Condição Irrecusável
Através dos mundos, - infindáveis retortas do Laboratório de Deus, - as
encarnações sucessivas alimentam as gerações sucessivas.
Em razão disso, grande número de espíritos ressurgem na matéria densa de três em três ou de quatro em quatro gerações.
Ninguém se desvencilha do círculo das encarnações dolorosas, repentinamente.
Isso somente ocorre a pouco e pouco, esforço a esforço.
Depois da lenta evolução dos milênios, a Terra vive agora o “século do fato”, em que o raciocínio comanda a verificação de todos os sucessos. Desfazendo a miragem dos sofismas; época das mais belas florações do pensamento sublime e, ao mesmo tempo, das mais estranhas fecundações da animalidade instintiva por
apresentar as promessas do porvir e os detritos do passado, no dealbar de nova
aurora.
Descem os minutos semelhando grãos de areias na ampulheta do Espiritismo,
ampliando os conhecimento da Humanidade; os espíritos a se manifestarem, aqui e
ali, vão escrevendo a história de nossa própria responsabilidade ante as leis do
destino.
Já não podemos dormir o sono da ingenuidade.
Necessário aplicar discernimento em todas as manifestações, sem copiar a
instabilidade doudejante do cata-vento.
A matéria não pensa e, por outro lado, pensamentos esvoaçantes não conduzem a
quaisquer metas construtivas.
Registra-se a vida humana em regime de penhora. O corpo é a caução.
Se somos cristãos cujo figurino se adaptou às regras modernas, nem por isso
poderemos pautar nossos atos pelos códigos cediços da mora de aparências por
fora e de enganos por dentro.
Nosso coração deve viver em mil corações que nos rodeiam.
Assim, premia com o olhar de indulgência a quem te fere, recordando que
possuímos colegas de experiência terráquea a viverem, de berço ao túmulo, entre
o presídio e o hospital, até desaparecerem fazendo da ambulância o carro fúnebre
constantemente dilacerado pelas farpas de amargosos caminhos...
E estende o óbolo da atenção a quem te intercepte o passo, cultivando a
fraternidade espontânea, como quem sabe que amanhã não podes prescindir do
amparo desse ou daquele companheiro desconhecido.
Trabalhemos e trabalhemos...
Desistamos da peleja inglória de tentar, inutilmente, terçar armas contra os
jorros imponderáveis da luz...
Ação por ação, a tarefa mais nobre será sempre aquela que traz consigo a
produtividade no bem puro, pois todos somos credenciados a estender mãos amigas.
Quanto mais evoluída a alma, muito maior é o intervalo reencarnatório que
desfruta na Espiritualidade Superior, entre duas existências.
Se intentares, pois, desferir o vôo largo da redenção, não revivas o teu
“ontem”, mas sim vive o teu “hoje!”.
Abre sorrisos, verte lágrimas, lança idéias, cria palavras e espace ações, mas
utiliza todas essas possibilidades para servir, construindo monumentos de amor
ao próximo, enxugando o suor do povo na sublime oportunidade do presente,
porquanto somente existe essa condição, abençoada e irrecusável, para
diminuirmos os estágios de prova e de aflição no cenário terrestre.
Lameira de Andrade