Kardec Falou em Mundo Espiritual organizado? Sim ou Não?
A inesgotável fonte de consulta que é a Codificação Espírita permite-nos
descobrir pérolas escondidas ou não percebidas em seus textos. Foi o que
aconteceu no capítulo VI de A Gênese, especificamente nos itens 17 a 19, que recomendamos aos leitores.
Quando surgiu a produção assinada pelo Espírito André Luiz, ela causou impacto à primeira vista e aos poucos foi assimilada, compreendendo-se a naturalidade de suas afirmações e perfeita coerência com a Codificação de Allan Kardec. Embora persistam posicionamentos contrários, fruto natural da liberdade e estágios de entendimento, é importante que a pesquisa doutrinária continue nos esclarecendo sobre a incomparável contribuição da conhecida Série André Luiz.
Afinal, Kardec falou em mundo espiritual organizado? Sim ou não? Usamos tais
questionamentos como título da matéria, propositalmente, justamente para
incentivar a pesquisa na fonte original.
No referido capítulo de A Gênese, acima citado, podemos encontrar na edição da
FEB (32ª. edição, de 12/1998, tradução de Guillon Ribeiro):
a) No item 17: “(...) A matéria cósmica primitiva continha os elementos
materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que estadeiam suas
magnificências diante da eternidade. Ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a
primeira avó e, sobretudo, a eterna geratriz. Absolutamente não desapareceu essa
substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência, pois que
ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente recebe,
constituídos, os princípios dos mundos que apagam do livro eterno. A substância
etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos espaços interplanetários;
esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos rarefeito, nas regiões
imensas, opulentas de aglomerações de estrelas; mais ou menos condensado onde o
céu astral ainda não brilha; mais ou menos modificado por diversas combinações,
de acordo com as localidades da extensão, nada mais é do que a substância
primitiva onde residem as forças universais, donde a Natureza há tirado todas as
coisas. (...)”
b) No item 18: “(...) Toda criatura, mineral, vegetal, animal ou qualquer outra
– porquanto há muitos outros reinos naturais, de cuja existência nem sequer
suspeitais – sabe, em virtude desse princípio vital e universal, apropriar as
condições de sua existência e de sua duração. (...)”
c) No item 19: “(...) Até aqui, porém, temos guardado silêncio sobre o mundo
espiritual, que também faz parte da criação e cumpre seus destinos conforme as
augustas prescrições do Senhor (...)”.
Todos os destaques são de minha autoria. A partir deles e, considerando a
extensão dos itens transcritos, podemos raciocinar também em termos de mundo
espiritual. Por que não? Acrescente-se a importância do quesito substância
etérea, mais ou menos rarefeita, válido, sem dúvida alguma, para as construções
organizadas do mundo espiritual, tão bem descritas por André Luiz e outros
autores idôneos, como é o caso da inolvidável Yvonne do Amaral Pereira. E para
não ficarmos apenas na questão de estrutura organizada no mundo espiritual, o
quesito todos os universos tem extensão igualmente para as atuais pesquisas dos
chamados buracos negros.
Na reflexão sobre a expressão mais ou menos rarefeita, acima destacada, ou
ampliando com a questão 36 de O Livro dos Espíritos, cuja resposta indica:
“(...) o que parece vazio está ocupado por uma matéria que escapa aos teus
sentidos e instrumentos.” Ou ainda ao oportunismo da questão 181 da mesma obra,
em cuja resposta – válida para essas reflexões, claro, e extensiva aos
diferentes degraus evolutivos: “(...) Esse envoltório, porém, é mais ou menos
material, conforme o grau de pureza a que chegaram os Espíritos. É isso o que
assinala a diferença entre os mundos que temos de percorrer, porquanto muitas
moradas há na casa de nosso Pai, sendo, conseguintemente, de muitos graus essas
moradas. (...)”.
O destaque igualmente é nosso e a questão refere-se ao perispírito e também aos
diferentes tipos de corpos materiais – a depender do estágio evolutivo –
ampliando-se, pois a questão também para a estrutura espiritual organizada. O
assunto, inclusive, abre campo imenso na área de pesquisa das condições da
pluralidade de mundos habitados.
Em tudo isso não pode escapar ao nosso raciocínio a diversidade de gradações, ou
degraus, ou estágios, nesses extremos mais ou menos materiais, conforme
incessantemente indicam os espíritos. Isso indica claramente a necessidade ou
até a coerência de mundo espiritual organizado, a depender, é claro, dos
estágios de evolução dos espíritos, indicadores de condições mais ou menos
materiais em seus corpos espirituais, o que requisita organização estruturada do
mundo espiritual. Muito coerente, pois com as descrições psicografadas.
Por outro lado, é importante citar que quando Kardec pergunta na questão 22 de O
Livro dos Espíritos se o conceito de matéria é o que tem extensão e impressiona
os sentidos a resposta é: “(...) a matéria existe em estados que ignorais. Pode
ser tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo é
sempre matéria. Para vós, porém não o seria.”
E perguntamos, de que matéria é feito o mundo espiritual do qual nos fala André
Luiz?
E vale ressaltar que todo o capítulo VI de A Gênese, conforme indicação de
rodapé, do próprio Codificador, é textualmente extraído de uma série de
comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título
Estudos uranográficos e assinadas por Galileu, através do médium Camile
Falmmarion. E, aliás, o capítulo todo é de uma beleza transcendental, que
recomendamos aos leitores, não deixarem de ler.
Nota do autor: a indicação dos trechos transcritos é do amigo Américo Sucena, com elaboração textual desse autor.
Orson Carrara