O Passe e o Passista

Passe é uma transfusão de energias mentais e orgânicas, provenientes do médium passista, acrescidas das energias espirituais e das ambientais que, juntas, produzem as condições de atendimento às necessidades daquele momento.
O médium passista se coloca em posição favorável, concentra-se, imaginando seus braços e mãos como sendo uma bateria de energias, eleva o pensamento, pede ajuda aos bons espíritos para este momento, estende as mãos abertas e paradas sobre aquele que vai receber o passe, inicia sua prece e “despeja” sobre ele aquelas energias que sabe possuir e deseja doar de coração, com a certeza de não estar só nesta empreitada, visto que, a espiritualidade maior também está interessada, fazendo a parte dela a favor das necessidades daquele que deseja doar e daquele que necessita deste benefício.
Para tal, o médium passista deve se preparar antecipadamente, fazendo por ter um bom dia, livre de tensões, discussões, baixo-astral; evitando excesso alimentar, fumo e álcool; mantendo a mente “arejada”, com bons pensamentos e desejos no bem, transformando-se em uma verdadeira bateria de boas energias para doar quando necessário e requisitado.
Para não se transformar este ato em ritual, devemos adotar a postura que Jesus nos ensinou, ou seja, “impor as mãos e orar”, evitando-se querer aparecer com gesticulações dos braços, correr as mãos ao longo do corpo do “paciente”, fazendo barulhos com a boca, esfregando as mãos, estalando os dedos, assobiando e ao final do passe, fazer reverência, abaixando a cabeça com as mãos juntas ou cruzadas sobre o peito, agradecendo talvez, aos espíritos ou “santos” presentes; “querendo aparecer”, ou demonstrar que seu passe seria melhor que o do passista ao lado (Kardec não nos ensina nada disso na sua obra).
Com isso, o passista não se concentra, pois, para se mexer, precisa ficar de olhos abertos, evitando tocar no corpo das pessoas; não concentrado, não eleva o pensamento a Jesus; não elevado, não produz a contento; fica querendo demonstrar uma coreografia desnecessária, que nada tem a ver com o “passe” genuinamente praticado nas Casas Espíritas de boa orientação.
A direção da Casa deve estar atenta para que seus “passistas” não tenham trazido de outros “centros”, ou das co-irmãs “religiões afro-brasileiras”, praticantes de outros tipos de atendimento, com passes gesticulados e falta total de qualquer tipo de estudo da Doutrina Espírita, tornando este “hábito”, adquirido lá, como sendo um passe que possa ser adotado aqui.
Tais irmãos, quando chegados à Casa Espírita, devem ser encaminhados aos estudos regulares, inclusive ao curso de novos passistas, passando por uma reciclagem de informações, esclarecendo-os das práticas ensinadas pelo Codificador e por boa parte de autores sérios na literatura disponível.
Evita-se, dessa forma, a “miscigenação” das posturas adotadas por aqueles que aprenderam corretamente com aqueles que trouxeram as posturas erradas para dentro da câmara de passes da Instituição.
Chamamos a atenção também, para outro aspecto, que é a indumentária usada pelo passista, devendo esta ser simples, sem nenhum aparato, quer de forma ou de cor. O que importa é o “PENSAMENTO ELEVADO” e não a forma e a cor da roupa usada.
Outra crendice seria o fato de se estar com as mãos ou os pés cruzados, o que dificultaria o fluxo das energias no corpo; ou ainda o “passista” necessitar tirar os sapatos na hora de aplicar o passe, bem como brincos, relógio, anéis, colares etc., que não precisam ser tirados, pois não prejudicam o passe ( pura crendice ).
Por respeito à Casa e ao momento, deve-se evitar o uso de calções, bermudas, blusas decotadas e tudo aquilo que não condiz com o ambiente e o momento.
A música suave e em tom baixo pode ser adotada, propiciando um ambiente ameno e acolhedor tanto aos passistas quanto àqueles que vêm esperançosos na busca dos benefícios do momento.
Se o médium passista quiser ser o melhor, deve tornar-se o mais simples, amorável, humilde, desapegado e puro, confiante em si e nos amigos espirituais, ciente de sua pequenez diante da Misericórdia Divina, colocando-se à disposição PARA SER UM BOM INSTRUMENTO nas execuções do Plano Maior. Feito isto, o médium passista produzirá muito, doando de suas energias e aceitando que o resto é a parte de Jesus.
