Grande Flagelo

Matéria recente do jornal Folha de S. Paulo*, destacada com a palavra Violência, indica que no ano de 2000, segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, morreram 815 mil pessoas em suicídios, 520 mil em assassinatos e 310 mil em conflitos. Ficou claro no próprio título da matéria* que suicídio matou mais pessoas que homicídios e guerras, no ano em referência.
Destacamos aos leitores alguns trechos da citada matéria, em transcrições parciais:
1 – “O suicídio é a causa de morte violenta que mais mata no mundo, com um número de vítimas quase equivalente ao de guerras e homicídios somados, de acordo com estudo da Organização Mundial de Saúde (…)”
“(…) a OMS afirma que esse é um problema de saúde pública assim como a Aids e o cigarro (…).” As maiores taxas foram registradas em países do Báltico1, como a Lituânia e a Letônia. Há também incidência mais elevada em homens e idosos. (…) Na Europa, na Austrália e nos países do leste asiático a taxa de suicídios é cerca de duas vezes superior à de homicídios (…) No Brasil, ao contrário, o total de assassinatos é cerca de seis vezes maior do que o de suicídios.
“(…) As raízes da violência, de acordo com o estudo da OMS, se deve em grande parte ao baixo nível educacional e ao meio doméstico em que vive o indivíduo. (…)”
A Doutrina Espírita tem posição muito clara sobre a grave questão. Em O Livro dos Espíritos, as questões 943 a 957 abordam o assunto com muita propriedade, indicando os equívocos do ato de auto-extermínio e suas desastrosas conseqüências. Também em O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos capítulos V (item 14, 29 e 30) e XVIII (item 71), há farto material para reflexões. Porém é no livro O Céu e o Inferno (capítulos VI e VII da primeira parte e V da segunda parte) que poderemos encontrar ainda mais informações, acrescidas de depoimentos de espíritos que praticaram o suicídio e que, entrevistados em reuniões mediúnicas, puderam manifestar seu enorme desapontamento com a frustrada fuga de uma vida que não se extingue, ao mesmo tempo agravado pelo sofrimento moral, pelo remorso e pela necessidade de reparação perante a própria consciência.
Mas é ainda na Revista Espírita2 que Allan Kardec produz extraordinárias considerações sobre o tema. Com o título Estatística dos suicídios, de matéria publicada no Siècle (maio de 1862) que comentava sobre o avanço do número de suicídios no país, o Codificador aborda o tema com detalhes de muito interesse para os estudiosos do Espiritismo.
Fazendo uma análise sobre as causas dos suicídios, inclusive classificando-os didaticamente para efeito de estudo, lembra em determinado ponto: “(…) incontestavelmente, há frouxidão em falhar diante das provas da vida, mas há coragem em desafiar as dores e as angústias da morte; estes dois pontos nos parecem encerrar todo o problema do suicídio (…)” Porém esta aparente coragem diante das angústias da morte em contraste com frouxidão diante das provas leva-nos a analisar a questão sobre outro ponto de vista. Aqui continua o Codificador: “(…) O que é, pois, a vida humana com relação à eternidade, senão menos que um dia? Mas para aquele que não crê na eternidade, que crê que tudo acaba nele com a vida, e se é acabrunhado pelo desgosto e pelo infortúnio, não lhe vê o fim senão na morte; nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar seus sofrimentos pelo suicídio. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, em uma palavra, são os maiores excitantes ao suicídio: elas dão covardia moral. (…) A propagação das idéias materialistas é, pois, o veneno que inocula num grande número o pensamento do suicídio, e aqueles que se fazem disso os apóstolos, seguramente, têm sobre si uma terrível responsabilidade (…)”
Ora, é exatamente neste ponto que o Espiritismo vem em socorro ao saneamento das idéias. Além de confirmar e comprovar a realidade da sobrevivência da alma após a morte, a continuidade natural da vida, ele, o Espiritismo, além de trazer o depoimento dos próprios espíritos suicidas (como alerta e farto material para estudo e reflexão), também é força e coragem nas dificuldades pela perspectiva que abre ao raciocínio. Mostrando os objetivos da vida humana, as tribulações naturais se tornam tão efêmeras (pois que compreendidas como passageiras e necessárias) que o conhecimento e propagação das idéias espíritas torna-se verdadeiro benefício social. E isto diminui sensivelmente as causas de desgostos e em conseqüência a disposição ao auto-aniquilamento.
E na mesma Revista Espírita2 pondera o Codificador: “(…) a certeza de que, abreviando a vida, chega justamente a um resultado diferente daquele que espera alcançar; que se livra de um mal para tê-lo um pior, mais longo e mais terrível, que não reverá, no outro mundo, os objetos de sua afeição, que queria ir reencontrar; de onde a conseqüência de que o suicídio está contra os seus próprios interesses. (…)”
Considere-se ainda os atenuantes como as causas e circunstâncias; considere-se a misericórdia divina, sempre presente e a lei de ação e reação, bem como as oportunidades reencarnatórias que redimem a alma. Porém o importante nisto tudo é valorizar a popularização da idéia espírita, sempre estimuladora da perseverança, da resignação e especialmente consoladora nas aflições existenciais.
O fato é que o suicídio é grave flagelo social. No socorro a pessoas com disposição ao suicídio está potencial oportunidade de aclaramento das idéias com o esclarecimento trazido pela Doutrina Espírita. Abordar o assunto, vez por outra, trazendo os fundamentos e exemplos das fontes aqui referidas, surge como necessidade permanente. Seja através da oratória, da imprensa, do rádio ou TV. Há sempre aflições à nossa volta, mesmo que não o percebamos, e o conhecimento espírita é socorro providencial.


Orson Carrara