Ternura Maternal

As paredes da casa em vão procuro,
Quero dizer adeus e não consigo...
Vejo apenas o vulto amargo e amigo
Da morte que me estende o manto escuro.

Choro a estirar-me, trêmulo, inseguro;
O leito ensaia a pedra do jazido...
Padeço, clamo e indago a sós comigo,
Qual pássaro que tomba contra um muro.

A névoa espessa enreda o corpo langue.
É o terrível crepúsculo de sangue
Que me tinge de sombra os olhos baços;

Mas surge alguém, no caos que me entontece,
É a minha mãe, que alonga as mãos em prece,
Doce estrela brilhando nos meus braços!...

Ave que torna, em chaga, ao brando ninho,
Ouço divina música na sala,
É a sua voz celeste que me embala,
Motes do lar que tornam de mansinho.

Ergo-me agora... O corpo é o pelourinho
De que me desvencilho por beijá-la...
“Mãe! Minha Mãe!,,,” – suspiro, erguendo a fala,
A soluçar de júbilo e carinho

Tomo-lhe os braços em que me acrisolo
E durmo novamente no seu colo
Para acordar no berço de outra vida.


Carlos Dias Fernandes