Ufologia, Psicologia e Espiritismo
Como esta questão tem tomado o tempo e a atenção de muitos
estudiosos, sobretudo em decorrência das constantes notícias sobre seres
extraterrestres e seus misteriosos discos voadores, resolvemos fazer uma pequena
comparação da ufologia com a explicação psicológica para esse fenômeno e com o
princípio espírita básico que afirma a pluralidade dos mundos habitados. Vejamos
o resultado da pesquisa.
Ufologia - As iniciais U. F. O. em inglês resumem Unidentified Flying Object,
que em português significa OVNI - Objeto Voador Não Identificado, sendo certo
que o estudo desses objetos e seus enigmáticos ocupantes passou a ser conhecido
como Ufologia.1 Note-se que algo para ser considerado como OVNI deve ser um
objeto, que tem de ser voador, e, mais do que objeto voador, não pode ser
identificado com qualquer coisa conhecida na Terra, porquanto se faltar-lhe uma
ou mais dessas características ele poderá ser tudo, menos um objeto voador não
identificado.
Por outro lado, os ufólogos referem-se a três espécies de fenômenos, a saber: a)
os avistamentos, que ocorrem quando um ou vários indivíduos apenas avistam um
OVNI; b) os contatos, que podem ser mentais, verbais ou físicos com os
tripulantes do objeto, e, finalmente, c) as abduções, que são seqüestros
cometidos por seres extraterrestres, os quais podem constranger as pessoas a uma
simples visita ao interior de suas naves, ou a viagens a locais desconhecidos,
ou até mesmo a se submeterem a exames médicos e cirurgias para instalação de
monitores nos seus corpos.
Existem incontáveis referências históricas de avistamentos, contatos e abduções
ocorridos ao longo dos tempos, além de sinais deixados na Terra- por seres
extraterrestres e seus misteriosos aparelhos, que forneceram farto material para
livros, filmes, registros, documentários, depoimentos, versões e, naturalmente,
para muitas lendas e fraudes.
Entretanto, foi apenas em meados de 1947, quando o piloto Kenneth Arnold, de
Boise, Idaho, nos Estados Unidos, avistou nove objetos brilhantes, em forma de
pires, voando a 3 mil metros de altura a uma "velocidade incrível", que
realmente teve início aquilo que poderíamos chamar de urologia moderna. Desde
então é raro o mês em que a imprensa mundial não anuncia um avistamento, um
contato ou uma abdução inclusive no Brasil, onde o episódio mais importante
teria ocorrido em 1996 na cidade mineira de Varginha, quando seres espaciais
teriam sido capturados por militares e cujo destino atual é ignorado.
No caso específico da abdução, o jornalista Luis Pellegrini lembra que o
folclorista americano Eddie Bullard alinhou uma seqüência de oito episódios para
o seqüestro típico, a saber: " 1) o seqüestrado é capturado por meio de recursos
de tipo mágico; 2) ele é submetido a um exame médico do qual fazem parte
manipulações físicas e mentais aterrorizantes; 3) ele recebe do comandante da
nave cósmica uma comunicação, na qual o chefe lhe explica os objetivos da sua
viagem intersideral; 4) ele é convidado a visitar o disco voador, e
particularmente a sala das máquinas e o painel de comando; 5) ele efetua uma
'viagem dentro da viagem': visita um outro mundo, em geral um planeta distante,
mas também, em alguns casos, uma caverna ou um labirinto misteriosos; 6) ele
testemunha uma 'aparição', muitas vezes sem que seus raptores percebam isso; 7)
Os extraterrestres o liberam na natureza, ou o reconduzem ao carro ou à
residência onde o capturaram; 8) o seqüestrado, uma vez sobre a terra, sofre
diversas repercussões, tanto mentais quanto existenciais e fisiológicas, do seu
périplo cósmico; pode cair doente, descobre marcas no seu corpo, descobre que
pode curar seus semelhantes ou ler seus,. pensamentos; constata-se também, com
freqüência, uma reformulação paramística da sua personalidade." Diz ainda
Pellegrini que, "quanto à atividade central dos cirurgiões cósmicos, as
experiências e o recolhimento de amostras de material orgânico em cobaias
humanas, ela também constitui uma história-padrão que foi descrita - construída
pelo estudioso americano David Jacobs. Depois de conduzir a cobaia a bordo da
nave, os extraterrestres a preparam para a experiência; primeiro a submetem a um
exame externo, depois a exames internos que requerem uma tecnologia sofisticada.
