Em Todos Nós
Não podes negar que tiveste o espírito ferido, nos dias que se foram, em
situações desagradáveis, das quais te ficou na memória a figura de alguém por presença difícil. Daí não se infere que devas carregar no coração o retrato desse alguém conservado em vinagre.
Importa reconhecer que renovação e entendimento são cultiváveis no solo da alma,
como acontece a qualquer vegetal nobre que não prescinde da cuidadosa atenção do
agricultor.
Estabelecido esse princípio, podemos iniciar o trabalho da rearmonização,
imaginando que depois das situações desagradáveis, a que nos reportamos, é
provável tenhamos ficado na lembrança da criatura categorizada por nós, na
condição de presença difícil ainda. Desse reconhecimento, será justo partir para
a supressão definitiva do mal, afinando as cordas do sentimento pelo diapasão da
tolerância, a fim de que não venhamos a falhar na execução da parte que nos
compete, na orquestra da fraternidade humana, de que Jesus é para nós o
Dirigente Perfeito.
Nesse sentido, vale refletir na presença dela, o Senhor, em nosso campo íntimo.
De ensinamento a ensinamento e de bênção a bênção, sem percebemos o mecanismo de
semelhante metamorfose, o coração se nos transforma, se lhe aceitamos, em
verdade, a liderança e a tutela. Sombras de mágoas, preconceitos,
ressentimentos, pontos de vista e opiniões descabidas vão cedendo lugar, na
floresta de nossos pensamentos obscuros, a clareiras de luz que acabam por
mostrar-nos a infantilidade e a inconveniência das nossas atitudes menos
felizes, à frente do próximo.
Convençamo-nos de que o Cristo de Deus, que opera benditas renovações no templo
de nossa vida interior, realiza esse mesmo trabalho no âmago dos outros. Diante,
assim, de nossos adversários, sejam eles quais forem, indiscutivelmente não será
razoável adotar irresponsabilidade ou bajulação para com desequilíbrio ou
leviandade, sob o pretexto de se estabelecer a concórdia, mas conservemos
respeito e simpatia, orando por eles e abençoando-lhes a existência, na certeza
de que o Senhor está agindo no coração deles e operando em silêncio, nas
entranhas de nossa alma, renovando-nos e aprimorando-nos, de modo a que hoje,
aqui, amanhã, mais tarde ou mais além, venhamos a reunir-nos todos, na posição
de filhos de Deus, sem tisna de separatividade ou melindre, para trabalharmos,
integrados finalmente uns com os outros, na construção do Reino do Amor.
Emmanuel