Em Qual Escola?
Imagine uma família que se mudou há pouco para uma nova cidade e resolveu
visitar as duas únicas escolas existentes no lugar para decidir em qual delas
matricularia seu filho.
Na primeira visitada, o diretor explicou que lá, a criança estuda durante todo o
ano e, no final do período, fará um teste de avaliação. Se for aprovada, irá, no
ano seguinte, para uma classe especial, com todos os alunos que se dedicaram,
formando uma classe de elite. Se for reprovada, a escola manterá a criança
trancada em uma sala, para sempre, com os demais reprovados. E nem os pais
jamais poderão ver os filhos. Eles nunca mais terão outra chance.
Na segunda escola visitada, os pais verificam que o sistema é diferente. Ao
final do ano, as crianças aprovadas também irão para uma classe mais avançada,
prosseguindo os estudos. As que forem reprovadas repetirão o ano, tendo que se
submeter novamente aos ensinos e aos testes nos quais fracassaram, tantas vezes
quantas forem necessárias.
Agora é fácil raciocinar em qual escola os pais matriculariam seu filho. É de se
duvidar que possa existir algum pai ou qualquer pessoa no mundo que optasse pelo
ridículo da primeira escola. Como alguém teria coragem de expor o próprio filho
a regime tão cruel? Ora, se nós, os pais humanos, não aceitaríamos tal método
absurdo de avaliação e punição, será que Deus, que é infinitamente superior a
nós, bondoso e justo, onipotente, inteligência suprema do Universo e causa de
tudo, usaria esse método injusto e cruel? Isso é inadmissível! Como podemos
comparar Deus às nossas mediocridades e supô-lo cruel e injusto? Sim, porque uma
única chance é inviável e pequena demais, considerando os extremos da vida
humana e as oportunidades tão variadas e distantes entre todos.
Objetivo da escola é ensinar e não punir. O método da segunda escola é, sem
dúvida nenhuma, superior. A primeira escola demonstra um perfil intolerante,
vingativo, punitivo; a segunda escola apresenta uma didática tolerante, sábia,
educadora e, ao mesmo tempo, infinitamente justa, abrindo e renovando contínuas
oportunidades de aprendizado, reparação e continuidade do progresso.
Pensando nos extremos humanos, nas dificuldades e diferenças tão gritantes, nas
oportunidades tão variadas, nas capacidades e deficiências de toda ordem, como
pensar num Deus parcial, intolerante e injusto diante de quadros que tanto fazem
pensar?
E, considere-se ainda, que nos casos dos aprovados na primeira fase, poderão
sofrer reprovação em fase posterior. E aí como consertamos isso?
Esta pequena reflexão, retirada de livro ainda inédito nos contos do amigo
Felinto Elízio, de Maceió-AL, deve ser muito bem analisada. Nada mais
acrescentamos, deixando o leitor refletir sobre o que foi exposto. Ninguém é
obrigado a aceitar a ideia aqui exposta, mas também ninguém pode desprezar, em
sã consciência, a lógica de tais comparações e argumentos. Basta pensar um
pouco...
A escola é a própria vida. Qual a destinação depois?
Orson Carrara