Em seguida, passam a estudar suas funções gerais, sua neurofisiologia, e
concluem com manipulações mentais. Os experimentadores introduzem implantes nos
corpos de suas cobaias, que permitem agir sobre o psiquismo dos seqüestrados e
rastrear permanentemente os seus pensamentos." Bertrand Méheust, professor de
filosofia francês e também citado por Luis Pellegrini, mostrou grande interesse
"pelo exame dos muitos relatos de rapto (abdução) de pessoas por tripulantes de
discos voadores. Ele observa que, desde o início do século, muitos autores de
ficção científica ocuparam-se do tema dos raptos extraterrestres. A partir do
testemunho bombástico de Betty e Barney Hill, casal norte-americano que declarou
ter sido raptado por um disco voador em 1961, uma verdadeira onda de relatos
semelhantes passaram a ocorrer. Hoje, testemunhos desses seqüestros contam-se
aos milhares.
"Méheust observa que os relatos das décadas de 60 e 70 eram bem diferenciados e
denotavam grande pujança de imaginação criativa por parte de seus autores. Mas,
a partir do início dos anos 80, esses relatos se organizam, tomam-se mais
precisos, e se conformam cada vez mais a modelos bem definidos. Isso se deve,
segundo o estudioso, à melhor organização daquilo que ele chama de 'meio
associado' (trabalho dos pesquisadores ufólogos, edição de revistas e livros
especializados, divulgação de massa através da mídia).
'Todos esses promotores de modelos padrões de seqüestros colaboram para a
organização e o desdobramento da nova mitologia. Investigadores e ao mesmo tempo
teóricos do assunto, eles atuam sobre os alegados seqüestradores que hipnotizam;
selecionam, dos depoimentos que obtêm dos hipnotizados, as informações que
confirmam os seus pressupostos; e contribuem dessa forma, sem que o percebam,
para criar e promover a ordem que eles acreditam descobrir.' Atribuindo o
fenômeno ao imaginário, Méheust diz que dele 'devesse conservar dois traços
fundamentais. O primeiro é o caráter estereotipado dos procedimentos adotados
pelos visitantes cósmicos. O segundo traço concentre ao sentido que se depreende
desses estranhos relatos.
Com freqüência, durante os raptos, os seqüestradores revelam suas intenções.
Elas variam quanto aos detalhes, mas giram ao redor de um tema lancinante: o
esgotamento da vida.
Sua vitalidade está em baixa, não conseguem mais se reproduzir o seu sol vai
morrer, e eles vêm até nós para absorver nossas emoções, para recolher material
orgânico e genético, tanto dos humanos quanto dos animais.
Eles necessitam, de algum modo, apoiar-se à vida humana para não desaparecer."2
Seja realidade ou mero produto da imaginação, nenhuma pessoa medianamente
informada pode ignorar o enorme volume de informações sobre discos voadores e
seus misteriosos tripulantes. O fenômeno ufológico tem sido objeto de abordagens
muito divcrsificada3, não escapando nem mesmo a teoria psicológica, que veremos
em seguida.
Explicações psicológicas - No excelente trabalho já referido, de autoria de Luis
Pellegrini, notório conhecedor da matéria que ora na ocupar tempo, lemos que,
diante "desse quadro de quase totais incertezas que caracteriza o mundo dos
discos voadores, formou-se também uma outra corrente, pouco ou nada preocupada
com a realidade objetiva do fenômeno ufológico, e sim interessada no aspecto
subjetivo da questão. Ou seja, pessoas que se preocupam em saber o que os UFOS
significam para nós, humanos do atual momento histórico, e qual a importância
psicológica individual e coletiva que esse mistério representa.
Um dos grandes precursores dessa abordagem foi o psicólogo Carl Gustav Jung.
