Operantes e Contemplativos

Que tipo de reação interior promove o conhecimento espírita dentro do adepto espírita? Como nos comportamos com o conhecimento espírita que vamos adquirindo? Tornamo-nos espíritas operantes ou contemplativos?

Quem são esses espíritas classificados com os adjetivos que utilizamos no título da presente abordagem? Ouvimos essa classificação, atribuída pelo notável Deolindo Amorim* (1906-1984), em palestra proferida pelo querido amigo Raul Teixeira, cuja temática referia-se ao adepto espírita.

Conforme tão bem explanado por Raul, utilizando-se da classificação didática de Amorim, espíritas operantes são aqueles que, tendo adquirido o conhecimento espírita, procuram expandir, transformar em informação que auxilie outras criaturas, dando seqüência aos desdobramentos naturais trazidos pelo conteúdo doutrinário, para que novas luzes se espalhem em favor de outros companheiros de caminhada. Em síntese, são aqueles que, de posse da informação do Espiritismo, procuram multiplicá-la de forma didática, atraente e especialmente aplicada ao cotidiano das vidas humanas, para que mais e mais consciências se beneficiem da clareza e lucidez do pensamento espírita.

Essa atitude positiva, característica marcante de obreiros conscientes, na movimentação e multiplicação das idéias, não só através do verbo – mas principalmente pela ação do bem e pelo exemplo pessoal – é capaz de operar prodígios em favor da paz e do progresso coletivo.

Por outro lado, os espíritas contemplativos são aqueles que optam pela postura de acomodação, que apenas guardam o conhecimento, sem a ação correspondente esperada como fruto natural do dinamismo do próprio conteúdo doutrinário do Espiritismo. Conhecem, mas guardam para si. Descuidam-se do dever de espalhar o fruto de seus raciocínios, do entusiasmo próprio que poderiam impregnar o conteúdo de suas reflexões para que outras criaturas se beneficiem desse conhecimento.

Num instante tão grave e tão decisivo na história de nossas vidas já não podemos nos dar ao luxo de guardamos o conhecimento que vamos acumulando, deixando-o estagnado. Parece-nos que o dever primeiro que surge, após o esforço pessoal da melhora moral na aplicação pessoal do referido conhecimento, é o de espalhar, compartilhar, e especialmente utilizar mecanismos que o tornem acessível e compreensível ao maior número de criaturas, especialmente aquelas que se debatem nas agruras das angústias, do desespero, das dúvidas que massacram o coração. Tudo para que se levantem de suas agonias e possam prosseguir aprendendo e evoluindo...

Todo bem que fizermos, todo iniciativa que redunde em aprimoramento da qualidade de vida, será providência de importância para superação dos grandes desafios existenciais do ser humano e para melhora do planeta.

Deixemos, pois, os estágios de acomodação. Movimentemos nossas forças físicas e intelectuais para perceber ao nosso redor, que contribuição podemos oferecer com o conhecimento que já detemos, em favor de tantos que ainda o ignoram...

As possibilidades são inesgotáveis. Basta colocarmos nossa criatividade em ação. Como ensina a resposta à questão 969 de O Livro dos Espíritos – que se refere à atividade dos espíritos puros – a postura de contemplação é de uma felicidade estúpida e monótona; seria mais a do egoísta, uma vez que a existência seria de inutilidade. Embora a explicação refira-se aos espíritos puros, ela cabe igualmente a nós, os que ainda estamos a caminho. E já que buscamos combater o egoísmo que ainda persiste em nós, comecemos, pois, a sair da acomodação para movimentar forças. Pelo menos em gratidão às bênçãos do conhecimento que nos beneficia.


*Deolindo Amorim foi um grande didata a serviço do Espiritismo. De personalidade serena e afetuosa, lutou incessantemente contra a corrupção do pensamento doutrinário e pelo entendimento da obra de Kardec.


Orson Carrara