Complemento

À vista de minha opinião despretensiosa, com referência aos médiuns, declara você que estamos insinuando a criação de uma casa sacerdotal, dentro do Espiritismo livre.

Admitindo a necessidade de educação dos intermediários entre este mundo e o outro, estaríamos preconizando o seminário e a academia para a formação de teólogos e doutores em ciências mediúnicas.

Acredite, porém, meu amigo, que não foi este o nosso propósito.

Não sabemos se vocês guardam a intenção de instalar escolas de médiuns e nem arriscaríamos qualquer palpite que inclinasse trabalhadores do bem a disputas infrutíferas, quando não ruinosas e detestáveis.

Achamo-nos todos, vocês e nós, num vasto serviço de experimentação para consolidar o sistema de intercâmbio, entre duas esferas, mas, em verdade, a organização de quaisquer serviços terrestres, embora controlados e inspirados pelas Determinações Superiores, é sempre do homem.

O que fizemos do Cristianismo Redentor de Jesus já sabemos – capelinhas de separação e crítica por toda parte, nos setores religiosos, atrasando a vitória da fraternidade legítima, entre as criaturas. Entretanto ignoramos totalmente o que vocês esperam fazer da mediunidade.

Desejávamos apenas dizer, em escrevendo as páginas que lhe mereceram tão graves apreensões, que as faculdades psíquicas exigem esforço reiterado, trabalho digno, perseverança no bem, crescimento na sabedoria e aprimoramento na virtude, dentro do individualismo sadio e edificante.

Não acreditamos em possibilidades de acabamento do Reino Divino em massa. Isto seria derrogar o esforço próprio, base da sublimação de toda vida. Cremos em discípulos devotados ao serviço e aprovados pelo Mestre.

As universidades do mundo soltam milhares de médicos, anualmente; contudo, aparecem raros missionários da medicina.

Na tarefa do Evangelho santificador, a glória não prevalece num título provisório que honra a personalidade de fora para dentro e, sim, nos testemunhos com que o servo se faz amado e respeitado, de dentro para fora.

Que dizer de médiuns, detentores do ministério de curar, que odiassem doentes? Como interpretar os medianeiros, convidados aos comentários dos Livros Divinos, que fugissem ao alfabeto?

Sem espírito educado não há missão educativa.

A mediunidade é um “talento” magnífico de que o Supremo Doador pedirá contas em momento oportuno.

Enriquecer-se de qualidades intrínsecas para melhor servir aos administradores das bênçãos celestiais não será para todo médio comezinho dever?

Não nos reportamos aqui às faculdades dos companheiros entusiastas que relacionam dois sonhos sensacionais e duas visões proféticas, durante a vida inteira, para alicerçarem suas convicções de imortalidade da alma, em confortáveis poltronas depois do jantar. Referimo-nos aos cooperadores que descobriram a necessidade de trabalhar, constantemente, pela ascenção da própria alma e pelo progresso da coletividade em que respiram como quem sabe que o pão é alimento de todo o dia.

Jamais se deteve na palavra do Mestre quando nos diz que o Reino de Deus não viria com aparência exteriores e, sim, que deveria ser edificado dentro de nós?

Reconhecemos o valor da cooperação e não seria lícito subestimar a importância do serviço em grupo, na regeneração e aperfeiçoamento da Terra, mas não precisamos longa teoria para comprovar a necessidade do individualismo sublimado na obra redentora do Espiritismo.

Isto é curial em todos os ângulos da vida comum.

A imprensa, no avanço fundamental, não nos veio pela massa de copistas que nos vendiam manuscritos, desde muitos séculos, e sim por intermédio de Gutenberg que empenhou coração e cérebro no assunto. A navegação a vapor, na expressão máxima, não aparece pelo esforço conjunto dos marinheiros e maquinistas de todos os matizes e, sim, por Fúlton, que sonha a realização e a ela se aplica. A cura da hidrofobia não procede da comunidade dos médicos e sim dos estudos e sofrimentos de Pasteur. O milagre da luz elétrica não surge através da multidão de servidores das companhias de gás e sim pelo suor e pelas vigílias de Edison.

Suas observações fazem-me lembrar a antiga história do General que ordenou e do comando que não atendeu.

Se me não falha a memória, o subalterno anunciou-lhe motins e arruaças populares e o velho comandante, atacado de tosse renitente, lamuriou em francês: - “Ma sacré toux!”

O soldado distraído, porém, supôs que o chefe havia dito “Massacrez tout!” e saiu correndo, transmitindo aos companheiros a estranha ordem de matar-se a torto e a direito.

Se não encontrarmos médiuns, dispostos a se educarem e melhorarem, amando a tarefa que o Senhor lhes confiou, estejamos convictos de que os nossos trabalhos, em matéria de intercâmbio espiritual, acabarão realmente massacrados.


Irmão X