Embora declaradamente cético a respeito dos UFOS, Jung não conseguiu ficar
isento ao seu fascínio. Ele logo percebeu que muitos, em todo o mundo,
acreditavam em discos voadores e, mais que isso, desejavam que eles fossem
reais. Essa constatação foi o ponto de partida de um importante livro de sua
autoria, Discos voadores, um mito moderno de coisas vistas no céu. Focalizado
não na realidade ou irrealidade objetivas dos UFOS, mas no seu aspecto psíquico,
Jung os entendia como 'boatos visionários', como um mito em formação, o centro
de um culto quase religioso, como portadores de fantasias tecnológicas e
redentoras, como projeções de conteúdos da psique inconsciente, como símbolos do
Self ou da totalidade psíquica." Em seguida, Pellegrini afirma que no referido
livro Jung "desenvolve uma análise psicológica do fenômeno dos discos voadores e
analisa a dimensão simbólica desses 'signos do céu'. Para ele, numa civilização
de alta tecnologia, o espaço celeste tornou-se objeto de novas expectativas.
A embriaguez suscitada pela conquista espacial pode exaltar a imaginação até u
puniu em que ela considera as viagens interplanetárias como uma realização
possível. Mas o desejo atribuído aos extraterrestres de nos visitar já se
encaixara no quadro de uma conjectura mitológica derivada de uma projeção do
inconsciente. Um mito vivo se constituiu, segundo Jung, a partir de uma situação
de aflição psicológica, e é essa aflição que lhe serve de substância nutritiva.
O mundo moderno faz pesar sobre os espíritos uma angústia coletiva que _ se
projeta em direção aos céus sob a forma de corpos circulares luminosos. A partir
daí, a análise junguiana reconhece nessas aparições uma analogia com o símbolo
ancestral e universal da totalidade psíquica: a mandala, motivo budista e
hinduísta do círculo mágico. Este arquétipo, saído do inconsciente coletivo, é
dotado de um significado numinoso: ele se traduz a aspiração a uma plenitude e a
um desabrochamento total das nossas possibilidades. Como diz Jung, a linguagem
do inconsciente segue 'uma trama instintiva e arcaica que, devido a seu caráter
mítico, não pode mais ser discernida e reconhecida pela razão.' Assim, os discos
voadores representaram, sob uma forma adaptada ao imaginário moderno, conteúdos
latentes do psiquismo. Não integrados pelo consciente e carregados de
afetividade, esses conteúdos aparecem como fatos dotados de uma realidade
física: 'a mandala e sua totalidade redonda torna-se um engenho interplanetário,
pilotado por seres inteligentes.' interessante observar que as abduções
(seqüestros) configuram, tanto para a psicologia como para a antropologia, o
fenômeno ufológico fundamental, porquanto tais disciplinas jamais tiveram o
ensejo de acompanhar o desenvolvimento de uma mitologia.
Um aspecto dessa problemática que tem causado perplexidade entre os psicólogos é
o fato incontestável de que a maio1-ia absoluta dos abduzidos (seqüestrados) não
possuem características próprias da psicopatologia e são pessoas honestas, dando
verossimilhança aos relatos dos seqüestros de que foram vítimas".
Pellegrini termina sua matéria dizendo que estudiosos como Méheust concluem que
"os relatos dos seqüestrados encenam, como para a conjurar, a deterioração das
relações humanas. O extraterrestre dos discos voadores é o inquietante homem do
amanhã, tal como tememos que ele se torne: um monstro de frieza, de indiferença,
robotizado, efetuando com método imperturbável as tarefas para as quais foi
programado." Será isto mesmo? Ou esses enigmáticos seres extraterrestres e suas
naves cósmicas seriam a prova evidente de que não estamos a sós no Universo, de
que de fato existe vida inteligente fora da Terra?
Vamos analisar o tema à luz do Espiritismo.
Pluralidade dos mundos habitados - Este é um dos princípios básicos da Doutrina
Espírita 3, de acordo com o qual nada confere à Terra o privilégio de ser a
única residência de seres racionais e inteligentes, porque é um pequeno globo
quase imperceptível na imensidão do Universo.
