A Promessa
"Meus irmãos", era a palavra
De Jovino Conceição,
"A nossa casa de preces
Exige renovação.
O nosso Centro, por si,
Tem muita terra ociosa,
Desde a Rua das Palmeiras
Até a Rua Formosa".
Contava o orador apenas
Dois meses de fé mofina,
Mas era um verbo fluente
Nos assuntos da Doutrina.
"Nosso maior compromisso
Está vinculado ao povo...
Mostraremos na própria ação
Tudo melhor, tudo novo...
Necessitamos pensar
Nas surpresas do porvir
Nossa sede é um pardieiro,
Velha tapeira a cair.
Sendo grande e complicada,
A casa virá no fim...
Teremos primeiramente
Um amplo e belo jardim.
Ergueremos junto dele
A Casa das Refeições,
Que atenda aos necessitados
De todas as direções.
Logo após, levantaremos
O lar que abrigue as crianças,
Demonstrando o nosso zelo
E o nosso apoio ás mudanças.
Faremos nobre instituto,
Com painéis em varias cores,
Educando a juventude
E preparando oradores".
Na pausa, sacou do bolso
Anotações a granel,
De pé, ele organizou
Cinco pastas de papel.
Em seguida, anunciou:
"Trouxe aqui o meu esquema
A fim de que ninguém veja
Que estou criando problema.
Espero que não perguntem,
Nem façam perquirições;
Ganhei, no alto comercio,
Seiscentos e dez milhões.
Não me falem esta frase:
- Dinheiro aqui não se tem,
Dinheiro e Obras do Cristo
É dele e de mais ninguém..."
-Quando será tudo isso?
Indagou Chiquinho Lemos.
O orador disse nervoso:
"Amanhã começaremos."
No entanto, eis a despedida
Que já se achava marcada.
O grupo entregou-se a planos
Até a alta madrugada.
Falou-se em reconstrução,
Em vasto campo de esporte.
Em que toda a criançada
Pudesse ficar mais forte.
No outro dia, muito cedo,
O entusiasmo cresceu...
Mas Jovino Conceição
Nunca mais apareceu.
Cornélio Pires