Oportunidades e Desafios para o Movimento Espírita (e também para outros Movimentos/Associações)

Estamos vivendo um momento de júbilo. O mês de novembro/2010 foi o marco deste novo momento. Em artigo de março/2006 meu foco foi a ISO 26.000. Depois de anos de espera, finalmente a ISO 26.000 foi consolidada, o que faz eu reviver aquele antigo artigo (com atualizações), que agora assume real sentido.

Em novembro de 2010 este tão esperado projeto (ISO 26.000) teve – finalmente - todas suas regras alinhavadas e organizadas. Este texto, com o mesmo tema do artigo de 2006, tem diferença apenas no foco. Em 2006 o foco do artigo era o futuro que se avizinhava promissor na área dos projetos sociais, e agora o foco é a oportunidade ímpar que o momento atual nos presenteia. A previsão que apresentei em 2006 agora se faz realidade.

Este artigo visa sobretudo evidenciar as oportunidades e os desafios do movimento espírita para aproveitar deste importante instrumento (ISO 26.000), que representa a tão aguardada normatização da função social das empresas e das instituições em geral, inclusive as espíritas. Para o leitor melhor inteirar-se do tema, informo de forma sintetizada que a ISO 26.000 vai estimular as empresas a injetarem abundantes recursos financeiros nas obras assistenciais espíritas e não-espíritas, numa proporção que nunca ocorreu antes.

Um novo momento!

Para que fique ainda mais evidente a importância deste momento, ressalto que o assunto responsabilidade social tem sido até há pouco apenas um apêndice da área de Recursos Humanos das empresas. No entanto, a partir do anúncio do surgimento da ISO 26.000, as empresas, principalmente as de porte médio e grande, estarão criando Departamentos e/ou Diretorias de Responsabilidade Social. A empresa Natura, de forma pioneira, já faz parte deste movimento. Isto é, o assunto "responsabilidade social" passa a merecer, por parte das empresas, estruturação e ORÇAMENTO!


De PEDINTES a OFERTANTES!
Por que haverá recursos financeiros abundantes para a área assistencial?

Veja os principais motivos:
a) Para bem projetar sua imagem no mercado, a empresa terá que ser ativa e atuante nas normas da ISO 26.000;

b) Para atingir a finalidade do item anterior, a empresa terá que realizar ou atender obras no campo social;

[Obs.: A partir do item abaixo o leitor começará a perceber a oportunidade que se abre para a obtenção de recursos financeiros para as entidades religiosas e assistenciais]

c) As empresas não são especializadas em atuarem em projetos sociais, segmento este que conta principalmente com a ação efetiva das instituições assistenciais e religiosas;

d) Como as empresas não têm a especialização citada no item anterior, e como não querem sair do seu foco produtivo, precisarão utilizar-se das estruturas das instituições assistenciais, ou então de ONG’s, que têm como base de ação as obras sociais;

e) Deduz-se das informações acima, que as instituições assistenciais terão uma fonte contínua e segura de recursos financeiros. Em outras palavras, finalmente, as entidades assistenciais passarão de pedintes de recursos financeiros, para ofertantes de serviços sociais. O que implica numa mudança de 180º, pois nosso discurso irá mudar. Em vez de chegarmos às empresas como pedintes (“Precisamos que nos ajudem financeiramente”), chegaremos a elas como ofertantes (“Em virtude da criação da ISO 26.000, ofertamos nossos serviços na área social para lhes atenderem na necessária atuação das empresas neste segmento.”). Sintetizando, as instituições com foco social entrarão com o trabalho, e as empresas com os recursos financeiros.

Vejamos a seguir as oportunidades e os desafios para o movimento espírita, em função deste novo momento.


Primeiro Desafio & Oportunidade:
Elaboração de Projetos
As empresas irão investir em entidades assistenciais que apresentem projetos consistentes, bem elaborados e de fácil fiscalização da correta utilização dos recursos financeiros injetados.

Neste primeiro momento, não imaginemos que serão fáceis os procedimentos dos Centros Espíritas para se adaptarem a esta nova realidade. As entidades espíritas que quiserem obter recursos, perceberão que será complexo e difícil o período de adaptação às normas da ISO 26.000 e também às conseqüências destas normas. Será preciso quebrarmos paradigmas, sem deixar de sermos espíritas. 


Segundo Desafio & Oportunidade:
O necessário profissionalismo na elaboração dos projetos.

Para a elaboração de projetos consistentes e bem fundamentados as instituições assistenciais terão que se valer, na elaboração dos mesmos, de profissionais altamente gabaritados. O que implica – na maioria dos casos - em eliminar a possibilidade de voluntários abraçarem esta causa. Pois, a complexidade dos projetos exige permanência e continuidade dos que o estarão elaborando. E voluntários têm geralmente (há exceções) que dedicar a maior parte de seu tempo ao trabalho profissional que lhe dá o necessário sustento financeiro. Mas como investir em funcionários altamente gabaritados se o Centro Espírita geralmente tem grande dificuldade financeira para manter sua rotina do dia a dia? A alternativa será as casas espíritas se unirem na cotização dos recursos para fins da contratação destes profissionais.