Com efeito, o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em
inteligência, em bondade e em perfeição. Entretanto, há homens que se têm por
espíritos muito fortes e que imaginam pertencer a este pequenino globo o
privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade!
Julgam que Deus criou o Universo só para eles !
Na realidade, Deus sabiamente povoou de seres vivos a pluralidade dos mundos,
concorrendo todos eles para o objetivo final da Providência.
Acreditar que só os haja no planeta que habitamos fora duvidar da sabedoria de
Deus, que não fez coisa alguma inútil. Certo, a esses mundos há de ele ter dado
uma destinação mais será do que a de nos recrearem a vista. Aliás, nada há, nem
na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa
induzir à suposição de que ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão
de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes.
Resta saber as condições gerais dos habitantes desses mundos. Será que eles têm
as mesmas características do homem terreno? Existirão homens e mulheres com
corpos semelhantes aos nossos? Pelo que nos foi dado saber, eles são seres
apropriados à constituição física de cada globo; entre os habitantes desses
orbes uns são mais, outros menos adiantados do que nós, do ponto de vista
intelectual, moral e mesmo físico. Ademais, sabemos que é possível entrar em
relação com eles e obter esclarecimentos sobre seu estado; sabemos ainda que não
só todos os globos são habitados por seres corpóreos, mas que o espaço é povoado
por seres inteligentes, invisíveis para nós, por causa do véu material lançado
sobre nossa alma e que revelam sua existência por meios ocultos ou patentes.
Estas informações foram dadas pelos Espíritos e estão perfeitamente de acordo
com o relato dos ufólogos, que atestam as diversas condições físicas, morais e
intelectuais dos possíveis seres extraterrestres que mantiveram contatos com
pessoas humanas. Consta que alguns deles, menos adiantados, têm onze sentidos, e
outros, mais desenvolvidos, trabalham com até dezesseis sentidos, enquanto que
os habitantes da Terra possuem apenas cinco sentidos (visão, audição, paladar,
tato e olfato). Vemos, portanto, muita semelhança entre as comunicações dos
Espíritos e as pesquisas ufológicas sérias.
Conclusões - Diante do exposto, podemos concluir que:
I - inúmeros depoimentos, fotografias e filmes atestam que seres estranhos e
objetos voadores foram vistos em diversos pontos do planeta Terra, sem que
pudessem ter sido identificados com pessoas ou objetos conhecidos;
II - as explicações psicológicas que foram dadas para os avistamentos, contatos
e abduções (seqüestros) são insuficientes para explicá-los, até porque
praticamente todos os indivíduos que afirmam ter avistado, mantido contatos ou
foram abduzidos (seqüestrados) por tais seres estranhos e seus objetos voadores
não identificados, que inclusive foram registrados em fotos e filmes, são
pessoas sérias, idôneas, honestas e sem nenhuma característica psicopatológica;
III - esses depoimentos, foto grafias e filmes podem confirmar o princípio
espírita que sustenta a existência de vida inteligente fora da Terra;
IV - pelo menos alguns desses possíveis seres extraterrestres têm traços
humanóides, mas muito diferentes daqueles que são próprios do homem terreno;
V - os objetos que não teriam sido identificados, de no mi na do s OVNIS -
Objetos Voadores Não Identificados, podem pertencer a seres extraterrestres, os
quais, oriundos de outras dimensões, ingressam na Terceira Dimensão própria dos
homens que habitam o plano físico do planeta Terra, razão pela qual não são
detectados pelos radares e censores, salvo quando o avistamento interessa aos
tripulantes das naves desconhecidas;
VI - a vida em outros mundos é inerente às suas próprias condições, que podem
ser invisíveis aos olhos e aparelhos humanos, porquanto estariam dentro de
dimensões ainda inacessíveis ao homem da Terra."
1 A Ufologia ainda não foi oficialmente reconhecida como ciência, pois embora
tenha um objeto de estudo definida, ainda não elegeu o seu método científico
próprio, condição inafastável para que uma disciplina seja aceita como ciência.
Eliseu da Mota Jr