Do Prof. C. Torres Pastorino, tiramos as seguintes explicações a respeito do passe: (...) “A eletricidade positiva ou negativa se agrega mais nas pontas ou extremidades pontudas. Daí terem nascido os pára-raios. Essa a razão pela qual as mãos, os pés e sobretudo os dedos, são as partes mais carregadas em nosso corpo. Por esse motivo os passes são dados com as mãos abertas (o que em o Novo Testamento se diz “impor as mãos”), para que os elétrons fluam através dos dedos. (...) Os passes, portanto, são um “derramamento” de elétrons, através das pontas dos dedos, para restabelecer o equilíbrio daquele que recebe o passe, e que deles está carente. (...) Temos assim que a corrente elétrica poderá ter curso se a pessoa se ligar a um acumulador (unir-se a outra pessoa com vibração suficientemente forte), a uma bateria (reunir-se a uma corrente de pessoas) ou a um gerador (à Força Cósmica, por meio da prece) – (do livro “Técnica da Mediunidade”, Sabedoria Livraria Editora, 3a edição (1975), pags. 24 e 25 ).
Em nossa instituição adotamos duas práticas de passes: às 2as Feiras, PASSE COLETIVO, após os estudos ministrados e, às 5ªs Feiras, PASSE INDIVIDUAL, após a Palestra Pública.
Para os espíritas estudiosos ambos são aceitos, independentemente de julgamentos quanto ao proveito de um ou de outro.
A Casa precisa não esquecer da real e necessária oportunidade de transformar os “freqüentadores” em verdadeiros espíritas. Como? Encaminhando-os aos estudos necessários para o devido esclarecimento e entendimento da Codificação, bem como alertando-os de que freqüentar a Casa Espírita somente naquele dia, para “ouvir” palestra e “tomar” o passe, os mantém visitantes e não participantes desta maravilhosa religião que nos aproxima de Jesus e nos liberta dos nossos atrasos, mazelas e crendices.
Conscientizando-os sobre a responsabilidade que cada um tem para com sua vida espiritual, suas necessidades próprias e pessoais diante de sua encarnação, temos a oportunidade de alertá-los de que não adianta sermos freqüentadores-sociais da Casa Espírita. Crer que, comparecendo uma vez por semana ao culto da sua religião, podem se livrar dos compromissos assumidos antes da encarnação e, diante da Bondade de Deus, poderão se salvar juntamente com todos os seus, é uma idéia falsa !...
A conscientização primeira deve ser da direção da Casa Espírita, habilitando-se para evitar que tais práticas continuem a acontecer. O que não podemos é ser coniventes com práticas indesejáveis dentro do movimento espírita, só para satisfazer desejos e crendices alheias.
Diante dessas necessidades e, para o bom andamento dos trabalhos na Casa Espírita, recorremos às explicações de “O Livro dos Médiuns”, que nos exorta a sermos rígidos para com tudo da Doutrina e se algum médium ou freqüentador se “melindrar” e dizer que se afastará da Casa porque se sente atingido pelas medidas adotadas, diz-nos Kardec que é para deixá-lo ir embora, que a Casa nada perderá com isso, permanecendo com suas portas abertas para recebê-lo, se ou quando voltar.
Achamos a Doutrina Espírita tão bela e simples; se todos a estudassem e se mantivessem dentro dos ensinamentos do Codificador, vigiando-se para não cair nas “tentações” daqueles que acham que um ou outro ritualzinho adotado nos passes não faz mal a ninguém, sem se darem conta de que, exatamente por falta de estudo e conhecimento da Doutrina, os “enxertos” de “achadores” agem como rachaduras em sólidas construções, levando a rachaduras maiores.
Citamos aqui uma frase do pai da medicina, Hipócrates, dita há muitos séculos: “Há, verdadeiramente, duas coisas diferentes: uma é você saber; a outra é você acreditar que sabe. Na primeira reside a Ciência, na segunda, a ignorância.”
Jesus não se utilizou de nenhum ritual para atender às necessidades daqueles que O procuravam; tinha a certeza do amparo da Misericórdia do Pai, elevava o pensamento e impunha a mão sobre o “paciente” e curava, utilizando somente a força mental, sua fé e amor.
Mas somos humanos, temos o personalismo, somos atrasados, carentes, precisamos desesperadamente dos olhares de todos; por isso colocamos em prática nosso lado artístico, para atrair a atenção !!!
Com isso, esquecendo-nos do real “papel” que devemos representar no palco da “mediunidade com Jesus”, colocamo-nos como o “ator” principal da peça. Queremos aplausos !!!
Jesus recomendou cortar a mão e arrancar o olho que causar escândalo; para nós, não será mais fácil “cortarmos” nossas falsas orientações na mediunidade passista ???


A. Sérgio Bernardi