É importante esclarecer:
Não haverá motivo para contratar profissionais se a entidade espírita tiver voluntários altamente comprometidos, conhecedores do tema ou dispostos a conhecerem-no, e que possam dedicar-se de forma contínua e persistente a este novo projeto. Pergunto-lhe, caro leitor: Há no seu Centro Espírita voluntários altamente comprometidos que possam dedicarem-se com afinco e de forma profissional à elaboração de projetos consistentes? Se houver - o que é raro - repito, não precisará contratar profissionais.

Elementar informação:
Para que os projetos bem funcionem, minha sugestão é a de que em vez de apenas uma casa espírita ter este foco de angariar recursos das empresas, que unam-se casas espíritas - em número de quatro a seis - com este mesmo propósito.

O leitor pode questionar. “Por que este número cabalístico? Por que reunião de casas espíritas em número de quatro a seis?” A razão é que se não quiser conseguir sucesso em alguma coisa, forme – por exemplo - uma comissão com vinte pessoa pessoas. Cinco irão falar e quinze irão ouvir e aí... adeus comprometimento, pois as pessoas só se comprometem quando estão envolvidas na elaboração dos projetos, daí a importância de número pequeno de participantes. União com número pequeno de casas espíritas implicará em convivência produtiva e eficaz.


Terceiro Desafio & Oportunidade:
As empresas querem simplificação e objetividade.

Pelo perfil do mundo corporativo, que quer agilidade, simplicidade e baixo custo, as empresas serão resistentes em investir de forma direta, em cinco casas assistenciais, por exemplo. Pois, o serviço de auditoria contábil e fiscal para verificar a utilização dos recursos, demandaria tempo e dinheiro. Mas, a boa notícia: as empresas poderão investir indiretamente nestas cinco casas assistenciais se elas aproveitarem desta oportunidade (ISO 26.000) para conseguir o que há anos temos como objetivo na seara espírita e, no entanto, ainda caminhamos a passos lentos: a união. Como a ISO 26.000 foi projetada inicialmente no mundo espiritual (como qualquer instrumento de progresso da humanidade), creio que nossa adaptação a este instrumento irá nos despertar ao fato do que é ser verdadeiramente espírita, pois dentre outras coisas, abraçar a ISO 26.000 implicará em aprendermos a exercitar um dos melhores instrumentos para nossa evolução: a convivência proporcionada pela união entre as casas espíritas. 

A solução:
Através da união das casas espíritas, poderia se formar uma única ONG (regional) que centralizasse a injeção de recursos e os distribuísse a todas as casas assistências assistidas. Desta forma as empresas doadoras centralizariam seu contato numa única instituição, isto é, na ONG, e esta, por sua vez, repassaria os recursos às cinco instituições integrantes do projeto. 

Conclusão-I:
Nunca a oportunidade de união entre as casas espíritas se fez tão presente como agora. Pois, não há como criar bons projetos - a custos baixos - sem união. E reforçando a necessidade de bons projetos, lembremo-nos do Gerente da área social da Petrobrás que, no ano de 2.005, disse que tinha mais de 300 milhões de reais para aplicar em projetos ambientais e sociais e a sua grande dificuldade era, pasme, leitor: “desovar este dinheiro” por falta de projetos consistentemente elaborados.

Conclusão-II:
Nunca a oportunidade da prática do ecumenismo se faz tão presente como agora. Pois, a abertura de ONGs regionais, que necessariamente não têm estrutura religiosa, fará com que as casas assistenciais das mais diversas religiões se unam para juntas criarem uma mesma ONG. O que significará menos custos para as instituições e, assim, poderão beneficiar-se dos recursos advindos da implantação da ISO 26.000.

Finalizando:
Portanto, união, unificação e ecumenismo são as palavras-chave desta Nova Era. Na questão 768, dO Livro dos Espíritos, Kardec esclarece: "(...) Nenhum homem dispõe de faculdades completas, é pela UNIÃO SOCIAL que eles se completam uns aos outros, para assegurarem o seu próprio bem-estar e progredirem". Este texto atualíssimo escrito em livro editado em 1857, traduz com clareza e lógica a importância e a necessidade de, para o nosso próprio bem, valorizarmos a UNIÃO SOCIAL.

Arregacemos as mangas, e abracemos com empenho esta oportunidade maravilhosa que a espiritualidade nos presenteou.


Obs.: Este artigo foi inicialmente elaborado baseado em deduções de Encontro Espírita ocorrido na cidade de Uruguaiana-RS, em 15 de abril/2006. Nesse encontro, onde estive presente como mediador, houve a participação de líderes de Centros Espíritas daquela região, bem como de representantes da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, do CRE - Coordenadoria Regional Espírita e das UMEs (União Municipal Espírita). A finalidade do evento foi o de encontrar caminhos para que o movimento espírita possa bem utilizar-se das oportunidades que a ISO 26.000 írá proporcionar às obras sociais em geral e, em particular, às instituições assistenciais espíritas.


Alkindar de Oliveira