As Duas Bandas
Recebi a sua carta,
Meu caro Antônio José,
Sobre antiga indagação
No campo de nossa fé.
Diz você: "Caro Cornélio,
Escute. Por que será
Que tanta gente prefere
Viver na banda de lá?
Na banda de cá, nós temos
Esperança, paz e luz,
Trabalho de melhoria
Nos créditos de Jesus.
Mas creia que dói saber
Quando se nota e se pensa
Que temos tantos amigos
Enrolados na descrença."
A linha que você fez,
A meu ver, melhor não há:
Separando a nossa banda
Da outra banda de lá.
No entanto, a minha resposta
É igual à que você tem;
Infeliz de quem descrê
Da vida no Mais Além.
Podem surgir brigalhada,
Reclamação, amargura,
Mas no meio dos pampeiros
A fé se mantém segura.
Na banda de cá, por vezes,
A provação fere fundo,
Contudo, a crença dissolve
Qualquer problema do mundo.
Há pessoas separadas,
Bom sendo não nega isso,
Porque nem todos trabalham
Sob o mesmo compromisso.
Ante os que busquem servi-los,
Estão sempre insatisfeitos,
Não procuram qualidades,
Vivem catando defeitos.
Quase sempre, são pessoas
Nessa estranha anomalia:
Cabeça farta de idéias
Com vida seca e vazia.
Da banda de cá, no entanto,
Pode haver muita intriguinha,
Muita lama e tempestade,
Mas a pessoa caminha.
Na banda de lá, meu caro,
Há muita sombra escondida
E muita gente chorando
Sem fé no poder da vida.
Os irmãos que vivem lá
E nisso é que me embaralho,
Desejam achar a fé
Mas não desejam trabalho.
Procuram revelações,
Prodígios fenomenais,
Querem verdades ao certo,
Quando encontram querem mais.
Sendo assim, todos achamos
Muitas lutas por vencer,
Burilamento reclama
Cada qual em seu dever.
Por isso, meu caro amigo,
Sob a fé que serve e anda,
Continuemos fiéis
Do lado de nossa banda.
E supliquemos a Deus
Que a todos sustentará,
Muito amparo à nossa banda
E paz na banda de lá.
Cornélio Pires