Ela Pensou nos Outros
Sim, a preocupação primeira foi com as outras pessoas, antes de si. Usou o próprio tempo, os próprios talentos e habilidades, o emprego das próprias forças, sua inteligência e os recursos disponíveis para dedicar-se às intenções generosas que alimentavam seu coração, em benefício de outras pessoas.
Uma intenção verdadeiramente pura, sem interesse pessoal, moveu suas ações. Desprovida de bens materiais, consolou-se diante da impossibilidade de fazer tudo quanto gostaria. Mas a satisfação que sentiu podendo auxiliar garantiu-lhe ímpar felicidade. Na verdade, limitou-se ao alcance de suas possibilidades, que não eram poucas. Sim, porque movida pelo desejo de ser útil, encontrou mil maneiras de ser ou estar presente, pois que as procurou e verdadeiramente encontrou. Afinal compreendeu com facilidade que não há ninguém que não possa ser útil de alguma forma, de prestar um serviço, de dar um conselho ou uma consolação, de oferecer um recurso, seja com seu tempo, seu trabalho, até mesmo o tempo de seu repouso ou usando suas forças e inteligência.
É interessante porque quantos de nós não nos lamentamos de nada poder fazer porque nos faltam recursos. Mas quando se fala em algo fazer, isso não envolve necessariamente recursos materiais. Como ela, podemos perceber que há os recursos do tempo, da inteligência, das habilidades, de providências simples que muitas vezes não envolvem dinheiro.
Muitas vezes a simples disposição, a boa vontade, o bom ânimo e mesmo o bom humor são capazes de remover obstáculos imensos, antes considerados intransponíveis.
Ela faz a diferença, porque pensa antes nos outros.
Afinal ela é paciente, é doce e benfazeja. Também não é invejosa, não temerária e nem precipitada. Não se enche de orgulho e também não é desdenhosa. E mais surpreendente: não procura seus próprios interesses, não se melindra e não se irrita com nada, pois que simplesmente compreende. Também não suspeita mal, não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade, tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.
Sim, o leitor já descobriu. Até Renato Russo foi inspirado por ela e compôs bonita música que lhe destaca as virtudes.
Ela, sim, somente ela, a caridade. Ela, aquela que extrapola a esmola e se estende principalmente nos relacionamentos, sempre pensa no bem estar alheio, tudo faz para que os outros se sintam bem, ainda que com o próprio sacrifício. É que a verdadeira caridade pensa nos outros antes de pensar em si. Jesus bem a retratou no Óbolo da Viúva e Paulo de Tarso a estampou dizendo que se não tivermos caridade, nada seremos, ainda que tudo tenhamos.
Somente quando percebermos o bem que ela pode distribuir seremos mais felizes. Afinal, não é nossa posição social, nem tampouco nosso título, nome, idade, sexo, patrimônio, cargo ou religião que nos garante serenidade e paz, mas sim a caridade que colocarmos nos pensamentos e nas ações de cada dia. É ela que garante o bem estar individual e coletivo e igualmente traz a tranqüilidade e a paz para a vida em sociedade. Ela é capaz de remover as misérias sociais, aproximar pessoas, desenvolver o amor e finalmente aproximar-nos uns dos outros por meio da tolerância e da fraternidade, valores tão esquecidos nos dias atuais.
Usemo-la sem medo. Não há qualquer contraindicação, nem efeitos colaterais ou custos financeiros.
Orson Carrara