Flora e Silverinha

Uma vez mais outra novela atingiu bons picos de audiência e movimentou as atenções do público habituado a acompanhar a dramaturgia pela TV. No final de 2008, esteve no auge o quase final de A Favorita, em exibição pela TV Globo, com conhecidos e renomados atores.

O desequilíbrio da personagem Flora, com sinais claros de loucura, e as carências de Silveirinha, apesar das adaptações próprias para uma novela, revelam bem o que acontece no cotidiano da vida humana: as angústias, o vazio interior e a ambição ditando comportamentos e desequilibrando a vida.

Note-se, por exemplo, o desejo de ser reconhecido – como ocorre com a personagem Flora – e as profundas carências emocionais de Silveirinha como uma das causas dos desequilíbrios que desencadeiam ao redor e com as pessoas de sua convivência.

É próprio do ser humano ser reconhecido, sentir-se importante. Mas quando se deixa iludir pelo desejo de impor, de dominar e permite que o egoísmo dite as normas, aí surge o ridículo e o mal que infelicita. Por outro lado, a indiferença sofrida, o abandono de ideais nobres e a ausência da vinculação com os nobres propósitos da vida também ocasionam sofrimentos e ilusões, como corre com o personagem Silveirinha.

As situações apresentadas pelos protagonistas da novela revelam um lado real das criaturas humanas: nossas carências – de variada ordem – como causas de desequilíbrios e sofrimentos.

Na verdade ninguém é mal. Somos todos potencialmente bons, pois que filhos de um Pai amoroso, bom e justo. Mas ainda não aprendemos a dominar e vencer as tendências inferiores, egoístas e que desequilibram a harmonia da vida. Essa luta interior, no entanto, é necessária, para adquirirmos o mérito do aprendizado que trará, inevitavelmente, o equilíbrio nos relacionamentos, inclusive conosco mesmo.

Há que se pensar que nos desequilibramos sempre que desejamos impor, dominar, quando desrespeitamos, quando esquecemos que o semelhante também tem aspirações, desejos, méritos, conquistas e, claro, também, dificuldades e carências.

Por que muitas vezes desprezamos? Por que muitas vezes permanecemos indiferentes com as necessidades alheias? Por que fazemos voz de comando com a consciência alheia? Por que tentamos corrigir os outros antes de corrigirmos a nós mesmos? Por que a ambição desmedida? Por que violentamos a liberdade alheia?
São questões que devemos responder a nós mesmos. É a única forma de avaliarmos o próprio comportamento e termos a coragem de mudar de rumo, face às nossas fraquezas e limitações, mas também de nossas imensas potencialidades.

O fato é que, como em outras produções de novelas, uma vez mais somos chamados a pensar sobre o próprio comportamento diante dos desafios cotidianos. Principalmente para avaliarmos em que grau anda nosso egoísmo...

Afinal, a vitoriosa receita já está conosco há bom tempo: Ama o próximo como a ti mesmo. E amar significa também respeitar comportamentos, opções e decisões. 
Amar a si próprio igualmente traz o compromisso da auto-estima, valorizando potencialidades próprias e desistindo do coitadinho de mim.

Não nos deixemos, pois, dominar por sentimentos que infelicitam. Optemos pelo equilíbrio e pela felicidade de seguir adiante, apesar das adversidades. Estas, enxerguemos pela ótica dos degraus do aprendizado.


Orson Carrara