem discursos assinalados por fementidas promessas, pasmadas, por parte de autoridades públicas que lhes deveriam orientar e assistir, retirando-as dessas valas infelizes em que se encontram chafurdadas, catapultando-as, por meio de escolaridade e trabalho, boa nutrição e saúde, à tão esperada redenção socioeconômica.

Em meio a tudo isso, todavia, surgem significativos pontos de luz, aqui e ali, na figura de valorosos trabalhadores do bem, que recordando os ensinamentos do Mestre Nazareno, evocam a grandeza da caridade e levantam bem alto a flâmula da vivência fraternal pelas sombrias aleias do mundo.

Enquanto pregam, com verbo vigoroso e firme pena, empenhados na sensibilização das almas despistadas ou indiferentes, esses companheiros se aplicam em operacionalizar os conteúdos dos seus falares, corporificando na Terra a sublimada mensagem do Homem de Nazaré, hoje retomada sob a óptica da vibrante e fúlgida Doutrina Espírita, que relê e reinterpreta os ensinos do Cristo, destinados à mentalidade contemporânea.
Assim é que um pugilo de almas dedicadas ao trabalho de Jesus reuniu-se para conformar este livro*, ansioso por refletir em seus escritos o pensamento formoso do Espiritismo, que, em hora tão feliz, se espalha pelo mundo no bojo da Codificação levada a cabo por Allan Kardec.

Que os frutos desse esforço possam saciar essa angustiosa fome de amor e de luz, de entendimento e refletida fé, de maturidade espiritual, de liberdade, enfim, impulsionando o gosto de amar e de servir de tantos que anseiam por participar dessa ingente construção do Reino dos Céus nos corações humanos, sem saber como fazer ou por onde começar.

Evocamos e saudamos, desse modo, o devotamento de todos quantos, nas fileiras do amor ao semelhante, vêm dando seu quinhão de boa vontade, para que se transforme a Terra, e que se desfaçam, gradualmente, as sombras densas que sobre ela se abatem, nesses dias de claro-escuro planetário, a fim de que nos tornemos, então, de fato, um único rebanho sob o cajado de um só Zagal: Jesus Cristo.


* Refere-se ao livro Transtornos mentais: uma leitura espírita, de Suely Caldas Schubert, ed. Minas.


Camilo