Verdadeiro Caminhão de Lixo

O infeliz hábito dos palavrões, seja nos xingamentos, revoltas, reclamações ou acusações, assemelha-se a um caminhão de lixo que verte sua caçamba no interior do ambiente onde a invigilância comparece e nos permitimos dar vazão aos lamentáveis comportamentos de uma boca frouxa habituada à maledicência ou às palavras chulas.

Ora, tais cargas emocionais, de forte abalo nas estruturas psicológicas dos seres envolvidos, repercute no ambiente e atmosfera de uma família ou de um ambiente profissional, atingindo seus integrantes de forma a influir decisivamente no equilíbrio e nos desdobramentos naturais do cotidiano. Fixemo-nos, todavia, no ambiente familiar, foco da presente abordagem.

Citada carga de entulhos ou lixos emocionais abre as estruturas da proteção familiar, permitindo o ingresso de perturbações que se somam a outras tantas fontes de irritação e descargas de violência ou agressividade, que podem comprometer a vida, induzir a crimes e tragédias, sem falar dos prejuízos que se espalham em ondas pela vizinhança, ambientes outros, parentesco e relacionamentos dos envolvidos. Tudo por um simples momento de descuido no palavreado, na palavra ferina que desferimos ou na irritação que nos permitimos.

Essa invigilância vai ocupando a casa com topo tipo de vibrações deletérias, desde o sofrimento à maldade e até aos desequilíbrios próprios da insanidade humana, o que vai acentuar um aprofundamento dos problemas psíquicos de seus integrantes, tudo por causa dos hábitos descontrolados ou invigilantes de um único de seus membros...

Por isso, preservemos o ambiente familiar. Ao invés de críticas mútuas, ao invés de acusações, competições verbais, xingamentos ou palavrões, que passemos a aplicar a paciência e a tolerância, defesas imprescindíveis à paz doméstica.

Gritos, lamentações, revoltas a nada levam. Tais posturas apenas pioram tudo, pois que acentuam nossas já viciosas tendências humanas. A paz do lar inicia-se por pequenos momentos de tolerância e paciência, por exercícios diários de compreensão com as atitudes dos integrantes de uma moradia. É construção gradativa, cuja concretização exige o sacrifício do egoísmo peculiar que ainda nos caracteriza quando nos achamos o único com razão ou nos consideramos auto-suficientes, capazes e competentes o bastante para decidirmos sobre como cada um deve se comportar e gerir a própria vida... Mera ilusão, pois não somos máquinas nem dirigíveis por outros. Somos todos seres pensantes, diferentes uns dos outros. Muitos poderão até ser manipulados por um bom tempo, mas sempre surgirá o instante da luta pela própria liberdade.

Imagine, pois, o leitor, vários caminhões de entulho sendo despejados dentro de uma casa em vários momentos de um mesmo dia. É o caos. Pois é o que ocorre com nosso ambiente familiar quando nos permitimos as expressões chulas dos xingamentos, reclamações, palavrões, críticas, acusações, agressões verbais ou de competições, diretas ou indiretas e os infelizes comportamentos da maledicência.

Pelo nosso próprio bem, pelo menos, vigiemos as palavras. Mas também pelo bem dos filhos, pelo respeito mútuo que nos devemos uns aos outros, pelo bem do planeta... vigiemos as palavras.
Troquemos o caminhão de entulho pelo perfume da palavra carinhosa do estímulo, da paciência e da tolerância. Será melhor para todos...

Paremos para pensar, ao menos, que tipo de vibrações estamos destinando ao ambiente onde vivemos e para as pessoas que convivem conosco, nosso maior tesouro.


Nota do autor: baseado em reflexão constante do livro Despedindo-se da Terra, de Lúcius/André Luiz Andrade Ruiz.


Orson Carrara