Brado de Fé

Descerra dentro dalma a fulgida janella
Da esperança a brilhar, fervorosa e tranqüilla,
E do escuro portal da Terra que te asyla
Contempla a immensidão que de luz se constella!

Plasma teu sonho, alem da mascara de argila
Que, da infância à velhice, a illusão te afivela...
Na miséria ou na glória, a carne por mais bella
É sempre a mesma flor que o sepulcro aniquila.

Inda mesmo que a dor te espreite qual panthera,
Eleva-te e perdoa, aprimora-te e espera
Para que a vida em ti não se ensombre ou desagrade.

E hoje, collado ao chão no mundo que te opprime,
Amanhã librarás, em ascensão sublime
Qual phalena de amor ao sol da Eternidade!...


(*) – Soneto psicografado em reunião pública do Centro Espírita Luiz Gonzaga, na cidade de Pedro Leopoldo, MG, a 19/7/1955, em ortografia antiga, isto é, da época em que viveu no plano terreno Francisca Júlia da Silva (1874-1920), considerada a maior poetisa parnasiana.


Francisca Júlia da Silva