Alienação Mental
Enquanto o vício se nos reflete no corpo, os abusos da consciência se nos
estampam na alma, segundo a modalidade de nossos desregramentos.
É assim que atravessam as cinzas da morte, em perigoso desequilíbrio da mente, quantos se consagram no mundo à crueldade e à injustiça, furtando a segurança e a felicidade dos outros.
Fazedores de guerra que depravaram a confiança do povo com peçonhento apetite de sangue e ouro, legisladores despóticos que perverteram a autoridade, magnatas do comércio que segregaram o pão, agravando a penúria do próximo, profissionais do direito que buscaram torturar a verdade em proveito do crime, expoentes da usura que trancafiaram a riqueza coletiva necessária ao progresso, artistas que venderam a sensibilidade e a cultura, degradando os sentimentos da multidão, e
homens e mulheres que trocaram o templo do lar pelas aventuras da deserção,
acabando no suicídio ou na delinqüência, encarceram-se nos vórtices da loucura,
penetrando, depois, na vida espiritual como fantasmas de arrependimento e
remorso, arrastando consigo as telas horripilantes da culpa em que se lhes
agregam os pensamentos.
E a única terapêutica de semelhantes doentes é a volta aos berços de sombra em
que, através da reencarnação redentora, ressurgem no vaso físico – cela preciosa
de tratamento –, na condição de crianças-problema em dolorosas perturbações.
Todos vós, desse modo, que recebestes no lar anjos tristes, no eclipse da razão,
conchegai-os com paciência e ternura, porquanto são, quase sempre, laços
enfermos de nosso próprio passado, inteligências que decerto auxiliamos
irrefletidamente a perder e que, hoje, retornam à concha de nossos braços,
esmolando entendimento e carinho, para que se refaçam, na clausura da inibição e da idiotia, para a bênção da liberdade e para a glória da luz.
Emmanuel